Pessoas peculiares: por que nos parecem atraentes?

Ser peculiar não é uma ameaça, é um ato de coragem. Ter carisma, estilo próprio, ser inconformista e não se ajustar às convenções pode ser chocante às vezes, mas também gera uma certa atração...
Pessoas peculiares: por que nos parecem atraentes?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

As pessoas peculiares são as excêntricas da nossa sociedade, mas, ao mesmo tempo, elas se alçam como figuras necessárias. A razão? Porque elas se atrevem a raciocinar e agir de forma diferente. Em um mundo onde somos estimulados a ser cópias uns dos outros e a pensar da mesma forma, a peculiaridade é um grande desafio.

Talvez mais de uma pessoa se surpreenda ao descobrir que, nos Estados Unidos, todo dia 10 de janeiro se comemora o Peculiar People Day. De fato, é algo possível por causa de um movimento que surgiu na internet e nas redes sociais. O objetivo não era outro senão conscientizar a população sobre a importância de não prejulgar.

Pois, embora seja verdade que o singular, o estranho e o peculiar possa ser atraente, o mais frequente é que cause rejeição em um primeiro momento. Afinal, os nossos preconceitos são como o estanho; uma solda para fechar a mente. Somente quando reduzirmos o hábito de julgar sem conhecer é que nos permitiremos descobrir pessoas que podem ser uma inspiração.

Talvez possamos até mesmo ser uma delas sem saber. Alguém que tem uma perspectiva diferente dos outros e que gosta de viver de forma diferente.

“Quero ser importante. Sendo diferente.”

-Sylvia Plath-

Homem andando entre montanhas simbolizando pessoas peculiares
Há muitas pessoas que são peculiares, mas que, na verdade, não ousam mostrar as suas singularidades por medo de serem julgadas.

Características das pessoas peculiares

A existência de pessoas peculiares é a melhor coisa que pode acontecer à nossa sociedade. Afinal, só quem se atreve a quebrar os moldes, a pensar de forma inovadora e a desenvolver uma personalidade própria, livre de convencionalismos, traz um verdadeiro avanço ao mundo. No entanto, devemos admitir: ser diferente de alguma forma pode ser uma grande ameaça.

Porque há algo que devemos entender claramente. Alguém peculiar não é alguém que usa óculos sem lentes. Não é aquele que veste a roupa do avesso ou tem um comportamento claramente antissocial. Em absoluto. A peculiaridade está em encarar e perceber as coisas de forma diferente do restante. E, geralmente, de uma forma mais eficaz e criativa. No entanto, quando alguém se atreve a demonstrar a sua personalidade única, ele é atacado, criticado e até mesmo punido.

É como um prego que fica saltado e é golpeado com um martelo para que fique igual aos outros. De alguma forma, a nossa sociedade tem esse filtro de hipocrisia sutil em que somos instados a ser únicos e autênticos, mas, quando alguém ousa ser assim, é coisificado. Por exemplo, por mais que falemos ou defendamos a diversidade, o diferente permanece sendo a ovelha negra que sempre é criticada.

No entanto, apesar das críticas, preconceitos e olhares, há um apelo instintivo nas pessoas peculiares. É comum sentir uma espécie de ambivalência psicológica em relação a essas figuras: elas fascinam e inquietam ao mesmo tempo. Elas atraem e incomodam. Afinal, tudo o que é diferente também faz com que terminemos repensando a nós mesmos…

São pessoas que não se mimetizam com o convencional

Em 2010, o Dr. Joseph Henrich, da Universidade de Harvard publicou um estudo interessante. Algo que vale a pena saber é que a comunidade científica analisa o comportamento humano frequentemente. Assim, mergulham em dados de todas as sociedades ocidentais, educadas, industrializadas e democráticas. E o que mostram é que há pouca variação em termos de comportamento.

Ou seja, poderíamos dizer que nos afastamos muito pouco do que pode ser definido como “indivíduo padrão”. Não há uma abundância excessiva de pessoas peculiares. No entanto, quais são as características que realmente definem esses perfis? Bem, um aspecto que se destaca é a tendência de não se mimetizar com o convencional.

São homens e mulheres abertos ao diferente, curiosos sobre o lado escuro da Lua (por assim dizer); personalidades que procuram sempre saber o que não é dito, “bichos estranhos” que não se conformam com as opiniões gerais.

Pensam de forma holística e crítica

Pensar de forma holística e crítica é a melhor ferramenta que todos deveríamos aplicar. Em uma realidade marcada por notícias duvidosas, informações constantes e muitas vezes tendenciosas, apenas as pessoas peculiares têm a obstinação de duvidar de tudo. Sua abordagem é sempre crítica e holística.

Ou seja, são pessoas capazes de abstrair novas ideias do que leem ou veem, fazendo comparações e conexões a fim de ter uma visão mais ampla e unificada do que estão analisando.

Orientadas para a inovação constante

O normativo é entediante. O convencional é a ferrugem que às vezes envelhece a nossa sociedade e desacelera as suas engrenagens. O olhar voltado para o peculiar busca inovar, aspira a promover progresso, mudanças e revoluções. Algo assim se consegue ao aplicar um enfoque sempre criativo, ousado e inovador.

Essas pessoas sabem que o seu comportamento e atitude podem gerar críticas, mas não têm medo disso. Porque quem tem a mente aberta não se rende diante de uma mente inflexível; sente compaixão dela e não desiste.

Mulher feliz com grande autoestima representando pessoas peculiares
Pessoas “estranhas” ou “particulares” são as que muitas vezes trazem para a nossa sociedade as mudanças de que ela precisa

As pessoas peculiares são figuras que nos inspiram

Joseph Henrich é professor de biologia humana evolutiva na Universidade de Harvard. Algo que nos explica no estudo já mencionado é que existem pessoas singulares. Não há nenhuma particularidade genética nelas, mas elas são psicologicamente diferentes.

Há particularidades na sua forma de pensar, de reagir diante dos desafios, de se relacionar e, em essência, de processar a realidade. Isso faz com que muitos desses homens e mulheres atuem como agentes dinamizadores da própria sociedade. Eles nos inspiram e estimulam a quebrar nossos velhos padrões de pensamento, pois nos fazem refletir e reformular certos aspectos.

Tudo o que é peculiar geralmente chega à nossa vida primeiramente de uma forma desconfortável. Porque é algo que nos desafia, porque nos obriga a repensar muitas das coisas que damos como certas. E isso nem sempre é fácil ou confortável. Mas, pouco a pouco, vamos nos deixando envolver por esta nova corrente, por esse espírito estranho porém inovador… Por isso, vamos deixar de prejulgar e aprender a apreciar o singular.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Forgas, J. P. (1992). On mood and peculiar people: Affect and person typicality in impression formation. Journal of Personality and Social Psychology, 62(5), 863–875. https://doi.org/10.1037/0022-3514.62.5.863
  • Henrich, Joseph & Heine, Steven & Norenzayan, Ara. (2010). The Weirdest People in the World?. The Behavioral and brain sciences. 33. 61-83; discussion 83. 10.1017/S0140525X0999152X.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.