O lado positivo do orgulho: a autovalidação

O orgulho tem uma má reputação. Nós o associamos ao narcisismo e à fanfarronice. No entanto, essa dimensão tem seu lado saudável, aquele que nos permite tomar consciência de nossas virtudes e valores para fortalecer a autoestima.
O lado positivo do orgulho: a autovalidação
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

O lado positivo do orgulho está relacionado a apreciar nosso valor e usá-lo a nosso favor. Além disso, com encontrar força em tempos difíceis. Todos nos orgulhamos de nosso parceiro, nossos filhos e amigos. Embora seja verdade que há quem desvirtue essa dimensão e caia no egoísmo frio, não é bom retirá-la completamente do nosso registro psicológico.

Não há problema em aproveitar a segurança que ela nos oferece para potencializar metas, motivação e até uma autoestima saudável. Não há nada de errado em apreciar suas próprias realizações e, assim, melhorar sua autoeficácia. Também é aconselhável ensinar uma criança a se sentir bem quando ela demonstra suas boas habilidades em matemática, por exemplo.

O importante é não cair na armadilha da arrogância e do desprezo pelos outros. Se essa criança se orgulha de seus dons intelectuais, a ponto de desprezar e ridicularizar seus pares, já ultrapassou a linha do que é ético e permissível. Mas se o educarmos no quadro do respeito e da humildade, os benefícios são indiscutíveis.

Passamos muito tempo entendendo o orgulho de uma perspectiva budista. A partir desse quadro, essa dimensão é concebida como uma doença, como uma entidade nociva que revela o que há de pior no ser humano. Quando, na realidade, estamos diante de um construto psicológico com dois aspectos que devemos conhecer.

Apreciar-se, valorizar-se e sentir orgulho das suas conquistas é um exercício de bem-estar inquestionável.

Amigos conversando no escritório sobre o lado positivo do orgulho
Ter orgulho de algo, não importa o que os outros pensem, traz grandes benefícios.

O lado positivo do orgulho: você o pratica?

Do que você está orgulhoso? Certamente de muitas coisas -ou pelo menos assim esperamos-. Porque nesta sociedade, muitas vezes tão crítica e desvalorizadora, é muito difícil desenvolver uma percepção positiva de si mesmo. Há aqueles que lutam constantemente com a síndrome do impostor. Muitos passam metade de suas vidas tentando descobrir no que são bons.

E grande parte da população, principalmente a mais jovem, convive com a baixa autoestima e até mesmo com o ódio ao próprio corpo. Temos dificuldade em amar a nós mesmos e até mesmo celebrar quem somos, porque muitas vezes somos lembrados de que mostrar orgulho é mostrar narcisismo. Quando, na realidade, nada é tão necessário quanto ter uma percepção positiva e saudável de nós mesmos.

Temos sido mal educados nesta área. Porque o lado positivo do orgulho é uma dimensão central do bem-estar psicológico. É assim que a psicóloga Jessica Tracy, da Universidade da Califórnia, Davis, nos explica, por exemplo. Seus estudos apoiam a ideia de que o orgulho é uma emoção humana básica com um propósito social.

Mostra-nos algo tão básico e necessário como tomar consciência de que somos alguém que merece ser respeitado, valorizado e levado em conta.

O orgulho é uma emoção que se expressa com um sorriso “feliz”, uma cabeça que se inclina para trás, um peito que incha e mãos que mostram relaxamento.

Diferenças entre o lado positivo do orgulho e o negativo

Já sabemos que a ciência psicológica definiu o orgulho como uma emoção. Agora, devemos entender que isso pode ser de valência positiva ou negativa. Ou seja, há quem a pratique e a expresse de forma genuína e saudável. Por outro lado, há aqueles que se dirigem para o lado mais jactancioso e claramente narcisista.

Vejamos agora como diferenciar uma esfera da outra:

  • O orgulho saudável tem a ver com autoconfiança, com aquela atitude motivadora que nos lembra que “podemos fazer alguma coisa”.
  • O orgulho está ligado à autoestima positiva quando tomamos consciência de que nossos esforços trazem conquistas. Em vez disso, a pessoa narcisista assume que tudo funciona para ela porque está em sua natureza. É algo inato.
  • A pessoa que faz uso do lado positivo do orgulho respeita os outros, se valoriza, mas não se percebe melhor do que ninguém. Ele não se gaba, não tira sarro de ninguém e não precisa cair no jogo da comparação social em nenhum momento.
  • A Dra. Jessica Tracy nos explicou em seu livro Take Pride (2016) que o orgulho saudável é autêntico. Ou seja, percebe-se como é e tem uma visão precisa e objetiva (não inflada) de suas virtudes. Também suas limitações.

O orgulho é uma emoção que deve ser guardada para não ficar excessivamente inflado. Às vezes, quando algo está indo muito bem para nós, podemos nos cegar e perder nosso bom senso e acabar prejudicando os outros.

Homem e mulher conversando ao ar livre sobre o lado positivo do orgulho
Sentir orgulho do nosso valor nos permite ganhar confiança para nos relacionarmos melhor.

Orgulho saudável é combinado com humildade e assertividade

Às vezes, há alguém que é especialmente bom em uma área da vida e seu ambiente o boicota. Por exemplo, um jovem pode ser um grande artista e sua família menospreza seu dom porque espera que ele oriente seus estudos para direito ou economia. Por fim, acaba duvidando de sua habilidade na arte e concorda em iniciar alguns estudos que não o satisfazem.

O orgulho é aquela bússola que nos lembra que somos dignos do que queremos. Ela nos orienta a tomar melhores decisões e a sermos assertivos na hora de defender o que acreditamos ser justo ou bom para nós, além do que o ambiente ou a opinião alheia dita. Esse menino precisa de uma dose maior de orgulho para continuar na carreira artística, naquilo que o faz feliz.

Da mesma forma, e não menos importante, devemos lembrar que o lado positivo do orgulho tem um aliado, que é a humildade. Porque uma coisa não está em desacordo com a outra. Afinal, quem entende a necessidade de valorização e avaliação positiva de si mesmo, não hesita em oferecê-la aos outros. Todos nós merecemos alcançar o que queremos e sentir orgulho de quem somos e do que conquistamos.


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  • Tracy, Jessica & Robins, Richard. (2007). The psychological structure of pride: A tale of two facets. Journal of personality and social psychology. 92. 506-25. 10.1037/0022-3514.92.3.506.

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