Por que me apaixono tão facilmente?

Os que se apaixonam nem sempre são pessoas felizes. Por trás de quem se ilude instantaneamente existe uma perigosa tendência de idealizar, bem como determinadas carências que buscam ser nutridas com amores que raramente duram e que às vezes até machucam.

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 13 abril, 2023

“Por que me apaixono tão facilmente? Por que me iludo imediatamente, apesar de carregar tantas histórias fracassadas nas minhas costas?”. São muitas as pessoas que se fazem essas mesmas perguntas diariamente, sem conseguir entender o porquê desses sentimentos de vertigem, dessa sensação de efusividade toda vez que uma nova pessoa irrompe em sua vida.

Dizem que a personalidade que se apaixona é aquela que fica pulando de flor em flor, o que define imaturidade emocional e até certo senso de irresponsabilidade. No final das contas, às vezes saem de um relacionamento para começar um novo, descartando amores para abraçar novos e aproveitar aquela “corrida de dopamina e serotonina”. Agora, além de se isso pode ou não ser aplicável a todos os casos, há um fato inegável.

Também se sofre. Quem se define por uma volatilidade afetiva, por apaixonar-se de vez em quando, por se entusiasmar com uns, entediar-se com outros, sonhar com aquele novo vizinho, desejar aquela nova colega de trabalho ou começar a ver aquela pessoa que serve o café de outra forma, sofre decepções e pode se machucar de várias formas.

Nem todos os amores são correspondidos. E nem todos os parceiros acabam sendo o que se pensava a princípio. Porque o apaixonado está sempre com pressa, corre o risco de ver o que não é e, em algumas ocasiões, até deixa a sua autoestima e dignidade de lado. Vamos analisá-lo em detalhes.

Por que me apaixono tão facilmente? Estas são as causas

Nada é tão emocionante quanto se apaixonar. O cérebro está preso nesse naufrágio químico orquestrado por neurotransmissores. A mente está inflamada com ilusões, fantasias e desejos. Poucas coisas são tão agradáveis quanto aquela atração que podemos sentir de repente por alguém que de repente irrompe em nossa vida.

Arthur Aron, psicólogo social especialista em motivação da Universidade de Nova York, nos fala em um estudo sobre um termo interessante: a expansão do eu. Quando conhecemos alguém desejável, quando uma pessoa que nos atrai invade nossa vida, essa intensidade emocional nos engrandece, renova nossas expectativas e até prestamos mais atenção em nós mesmos, esperando ser desejáveis para os outros.

Poderíamos dizer que quando nos apaixonamos, não apenas a vida parece diferente, mas também nós parecemos diferentes. É como nos cobrirmos com uma positividade efervescente e esse sentimento pode ser muito viciante para quem está apaixonado. No entanto, vamos ver mais razões que podem explicar esse fato.

1. Tendência a idealizar: uma forma de sofrimento

“Por que eu me apaixono tão facilmente?” Às vezes, por trás dessa pergunta existe uma resposta muito específica: porque você idealiza demais. Pode ser, talvez, que você seja uma daquelas pessoas com uma tendência natural de colocar um filtro de ouro nos outros, colocando ingredientes extras em quem o atrai, em quem chama sua atenção.

Sigmund Freud dizia que, às vezes, quando escolhemos alguém, o que fazemos é dar-lhe dimensões que gostaríamos de ter: segurança pessoal, inteligência, originalidade, carisma, encanto, brilho intelectual… Em outras palavras, os apaixonados podem projetam nos outros o que mais admiram e desejam.

2. Medo de compromisso

Quando alguém se apaixona por todos, no final tem a desculpa perfeita para não se apaixonar por ninguém. Talvez você saiba que todo amor também implica momentos ruins e problemas que devem ser superados. Talvez você queira evitar essas bebidas amargas e por isso prefira apenas molhar os lábios, sem beber tudo.

3. Medo da solidão

Apaixonar-se rapidamente pode ser um sinal de um profundo medo da solidão. Como em nossa cultura não ter um parceiro é visto como algo ruim, as pessoas com medo de ficar sozinhas patologicamente procuram estar acompanhadas de alguém.

