Por que começamos a gostar de algumas pessoas quando erram? (o efeito Pratfall)

Curioso como nossa mente funciona. O efeito Pratfall é um bom exemplo disso, ou como podemos começar a gostar de alguém quando ela erra...
Por que começamos a gostar de algumas pessoas quando erram? (o efeito Pratfall)
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 12 novembro, 2023

Há um charme singular nessa pessoa inteligente e competente que, no entanto, não tem noção. A figura do gênio desajeitado, tão icônico no mundo do cinema, contém uma explicação psicológica tão curiosa quanto impactante. Conversamos sobre o efeito Pratfall, ou como pessoas brilhantes conquistam nossa simpatia cometendo alguns erros.

Vamos pensar sobre isso. Não é um fato isolado ou o típico dado singular que a ciência traz de tempos em tempos e que muitos questionam. Porque a verdade é que não é incomum que tenhamos sido testemunhas diretas disso.

Em um filme, quando o gênio deixa a luz acesa, ele nos parece mais simpático. A mesma coisa acontece na vida real. Quando o típico sabe-tudo ou uma colega de classe incrivelmente inteligente tropeçam ou derramam o café, nós os achamos muito mais amigáveis, acessíveis e cativantes. O erro os torna mais humanos e também mais próximos.

Nunca cometer um erro ou tropeçar foi tão proveitoso. E cuidado, pois esse fenômeno psicológico é bem conhecido e mais de um o explora intencionalmente…

Ser falível nos torna humanos e isso às vezes é um objeto de atração.

Menino pensando no efeito Pratfall
As pessoas que cometem erros muitas vezes nos parecem muito mais próximas e têm um impacto emocional maior sobre nós.

O que é o efeito Pratfall?

O efeito Pratfall foi cunhado pelo psicólogo social Elliot Aronson em 1966. Ele o fez como resultado de um curioso experimento na Universidade de Minnesota, no qual 48 estudantes do sexo masculino ouviram gravações de alguém respondendo a perguntas, presumivelmente como um teste para um programa de TV.

Os alunos ouviram um dos quatro cenários. Uma pessoa superior respondendo a perguntas, uma pessoa comum respondendo a perguntas, uma pessoa superior respondendo a perguntas e cometendo um erro (uma ‘pratfall’) e uma pessoa comum fazendo o mesmo. A pessoa superior respondeu corretamente 92% das perguntas, enquanto a pessoa comum só conseguiu 30% de acertos.

A certa altura, o aluno superior descreveu como deixou cair seu café. Esse detalhe melhorou a imagem que os alunos que ouviam a fita formaram dele. Eles o descreveram como simpático. No entanto, quando o estudante comum derrubou seu café, sua popularidade percebida diminuiu.

Portanto, o efeito Pratfall foi definido como a atração que uma pessoa inteligente gera quando está de alguma forma em desvantagem. Isto levou Aronson a especular que aqueles que estão conscientes da sua elevada competência podem ganhar mais influência sendo falíveis.

Nós gostamos mais de celebridades se elas cometem um erro em público

Se há alguma celebridade que vimos escorregar em público mais de uma vez, é Jennifer Lawrence. E não só isso. Essa atriz tem a virtude da sinceridade e espontaneidade. Além de suas habilidades artísticas e seus Oscars, ela também atrai porque estamos acostumados com alguns de seus erros. Isso é uma grande vantagem para ela.

No entanto, qualquer outro ator ou personagem conhecido do mundo das artes e das ciências que não deixe espaço para a improvisação, que cuide de seus gestos com detalhes, não gerará tanta proximidade. Embora isso não signifique que não os admiramos por seu trabalho. Assim, uma pessoa competente terá uma percepção mais positiva se se permitir ser publicamente falível de vez em quando.

Agora, há um fato importante. Os erros devem ser pontuais e esporádicos; caso sejam constantes, o efeito Pratfall não se mantém. Essa figura perde seu atrativo.

O efeito Pratfall e a teoria da comparação social

Convenhamos, quando conhecemos alguém brilhante, determinado e competente, sempre ficamos impressionados e até nos impõe respeito. É como se estivéssemos em desvantagem. No entanto, ao vê-los tropeçar, errar ou meter os pés pelas mãos, as coisas mudam. Ver alguém excepcional cometer um erro estúpido, como os que cometemos, gera proximidade e confiança em nós.

O efeito Pratfall é baseado na teoria da comparação social. Ou seja, como Leon Festinger nos explicou em 1954, nós nos avaliamos comparando-nos com os outros. Ver alguém mais determinado e competente que nós produz algum desconforto, às vezes.

No entanto, descobrir alguém que erra, que derrama o café ou que gagueja ao falar, desperta nossa empatia porque nos identificamos com essa pessoa. Isso, ademais, reforça nossa autoestima, nos faz sentir bem. Se alguém com tantas virtudes tem alguma semelhança conosco, significa que também somos especiais.

Menino de óculos pensando no efeito Pratfall
Pessoas muito inteligentes estão cientes do efeito Pratfall e podem usá-lo para gerar atração social.

Errar nos torna humanos

É verdade, errar nos torna humanos. Não há nada que nos aproxime uns dos outros do que descobrir que todos cometemos erros de vez em quando. Por mais brilhantes que sejamos, ninguém está imune ao erro mais bobo, à queda acidental, ao erro público… E esse fenômeno é bem conhecido pela ciência, pela mídia e pelas mentes mais engenhosas.

Como apontamos no início, o mundo do cinema sempre esboça o cientista de plantão como aquele gênio meio sem noção. Alguém que queima seu café da manhã com a mesma facilidade que salva o mundo. O efeito Pratfall faz com que esses personagens nos cativem. Mas tenha cuidado, pessoas inteligentes estão cientes desse fenômeno e podem usá-lo para serem mais influentes.

No entanto, um estudo nos diz que existem exceções. Pessoas com autoestima muito alta e pessoas com baixa autoestima, por exemplo, não vêem com bons olhos o indivíduo brilhante que comete erros. Os preferem infalíveis…


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Aronson, E., Willerman, B., & Floyd, J. (1966). The effect of a pratfall on increasing interpersonal appeal. Psychonomic Science.
  • Ein-Gar, D., Shiv, B., & Tormala, Z. L. (2012). When blemishing leads to blossoming: The positive effect of negative information. Journal of Consumer Research, 38(5), 846-859.
  • Mettee, D. R., & Wilkins, P. C. (1972). When similarity” hurts”: Effects of perceived ability and a humorous blunder on interpersonal attractiveness. Journal of Personality and Social Psychology, 22(2), 246.
  •  Helmreich, R., Aronson, E., & LeFan, J. (1970). To err is humanizing sometimes: Effects of self-esteem, ability, and a pratfall on interpersonal attraction. Journal of Personality and Social Psychology, 16(2), 259.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.