Política, um terreno para as emoções

A política tornou-se um campo onde as emoções desempenham um papel fundamental. Embora o poder sempre tenha despertado grandes paixões, hoje seu protagonismo foi reforçado pela sociedade do espetáculo.
Política, um terreno para as emoções
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 julho, 2022

A política tem duas fases de acordo com a teoria grega clássica: a agonal e a arquitetônica. Durante a fase agonal, ocorrem lutas pelo poder, para alcançar um certo controle ou conduta do social. Enquanto a arquitetônica é a fase em que os projetos e construções aparecem uma vez que o poder foi alcançado.

A política, como terreno privilegiado para as emoções , está profundamente ancorada na fase agonal. As ideias que aparecem no mundo do poder estão ligadas à razão, mas têm uma profunda raiz emocional. É na luta pelo poder que as emoções mais circulam no plano político.

Atualmente, muitos políticos baseiam seu discurso nas emoções. São mais convincentes com mensagens de medo ou promessas de segurança do que com programas ou projetos razoáveis para resolver problemas específicos. Da mesma forma, os eleitores querem propostas que possam ser soluções para suas dificuldades, mas também querem propostas que transmitam paixão e entusiasmo.

A política é a arte de impedir que as pessoas se envolvam no que é importante para elas.”

-Marco Aurélio Almazán-

Político dando um discurso sobre psicologia política
Muitos discursos políticos têm uma profunda raiz emocional.

A comunicação

Cerca de 75% da comunicação interpessoal é não verbal. Daí a importância que se dá na política aos gestos, às posturas corporais, à gestão do espaço e a tudo o que acompanha a palavra. Essa mímica reforça o emocional e gera uma conexão com o candidato.

Atualmente, as assessorias de comunicação dos políticos se concentram em transmitir uma imagem de seus candidatos sustentada pelo sensorial. O que é isso? O uso de estímulos sensoriais para gerar estados de espirito no público.

O conceito, nascido na publicidade, chama-se “brand sense”; isso é usado para amplificar os valores de um candidato ou partido político. O potencial oferecido pelo som, paladar, visão, olfato ou tato influencia muito a percepção. Trata-se de integrar os cinco sentidos para criar pontes sensoriais e emocionais entre o candidato e seu eleitorado.

Política e emoção

Em muitos lugares, a política hoje se tornou um ato de ilusionismo. Como poucas vezes na história, o que se observa é uma forte incidência de propaganda, em detrimento do debate ideológico. Política e entretenimento estão cada vez mais próximos.

Não é incomum que muitos dos políticos de hoje se comportem mais como pop star do que como estadistas. O que muitos deles procuram não é transmitir um projeto ideológico, mas construir uma imagem à medida do que o seu público quer ver e ouvir. Há mais de marketing, em muitos casos, do que ideias ou propostas.

O medo, hoje e sempre, tem um enorme poder de persuasão. O medo é inoculado nos eleitores sutil e continuamente. Cada político escolhe um inimigo e lança toda sua artilharia contra ele. Tal inimigo pode ser o desemprego ou o imigrante, a esquerda, a direita ou qualquer outra coisa. A questão é construir um discurso em torno do propósito de conter uma ameaça. Vê-se que em muitos lugares isso funciona.

Parlamentar faz discurso político
Os discursos de base emocional têm grande poder de persuasão.

As novas contribuições

O sucesso do discurso político emocional deve-se, em parte, à contribuição de algumas ciências humanas e sociais. A psicologia, por exemplo, tem contribuído para a relação entre a economia comportamental e as decisões econômicas tomadas pelos líderes de diferentes governos.

Os estudos de comunicação, especialmente aqueles voltados à publicidade, têm enfatizado a persuasão. A persuasão publicitária é baseada em escolhas emocionais e não racionais. E isso tem sido aplicado à política, atentando para as emoções que cada candidato pode despertar.

Mas nem tudo é novo. Aristóteles, no século IV a.C., já falava na Retórica sobre como as emoções desempenhavam um papel central no debate político. Ele disse que o objetivo do debate era persuadir, através das emoções, ao invés de chegar a uma tomada de decisão fundamentada. Segundo ele, persuadir e vencer eram mais importantes do que discutir.

Quase 25 séculos depois, a política toma para si o terreno do emocional e combina a comunicação não verbal com os sentimentos para alcançar uma conexão com a cidadania, que transcende o racional. Quem assiste a discursos políticos espera que seus corações sejam tocados, e os candidatos já sabem disso.


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