Por que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas?

Comparação social, assédio online, obsessão por certos ideais de beleza... Em média, são as meninas as mais afetadas pelo uso indevido das redes sociais. É o que revela um estudo.
Por que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Ansiedade, distúrbios do sono, depressão e distúrbios alimentares… De acordo com um estudo recente, as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas, e são elas que apresentam mais esses tipos de condições. O mais impressionante – para não dizer chocante – é o fato de esses problemas aparecerem entre os 11 e os 13 anos.

As gerações mais jovens são mais do que apenas verdadeiros nativos digitais. Meninos e meninas de 10 e 11 anos se tornam viciados em celulares cedo. Quase sem perceber, oferecemos a eles um poderoso recurso tecnológico sem primeiro ensiná-los a fazer bom uso dele. Porque essa é a chave, esse é o verdadeiro problema: o uso indevido desses dispositivos.

Os adultos não supervisionam, não educamos em uma área importante para o desenvolvimento social, mental e emocional deles. Hoje, temos pré-adolescentes que dormem muito pouco à noite porque passam as horas da noite online.

Os efeitos de um mau descanso, somados a outros fatores que analisaremos agora, estão afetando em maior grau as meninas. Aprofundaremos nisso.

Os analistas do Facebook sabem há décadas que a rede social Instagram pode ter um impacto negativo nas adolescentes.

cena para simbolizar que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas
As meninas sofrem inúmeras experiências de bullying desde cedo.

As redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas: fatores de risco

A Universidade de Essex e a University College London publicaram um estudo no The Lancet. Neste trabalho, eles forneceram evidências para apoiar a hipótese de que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas. Uma investigação semelhante foi realizada no final de 2011, quando o Instagram foi adquirido pelo Facebook.

Mark Zuckerberg e sua equipe queriam saber qual o impacto que o uso dessa rede social poderia ter na população. Os dados obtidos foram mantidos em segredo até que o The Wall Street Journal os publicou (para seus assinantes) apenas alguns meses atrás. A META tinha dados que apoiavam a hipótese de que o uso do Instagram faz com que as adolescentes se sintam cada vez mais inseguras e infelizes.

Em média, meninas entre 11 e 13 anos passam muito mais tempo nas mídias sociais do que meninos da mesma idade. Estes tendem a compartilhar mais seu tempo em videogames do que em espaços como Instagram ou Tik Tok. No entanto, após 14 os números são iguais.

Dormem menos horas do que o necessário

A Academia Americana de Pediatria estabelece as seguintes diretrizes de sono para crianças e adolescentes:

  • Entre 6 e 12 anos, recomenda-se que durmam entre 9 e 12 horas por dia.
  • Entre 13 e 18, entre 8 e 10 horas.

Bem, o trabalho do The Lancet indica que meninas entre 11 e 14 anos dormem entre 5 e 7 horas. E elas não o fazem porque estão acordados usando as mídias sociais. Agora, uma investigação da Universidade de Witwatersrand na África do Sul e do Centro de Ciências da Saúde tem impacto em algo relevante.

Estamos negligenciando a insônia em adolescentes, pois essa condição está ligada a outros problemas, como depressão ou inflamação sistêmica.

Garotas que “aprendem” cedo a odiar seus corpos

Você pode “aprender” a odiar sua própria imagem corporal? A realidade é que sim. A sociedade de hoje continua a enfatizar um modelo distorcido e prejudicial de beleza. Muitas meninas desenvolvem desde cedo uma má relação com o próprio corpo.

Elas o rejeitam porque não se encaixa naqueles modelos supostamente “normais” que aparecem na publicidade, nas redes sociais, no cinema etc. Entre os 10 e 11 anos já apresentam insegurança corporal, rejeitam um corpo ainda não desenvolvido e veem defeitos onde não existem. Da mesma forma, elas iniciam aquele comportamento de comparação social em que são sempre percebidas como desfavorecidas.

Bullying online

Há outro fator que explica por que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas. São as meninas que sofrem assédio online em maior grau do que os meninos.

O cyberbullying, somado às situações de assédio sexual online por parte de adultos, são situações em que elas estão mais vulneráveis. Com as consequências mentais que daí derivam.

Quanto mais horas as meninas passam nas redes sociais, mais intensos são os sintomas depressivos.

Redes sociais afetam a saúde mental de meninas entre 11 e 13 anos

Psicólogos da Universidade de Essex e da University College London descobriram que meninas de 11 a 13 anos relataram mais sintomas depressivos devido ao uso intenso das mídias sociais. Agora, a partir dos 14 anos, os dados entre meninos e meninas já são iguais.

O que ambos os sexos declaram é que “sentem pouca satisfação com a vida”. Ou seja, as conclusões que obtemos desta série de investigações são várias. A primeira é que meninas com menos de 13 anos são mais vulneráveis a fenômenos como comparação social e bullying online. A falta de sono também é um indicador de risco para desânimo e esgotamento.

A partir dos 14 anos, e se o uso das redes sociais ocupa grande parte do tempo dos adolescentes, o risco de ansiedade e depressão é o mesmo em meninos e meninas. E o mais impressionante: eles ainda não começaram a viver e não encontram o desejo e o sentido de fazê-lo…

meninos felizes falando sobre como as mídias sociais afetam mais a saúde mental das meninas
Nossos jovens aprendem a ver o mundo a partir do universo online e das redes sociais. Isso pode ter efeitos negativos em sua identidade e bem-estar.

O que podemos fazer diante dessa realidade?

Há um fato revelador que facilita este trabalho de pesquisa. Parece que as redes sociais afetam mais a saúde mental das meninas quando as usam mais de cinco horas por dia. Também quando vão para a cama com o celular. Poderíamos dizer que essa pode ser a solução, reduzir o uso desses aplicativos e impedir que elas tenham seus dispositivos à noite.

No entanto, banir e restringir nem sempre é a melhor estratégia. A melhor opção é a educação correta nesse universo digital a partir do qual as crianças começam a descobrir o mundo. O bom uso das redes sociais passa sempre pelo menor número de horas possível e pelo pensamento crítico. Nem tudo que existe, dizem e nos mostram naquelas redes é real ou saudável.


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