O que nos faz confiar nos outros?

Confiar é dar ao outro a oportunidade de nos machucar, prejudicar ou decepcionar, mas também de ajudar e acompanhar. Agora, quais são os obstáculos e motivações mais comuns para dar esse salto de fé?
O que nos faz confiar nos outros?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Se observarmos o número de pessoas que têm dificuldade em confiar nos outros, podemos ver facilmente que confiar envolve riscos. Significa abrir mão da segurança, correr o risco de que o outro nos traia e nos faça muito mal. Então, o que nos faz confiar nos outros? O que nos leva a dar esse salto de fé?

Nesta dimensão, encontramos diferenças individuais muito importantes: algumas pessoas confiam mais rápido, em comparação com outras que precisam de tempo e de uma longa lista de testes para depositar essa mesma confiança. Existem aqueles que, em primeiro lugar, sempre esperam o melhor dos outros, em comparação com aqueles que esperam, quase à revelia, que sejam traídos. Mas será que isso é apenas uma questão de personalidade?

O que nos faz confiar nos outros?

Mulher sorrindo ao entardecer

Nossa natureza

Os humanos são seres sociais e, como tal, precisam de interação social. Estabelecer relacionamentos significativos com outras pessoas é benéfico para a nossa saúde, e o sentimento de pertencimento é uma de nossas necessidades básicas. No entanto, além disso, a socialização é gratificante para nós e influencia positivamente a nossa autoestima e bem-estar.

Assim, quando se trata de estreitar laços e dar lugar à intimidade, a confiança no outro é um ingrediente essencial. Não seria possível manter laços de qualquer tipo com outras pessoas sem um mínimo grau de confiança. Assim, a nossa natureza social é uma das nossas primeiras motivações para confiar.

As aprendizagens anteriores

Por outro lado, a capacidade de confiar no outro é, em grande medida, aprendida. É condicionada pelas nossas experiências nos primeiros meses de vida, pela forma como as pessoas à nossa volta nos ensinaram a nos relacionarmos com os outros a partir da relação que estabelecemos com eles. Estamos falando sobre a qualidade dos primeiros vínculos de apego.

Se estes vínculos tiverem atendido às nossas necessidades de forma adequada, consistente e coerente, uma base de confiança para com o mundo seria criada em nós. Pelo contrário, se a atenção e cuidado que recebemos tiverem sido imprevisíveis e inconsistentes, é provável que tenhamos dificuldade para confiar nos outros.

Além disso, todas as nossas experiências posteriores terão ajudado a reafirmar ou moldar essa tendência inicial. Nossas experiências em todos os relacionamentos significativos que tivemos contribuem para aumentar ou minar a nossa capacidade de confiar.

O tempo

Sem dúvida, um dos fatores que mais influenciam a confiança que depositamos nos outros é o tempo. Quando acabamos de conhecer uma pessoa, não podemos confiar plenamente nela, pois ainda não conhecemos seus valores e atitudes. Com o tempo, poderemos verificar que tipo de pessoa ela é e como se comporta. A partir disso, aumentaremos o nosso grau de confiança nela.

Isso acontece até mesmo em relacionamentos sem qualquer componente emocional. Vamos pensar, por exemplo, que acabamos de entrar em um novo emprego. O mais lógico e esperado será que, inicialmente, a confiança depositada em nós seja reduzida. À medida que demonstrarmos as nossas capacidades, receberemos responsabilidades maiores.

Da mesma forma, se analisarmos a situação, descobriremos que as pessoas em quem mais confiamos são aquelas com quem compartilhamos uma longa história. Ao longo do tempo, elas demonstraram estabilidade em seus comportamentos e atitudes e contribuíram para a continuidade do relacionamento.

A reputação

Finalmente, vamos sempre lembrar que as nossas ações falam por nós. Portanto, a reputação de uma pessoa será essencial na decisão de confiar ou não. Quando lidamos com alguém que não conhecemos, sua reputação (o que ouvimos sobre ela) nos predispõe a sermos mais abertos ou cautelosos.

Com o passar do tempo, aqueles fatos anteriores que conhecíamos um do outro vão perdendo valor em relação à qualidade das experiências que pudemos compartilhar. A confiança é conquistada por meio das ações, e é o comportamento do outro que nos anima a considerá-lo digno ou não.

Amigos unidos

Ajustar a nossa predisposição para confiar nos outros

Em última análise, a confiança é uma questão de quem a concede e de quem a recebe. Não há dúvidas de que a maioria de nós precisa conhecer mais ou menos o outro para confiar nele. No entanto, existem muitas pessoas cujas traições passadas as impedem de estabelecer laços mais fortes.

Se for esse o seu caso e você se sentir mal, pode sempre contar com um especialista para ajudá-lo a avaliar a situação. Essa avaliação e o seu plano de intervenção irão ajudá-lo a encontrar uma dinâmica de troca de confiança que permite a intimidade e lhe fará se sentir melhor.


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  • Luhmann, N. (2005). Confianza (Vol. 23). Anthropos Editorial.
  • Gallardo, R. Y., Figueroa, L. A., & Solar, F. C. (2006). Confianza y desconfianza: dos factores necesarios para el desarrollo de la confianza social. Universitas Psychologica5(1), 9-20.

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