O tempo não cura todas as feridas
Há dores tão profundas que rasgam a alma. É como se tivéssemos caído em um abismo profundo com uma saída escondida. Nesse contexto, o que muitas vezes nos dizem é que o tempo cura todas as feridas, mas na verdade nem sempre é assim.
A vida tem altos e baixos, e cada um, na sua singularidade, os assume de uma forma diferente. A verdade é que, às vezes, é difícil superarmos situações difíceis porque o mar de emoções nos supera. Então não sabemos por onde começar.
E, uma forma que nos ensinam para assumir os problemas é que o tempo cura tudo. Mas nem sempre isso é verdade. Por isso, através deste post vamos te mostrar várias razões.
“Há feridas que ao invés de abrir nossa pele, abrem nossos olhos.”
-Pablo Neruda-
O tempo não cura todas as feridas, ele as esconde
Depois de uma ferida dolorosa, costumamos dizer que “o tempo a curou”. Agora nos perguntamos, foi realmente assim? Quando deixamos o relógio avançar, mantendo uma atitude passiva, é difícil curar feridas profundas. Em vez disso, a ferida pode ser anestesiada, mas não curada.
Por que isso pode acontecer? Podemos não querer ver essa dor; então, preferimos nos encher de atividades, não pensar nisso, fugir dos estímulos que podem resgatar certas lembranças para o foco da consciência. Além disso, pode ser uma emoção mascarada. Nesse sentido, a dor não precisa se manifestar como tristeza, muitas vezes se manifesta como raiva ou mesmo euforia.
Pensar isso pode nos ajudar a afastar nossas emoções e pensamentos.
Há dores que não têm nome, é um sofrimento que não podemos rotular, que escorrega ao tentar traduzi-lo em palavras. Nesses casos, podemos tentar encapsulá-la e enviá-la para o lugar mais remoto de nossa memória.
Estamos falando de um mecanismo de defesa. O que ele faz é expulsar desejos, sentimentos e pensamentos da consciência. Segundo Sigmund Freud, pai da psicanálise, isso é uma forma de tornar inconsciente o conteúdo que é inaceitável para nós.
O tempo não corre quando somos passivos
Ao conceder ao tempo o poder de cura, atribuímos uma responsabilidade que nos corresponde a nós mesmos, a um agente externo. Deixamos que os eventos se amontoem sobre esse livro que devemos retornar à biblioteca na esperança de que o amontoado o apague da realidade psíquica… assim como o apaga de nossa vista.
O grande perigo de proceder assim é que o que fica enterrado não para de erodir nossa motivação, sobrecarregar nossa vontade ou penalizar nossos objetivos. Assim, podemos chegar a esse ponto em que continua a nos machucar, mas sem que possamos identificar o que nos machuca porque foi enterrado.
Por outro lado, o que pode acontecer é que ao atribuir ao tempo um protagonismo que ele não tem (é um mero palco) significa subestimar ou relegar aquelas estratégias que fomos capazes de implementar para dar forma àquelas cicatrizes que conseguiu gerar.
Isso pode ser um obstáculo para superar dificuldades futuras, para ir ao resgate de estratégias que deram certo. Também pode ser um vento contrário para a nossa autoestima, minando os pontos de apoio sobre os quais ela pode crescer. Dessa forma, a ideia de que o tempo cura feridas pode ser um dos nossos piores inimigos, contaminando nossa forma de proceder no plano psíquico na hora de escolher estratégias de enfrentamento.
Sejamos gestores da mudança, pessoas que aceitam a dor, a expressam e a transformam ou a ressignificam para carregar a resiliência como bandeira e assim ter uma melhor qualidade de vida.
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- Riso, W. (2006). Terapia cognitiva. Fundamentos teóricos y conceptualización del caso clínico. España: Editorial Paidós.