O que acontece se você se apaixonar pelo seu psicoterapeuta?
O que é se apaixonar? Apaixonar-se é um fenômeno tão natural quanto complexo. Poderíamos defini-lo como um estado de libertação, mas também de liberdade diminuída, enquanto a nossa liberdade parece sequestrada.
É uma experiência íntima e subjetiva de criar um novo universo compartilhado. Estando apaixonados, acreditamos que despertamos para a vida novamente, e a vivenciamos de uma forma diferente: mais bela e mais perfeita para existir e fazer parte dela. Nós nos apaixonamos pelas pessoas que despertam essa emoção em nossas almas, mas o que acontece se você se apaixonar pelo seu psicoterapeuta?
Apaixonar-se é um fenômeno emocional e psicológico; muito específico, muito humano. Quando nos apaixonamos, percebemos tanto nós mesmos quanto a pessoa por quem estamos apaixonados de uma maneira especial.
Se apaixonar pelo seu psicoterapeuta
Apaixonar-se é um estado que podemos vivenciar a qualquer momento de nossas vidas. Acontece de forma imprevisível e é incontrolável. Como o apaixonado vive sua experiência íntima com seu terapeuta?
- Ambas as experiências sensoriais e físicas são intensificadas. Nossa percepção se expande. Tudo é percebido transfigurado: sons, cheiros, cores… Tudo se torna mais intenso.
- A experiência é extasiante. O comum e o cotidiano de nossas vidas se transformam em diferentes e extraordinários.
- Você já pensou no que fazar se o seu psicoterapeuta “lhe der um sim” ? Você está projetando no futuro e isso é normal. Estar apaixonado é um impulso e um motor para o futuro. O futuro é desejado. Você quer um futuro com ele ou ela. Estar apaixonado é o ponto de partida para o amanhã de ilusão e projetos vitais juntos.
- Estar apaixonado produz desejo e coloca o desejo no centro daquilo pelo qual nos apaixonamos.
“Esse desejo de fusão interpessoal é o impulso mais poderoso que existe no homem. Constitui sua paixão mais fundamental, a força que sustenta a raça humana.”
-Fromm-
O que pode acontecer?
Apaixonar-se no processo psicoterapêutico está longe de ser trivial. A relação terapêutica é de intimidade, aceitação e confiança. Um ser humano vem à terapia porque pretende ser cuidado e curado. Apaixonar-se pelo terapeuta é algo que pode acontecer porque há uma série de condições que o facilitam: a situação, os encontros regulares, a sala ou ambiente privado, a intimidade da conversa.
Ouvir quem está à nossa frente e que ele se interesse pelo seu bem-estar é uma experiência tão especial que pode fazer cair o véu do amor e modificar o vínculo. Além disso, cabe esclarecer que apaixonar-se pelo psicoterapeuta pode ser tão frequente quanto apaixonar-se por um amigo, colega de trabalho ou vizinho.
“Pensei que esta é precisamente a razão pela qual os terapeutas não devem envolver-se emocionalmente com os seus pacientes. Em virtude do seu papel privilegiado, pelo seu acesso a sentimentos profundos e informações secretas. As suas reações assumem sempre um significado exagerado. É quase impossível para o paciente ver o terapeuta como ele realmente é.
-Yalom-
Apaixonar-se pelo psicoterapeuta é algo que o próprio terapeuta tem que saber trabalhar. Ou seja, o terapeuta tem que assumir a responsabilidade e analisar aspectos como “quanto”, “o quê”, “como” eles favoreceram ou potencializaram a paixão do paciente por eles. O que isso gerou? Que necessidade está por trás? É um padrão de comportamento repetido? Essas são algumas das questões que precisarão ser abordadas na relação terapêutica.
Também é recomendado aumentar a atenção aos pequenos detalhes. Porque é através deles que o terapeuta consegue perceber os primeiros sinais. Alguns psicoterapeutas podem ficar “surpresos” após o depoimento do paciente. Um exemplo real de um psicoterapeuta é este:
“Quando vi o que aconteceu comigo, percebi que era ameaçador para mim enfrentar a situação, de alguma forma não queria aceitar que era óbvio.”
-Bordes-
Além disso, se essa situação atrapalhar a relação terapêutica e prejudicar o paciente, será necessário trabalhar a renúncia à relação terapêutica, encaminhando o caso para outro profissional. É essencial ter isso em mente quando nos sentimos desconfortáveis, mas também quando nos sentimos correspondidos. Porque o que facilmente pode acontecer é que o interesse pelo outro seja maior do que o trabalho objetivamente terapêutico.
Para concluir o artigo, queremos colocar outra citação em primeira pessoa de um terapeuta:
“Chegou um momento em que a pessoa se interessava mais em chamar minha atenção do que ser ela mesma. Senti que ela havia perdido toda a objetividade em seu próprio crescimento. Foi uma perda de tempo mútua do meu ponto de vista.”
-Bordes-
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