Pensamento contrafactual: e se tivesse sido diferente?

Em cada decisão que tomamos, fechamos algumas portas e abrimos outras. Se desejamos avançar, temos que aprender e seguir em frente. Caso contrário, podemos ficar estagnados.
Pensamento contrafactual: e se tivesse sido diferente?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

E se eu tivesse decidido estudar fora? E se eu não tivesse terminado meu último relacionamento? O que teria acontecido se eu tivesse aceitado aquela oferta de emprego? Uma das tarefas mentais nas quais os seres humanos empregam mais tempo é imaginar cenários alternativos. Por meio do pensamento contrafactual, tentamos imaginar como seria a realidade se tivéssemos tomado decisões diferentes.

Embarcar nesse exercício pode ser benéfico em alguns casos. No entanto, ficar obcecado em explorar mentalmente opções distintas pode ter consequências negativas. A frustração, o remorso e a ansiedade podem se tornar parte da nossa vida se não aprendermos a aceitar e viver no presente.

Homem pensativo

O que é o pensamento contrafactual?

Ao longo das nossas vidas, vamos fazendo escolhas. Algumas mais cotidianas e outras mais decisivas. Com cada uma delas, abrimos algumas portas e fechamos outras. No entanto, é quase inevitável questionar – em algum momento – como tudo teria acontecido se tivéssemos escolhido um caminho diferente. É exatamente nisso que se baseia o pensamento contrafactual, em projetar realidades alternativas que teriam surgido de decisões diferentes.

Podemos mergulhar no passado e formular cenários diversos, comparando-os com a situação atual (se eu tivesse sido mais amável, agora não estaríamos brigados). Também podemos aplicar esse tipo de raciocínio a situações futuras (se eu sair desse trabalho, provavelmente não vou encontrar nada melhor e vou acabar desempregado).

As possibilidades são infinitas, e na base desse processo, encontramos a crença de que essas escolhas marcaram nossas vidas. Essa afirmação possui parte de verdade: nossos atos passados formam nosso presente e nossas decisões atuais vão influenciar o futuro.

No entanto, nenhuma opção, por si só, constitui uma sentença. Nós temos o poder, em cada momento, de mudar de rumo.

Benefícios do pensamento contrafactual

Esse processo cognitivo tem alguns benefícios sempre que for utilizado de forma moderada. Em primeiro lugar, nos ajuda a aprender com os erros do passado e a planejar melhor as nossas decisões. Quando nos deparamos com um dilema que já vivemos anteriormente, contamos com uma base para prever certos acontecimentos. Assim, a experiência pode ser o ponto de partida para tomar decisões mais acertadas.

Vamos analisar um exemplo. No passado, você reprovou em um exame por não ter começado a estudar com antecedência suficiente. Provavelmente, nesse momento você teve pensamentos do tipo: “Se eu tivesse me organizado melhor, teria passado na prova”. Dessa forma, diante de situações similares, você vai decidir manter seus estudos em dia.

Por outro lado, também ajuda a nos sentirmos satisfeitos com nossas conquistas (se eu não tivesse me mudado de cidade, nunca teria conhecido minha melhor amiga) e ajuda a encontrar alívio em situações negativas (quando sofri aquele acidente de carro, se eu não estivesse usando o cinto de segurança, teria sido muito mais grave).

Homem tentando tomar decisão

Focar-se no presente

Se perdermos de vista a utilidade que esse tipo de pensamento pode ter e começarmos a usá-lo de forma constante, teremos problemas. É possível que comecemos a experimentar emoções negativas pelas decisões que tomamos no passado. Podemos sentir culpa, remorso e frustração: “Se eu tivesse ficado mais atento, nossa amizade não teria terminado”, “Se eu não tivesse me casado tão jovem, teria podido aproveitar mais experiências na vida”.

Temos que nos lembrar de que o pensamento contrafactual pode servir como um guia para o futuro, mas nunca como uma âncora do passado. Se você sente que não agiu corretamente, tente corrigir o erro e aprender a lição para situações futuras. De uma maneira ou de outra, encare a reflexão como um ponto de partida para construir o futuro que você deseja, não como um fardo emocional.

Do mesmo modo, entrar em um looping de pensamentos sobre o futuro pode gerar ansiedade, estresse e uma indecisão paralisante. “E se eu for na entrevista, ficar nervoso e fizer papel de bobo?”. A realidade é que não podemos prever o futuro. Talvez fiquemos nervosos ou talvez consigamos o trabalho que desejamos.

O passado não existe mais e o futuro é um mistério. Vamos, portanto, nos focar em aceitar nosso presente, aprender as lições e dar o melhor de nós para construir o futuro que desejamos viver. Devemos nos lembrar de que o erro faz parte da vida, que o caminho é trilhado ao andar e que sempre haverá novas oportunidades.


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  • Segura-Vera, S. (1999). Razonamiento contrafáctico: la posición seriel y el número de antecedentes en los pensamientos sobre lo que podría haber sido.
  • Martínez Betancourt, P. A. (2011). Influencia de los objetos de autorregulación y el pensamiento contrafáctico sobre los efectos persuasivos de un mensaje publicitario (Bachelor’s thesis, Bogotá-Uniandes).

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