Peter C. Gotzsche e sua crítica aos psicofármacos

Peter Gotzsche realizou pesquisas minuciosas que o levaram a denunciar práticas pouco éticas e arriscadas na produção de medicamentos. Suas obras causaram muita polêmica, mas não foram refutadas cientificamente.
Peter C. Gotzsche e sua crítica aos psicofármacos
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 11 maio, 2020

Peter C. Gotzsche é um especialista em tratamentos farmacológicos que desenvolveu pesquisas importantes sobre os psicofármacos. Seus questionamentos sobre o assunto causaram grandes polêmicas no mundo da medicina e da psiquiatria. Grande parte da comunidade científica se divide entre aqueles que o adoram e aqueles que querem bani-lo.

O aspecto mais relevante do trabalho de Gotzsche é que, mesmo sendo um médico e cientista de prestígio, ele se opôs fortemente à indústria farmacêutica. Ele não se baseia em opiniões próprias, mas em estudos de longa duração que sustentam todas as suas afirmações. O fato de um médico com o seu conhecimento ter feito isso significa um duro golpe para os fabricantes de medicamentos.

“O que devemos fazer é identificar pacientes diagnosticados em excesso e com tratamentos desmedidos e ensinar a eles que uma vida sem fármacos é possível para a maioria de nós”.
-Peter C. Gotzsche-

Peter C. Gotzsche ficou famoso nos anos 1990, quando fundou, com alguns colegas, o Centro Nórdico de Colaboração Cochrane , em Copenhaguen. Essa organização é um dos pilares na área da medicina baseada em evidências. Gotzsche foi membro do conselho diretor até 2017, quando foi expulso por seus colegas. Isso aconteceu por causa das polêmicas acaloradas que seus trabalhos desencadearam.

Peter Gotzsche e uma obra polêmica

Por muitos anos, Peter Gotzsche se dedicou a verificar qual seria a verdadeira eficácia de vários medicamentos e procedimentos médicos. Suas pesquisas reuniram milhares e milhares de informações sobre esse assunto. Em particular, existem dois estudos que causaram hostilidade na comunidade científica: um sobre a mamografia e outro sobre os antidepressivos.

No caso da mamografia, Gotzsche demonstrou que ela era basicamente inútil. Seu trabalho consistiu em avaliar cuidadosamente oito dos estudos que sustentam esse procedimento como uma medida para prevenir o câncer de mama. Ele examinou dados que cobrem um período de 12 anos. Assim, chegou à conclusão de que as mamografias, em poucas palavras, não servem para nada. Muitos de seus colegas manifestaram uma resposta irritada diante dessa pesquisa.

Gotzsche também estudou a fundo o assunto dos antidepressivos. Após uma pesquisa minuciosa, ele afirmou que esse tipo de medicamento faz muito mais mal do que bem. Ele criticou duramente a maneira como os antidepressivos acabaram sendo massivamente prescritos no mundo. Também disse que, em geral, as drogas psiquiátricas acabam exacerbando os sintomas que buscam combater. Além disso, denunciou que vários dos psiquiatras que escrevem o DMS também são, simultaneamente, funcionários de empresas farmacêuticas.

Mulher tomando comprimidos

A grande denúncia de Peter Gotzsche relacionada aos psicofármacos

As conclusões das 40 metanálises realizadas por Gotzsche sobre os psicofármacos foram descritas no livro Medicamentos mortais e crime organizado. Apenas pelo título já temos uma ideia das fortes críticas que ele contém. Basicamente, rotula as indústrias farmacêuticas como uma máfia, que se apoderou da medicina e não tem outro objetivo senão o lucro em grande escala.

Nessa obra, ele declara que “nos Estados Unidos e na Europa, os fármacos são a terceira causa de morte, depois das doenças cardíacas e do câncer”. Além disso, faz uma descrição detalhada de como chegou a essa conclusão, com base em um método científico rigorosamente aplicado.

Ele descobriu, entre outras coisas, que a maior parte dos estudos que servem de apoio aos novos medicamentos apresentam graves falhas. Mesmo assim, são colocados no mercado. A maioria das pessoas não sabe, nem tem como saber, os efeitos adversos que eles causam. É por isso que ele fala sobre um “crime organizado” nessas práticas.

Peter Gøtzsche dando palestra

Um panorama preocupante

O que Peter Gotzsche mostra é que existem interesses econômicos gigantescos em relação aos medicamentos, que impedem até ações legais sobre eles. Ele menciona, em detalhes, o caso de uma grande empresa farmacêutica norte-americana. Houve investigações independentes que revelaram grandes mentiras sobre os produtos que essa empresa coloca no mercado.

No entanto, os promotores responsáveis pelo caso concluíram que o colapso dessa empresa traria efeitos indesejáveis, e por isso decidiram arquivá-lo. Apenas pediram para que determinados produtos fossem retirados do mercado e, assim, a questão foi resolvida. Essa denúncia de corrupção trouxe grandes críticas a Gotzsche. Apesar de ser um dos professores de maior prestígio na Universidade de Copenhaguen, tentaram torná-lo alguém indesejável.

O que Peter Gotzsche está pedindo é que sejam formuladas leis muito mais severas em relação aos ensaios clínicos dos medicamentos. Ele também pede que as práticas comerciais das indústrias farmacêuticas sejam regulamentadas de maneira mais rígida. Independentemente de ter razão ou não em suas denúncias, seu pedido é razoável o suficiente para ser levado a sério pelas sociedades e pelos governos.


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  • Gøtzsche, P. (2014). Medicamentos que matan y crimen organizado. Lince, ed. Madrid.

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