4. Baixa autoestima: procuro alguém para preencher meus vazios

Quando alguém anda pelo mundo com uma autoestima notavelmente baixa, busca desesperadamente algo ou alguém para cobrir suas carências, suas inseguranças. Assim, e quase sem perceber, nos sentimos atraídos por quem nos trata bem, nos elogia, nos trata com carinho ou destaca alguma de nossas virtudes.

5. Eu me iludo rapidamente (o vício de me apaixonar)

Existem viciados em se apaixonar, mas não em amar. Ou seja, quem se pergunta “por que me apaixono tão facilmente?” deve considerar que, talvez, seja viciado em dopamina, aquele neurotransmissor que surge fortemente na primeira fase da atração. É esse amor que engana e surge com a atração, com a mente iludida, que fantasia e vagueia com o puro desejo.

Essas substâncias que o cérebro secreta nos primeiros estágios do amor são muito agradáveis. Tanto que sempre se acaba ficando atraído por elas. Ainda não iniciamos um relacionamento com alguém quando logo aparece um estranho ou estranha que inevitavelmente nos atrai. Independentemente de isso terminar em um encontro sexual ou não, em um relacionamento ou não, o cérebro não pode evitar a ilusão.

6. A personalidade dependente

Por trás da personalidade dependente, muitas vezes está o medo da solidão. Também o perfil de quem precisa ter sempre alguém perto, sem que esse alguém precise ser a pessoa certa. O importante é ter uma pessoa do outro lado do travesseiro, do outro lado do sofá.

Esse medo e angústia da solidão faz com que se sintam atraídos por qualquer pessoa que, a qualquer momento, se interesse por eles. Algo assim pode fazer com que eles “pulem” de pessoa para pessoa e de relacionamento para relacionamento, toda vez que alguém demonstre algum tipo de deferência ou interesse.

7. Por que me apaixono tão facilmente? Porque não aprendo com as experiências passadas

Existem pessoas que não aprendem com seus erros. Além do mais, não importa quão dolorosas tenham sido as experiências do passado, elas as repetem novamente. Por que isso acontece? Em relação a essa questão, há um fato interessante. Tilmann Klein e o Dr. Markus Ullsperger, do Instituto Max Planck de Leipzig, (Alemanha) nos contam em um artigo sobre o andamento de uma pesquisa que estão realizando.

A razão pela qual algumas pessoas não aprendem com suas falhas ou erros pode ser de origem genética e orquestrada pelo que é conhecido como mutação A1. O que essa alteração faz é reduzir o número de receptores D2 no cérebro, que são os locais onde a dopamina está ligada.

O que isso significa? Em não ter mais interesse ou motivação em aprender com os erros do passado. De forma que a pessoa os repete continuamente.

Para concluir, ainda é importante saber o que orquestra o comportamento da pessoa que se apaixona facilmente. Conhecer as causas que motivam a iludir-se quase constantemente com algumas pessoas e depois com outras pode nos ajudar a controlá-lo. Afinal, a última coisa que essas situações trazem é a felicidade. Vamos pensar sobre isso.

É possível aprender a se apaixonar mais devagar?

Para começar, você pode começar aceitando ser solteiro como conceito. É provável que por trás de cada paixão passageira exista um profundo medo da solidão, por isso uma primeira estratégia é reconhecer ser solteiro como um momento propício para o autoconhecimento e para nos redescobrirmos com o prazer da nossa própria companhia.

Da mesma forma, fortalecer nossa autoestima e aprender a nos valorizar como somos nos ajudará gradualmente a evitar nos apaixonar à primeira vista e a cultivar nossa paciência para nos apaixonarmos gradualmente com base no que estamos aprendendo e valorizando na outra pessoa.

Mantenha sua atenção no presente, concentre-se no hoje e nas coisas que você faz todos os dias para alcançar cada um de seus objetivos. Muitas vezes essas paixões vêm do desejo de evitar nossos problemas atuais, e os disfarçamos colocando nossas ilusões em um futuro idealizado e impossível com alguém que acabamos de conhecer.

Por fim, aprenda a se dar um tempo, a conhecer aquela pessoa que você gosta, a se apaixonar aos poucos e a aproveitar cada um desses pequenos passos rumo ao amor, claro, sem falsas expectativas e idealizações.