Por que algumas músicas não saem da cabeça?

Os psicólogos dizem que a probabilidade de uma música ser tocada repetidamente em nossa mente depende, em muitos casos, do nosso humor. O estresse ou algum sentimento nostálgico aumentam essa probabilidade.
Por que algumas músicas não saem da cabeça?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Algumas músicas simplesmente não saem da nossa cabeça e dão a impressão de que caímos em um loop infinito. Elas não vão embora e se repetem incansavelmente, como um eco insistente que nos prende com sua melodia, letra e ritmo.

Às vezes a sua presença pode ser agradável, mas a situação se torna frustrante quando a música em questão é aquela música da moda da qual não gostamos, mas que ouvimos na rua ou no shopping.

Sabemos que o cérebro tem os seus mistérios, mas vamos admitir que, às vezes, esses enigmas são perturbadores, principalmente quando experimentamos fenômenos fora do nosso controle. Sabe-se, por exemplo, que 98% das pessoas já experimentaram essa sensação.

No entanto, estudos como o realizado na Universidade de British Columbia, no Canadá, indicam que 15% dos casos são especialmente intrusivos e irritantes.

Nessas últimas situações, já estamos entrando no campo dos transtornos obsessivo-compulsivos, nos quais a música pode atuar como algo tremendamente perturbador para a pessoa.

No entanto, para o restante, não chega a ser algo alarmante. Quase sempre se torna um fato anedótico que compartilhamos em conversas com os amigos.

“Se eu não fosse um físico, provavelmente seria um músico. Costumo pensar em música. Vivo meus sonhos na música. Eu vejo a minha vida em termos de música.”
– Albert Einstein –

Fita cassete

Por que há músicas que não saem da nossa cabeça?

Earworms, ou vermes de ouvido. Esse é o termo que os psicólogos usam para definir esse fenômeno. Os vermes musicais moldam aquelas melodias cativantes que aderem ao nosso cérebro, e não conseguimos nos livrar delas.

Algumas pessoas costumam dizer que esses fenômenos são especialmente comuns com artistas como Lady Gaga, Queen, Abba, Beyoncé, Adele, Coldplay, etc.

Agora, se temos “worms musicais” com esses músicos e cantores, é porque a exposição a suas músicas é maior. Porque, na realidade, qualquer música, qualquer melodia ou refrão pode ficar na nossa cabeça, não importa quem a cante.

É até possível que soframos esse fenômeno sem precisar ouvir uma música específica. Às vezes, basta que algo nos lembre de uma determinada música para que ela seja instalada repentinamente em nossa mente. Vejamos o que os especialistas dizem sobre o motivo de uma música ‘grudar’ em nós.

Quanto mais simples, mais ela adere à mente

Os compositores e produtores de música sabem disso. Quanto mais simples e repetitiva for uma música, mais cativante será o seu impacto e mais provável que o público se lembre dela.

A Dra. Kelly Jakubowski, da Universidade de Durham, demonstrou em um estudo como esses tipos de composições eram os culpados pelos “vermes musicais”.

O nosso humor também influencia

Esses dados são muito interessantes. Na próxima vez em que uma música te pegar, pense em como você está se sentindo.

A Dra. Vicky Williamson, especialista em psicologia musical, explica que, em média, é mais comum sermos receptivos a experimentar esse fenômeno quando nos sentimos estressados, cansados, quando dormimos pouco ou mesmo quando nos sentimos nostálgicos.

De alguma forma, é como se o cérebro estivesse cansado ou preso em um estado emocional específico. Assim, tem uma maior predisposição a iniciar padrões de repetição, especialmente quando há estímulos musicais próximos.

Ondas musicais

A memória como gatilho

Nós já falamos sobre isso anteriormente. Nem sempre é necessário ouvir uma música em um local, no celular, no rádio ou em uma loja, para que ela inunde a nossa mente. Às vezes, somos nós que iniciamos esse fenômeno lembrando uma letra, uma música, uma canção do passado.

Em nosso ambiente, um gatilho pode surgir repentinamente. Podem ser aqueles sapatos com os quais fizemos aquela viagem de carro, o sorvete que de repente nos lembra um momento da nossa infância em que nossa avó cantava uma música para nós…

O cérebro gosta de lembrar e a memória emocional está diretamente ligada à memória musical. Essas estruturas dificilmente são danificadas por doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer.

Como podemos parar o fenômeno das músicas que não saem da cabeça?

É verdade que, às vezes, esse fenômeno pode ser muito irritante. Especialmente se for uma música sem graça, infantil ou que não nos agrada.

Para quebrar a sua maldição ou aquele mecanismo repetitivo que o nosso cérebro iniciou arbitrariamente, o ideal é manter essas sugestões em mente.

  • Dizer a si mesmo afirmações como: “eu vou bloquear essa música, a partir de agora ela vai parar de aparecer em minha mente”, não adianta. O cérebro faz exatamente o oposto desses propósitos diretos. É como dizer, quando sofremos de insônia: ‘eu vou dormir, vou dormir’, de modo que, no final, fica ainda mais difícil adormecer.
  • O melhor é se deixar levar, aceitar essa música intrusiva sem resistir. Esse fenômeno acaba enfraquecendo aos poucos.
  • Outro recurso eficaz é ouvir a música inteira uma vez. Se aparecerem em nossa mente refrões específicos, é melhor colocar a música completa. Dessa forma, é comum que esse efeito perca força.

Por último, mas não menos curioso, os neurologistas apontam que, quando ouvimos uma música, é melhor mascar chiclete para reduzir a sua invasão. Esse movimento da mandíbula interfere na memória musical.

De qualquer forma, o mais comum é que esse fenômeno não dure mais de 24 horas.


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  • Jakubowski, K., Finkel, S., Stewart, L., & Müllensiefen, D. (2017). Dissecting an earworm: Melodic features and song popularity predict involuntary musical imagery. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts11(2), 122–135. https://doi.org/10.1037/aca0000090
  • Taylor, S., McKay, D., Miguel, E. C., De Mathis, M. A., Andrade, C., Ahuja, N., … Storch, E. A. (2014). Musical obsessions: A comprehensive review of neglected clinical phenomena. Journal of Anxiety Disorders. Elsevier Ltd. https://doi.org/10.1016/j.janxdis.2014.06.003

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