Por que traímos as pessoas que amamos?

Por que, às vezes, mesmo estando apaixonados por nosso parceiro, o traímos com outra pessoa? O amor nem sempre compreende os compromissos e, às vezes, nos deixamos levar por necessidades egoístas. Vamos analisar o assunto.
Por que traímos as pessoas que amamos?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Por que traímos as pessoas que amamos? Será que as mentiras e traições são comportamentos recorrentes em seres humanos ou esse é um ato pontual motivado por um mecanismo específico? Por mais impressionante que possa parecer, não há uma resposta clara e contundente a esse respeito. Na verdade, existem várias explicações. Algumas têm um componente social, de personalidade ou puramente biológico.

A antropóloga Helen Fisher ressalta que a infidelidade é um comportamento comum entre nós. Além disso, na maioria das vezes, podemos cometer essa traição ainda que estejamos totalmente apaixonados pelo nosso parceiro. E isso ocorre porque amor e atração são duas realidades diferentes e, às vezes, o desejo pode nos fazer violar o compromisso construído com alguém.

Isso não nos torna melhores ou piores, mas sim humanos, de acordo com Fisher. Afinal, nos relacionamentos, afeto, paixão e desejo são dimensões complexas e muito difíceis de entender. Tanto assim que até mesmo Oscar Wilde chegou a dizer que o maior mistério da existência não é a morte, mas sim o amor.

Mulher simbolizando porque traímos as pessoas que amamos
Poucas coisas doem tanto quanto a traição, quanto ser traído. Sempre que isso acontece, tentamos entender a razão ou por que alguém que afirma nos amar pode nos enganar.

As razões pelas quais traímos as pessoas que amamos

O fato de saber que fomos traídos, embora o nosso parceiro nos ame, não nos faz sentir melhor. Muito pelo contrário. Se tivermos estabelecido e concordado com uma relação de exclusividade em que não há espaço para terceiros ou comportamento poliamoroso, esse tipo de traição nos magoa e contraria.

Por que isso acontece? A antropóloga Helen Fisher indica que o amor, na verdade, mais do que a um sentimento, responde a uma série de impulsos. Um deles é o amor romântico, que define a necessidade de compartilhar a vida, o tempo e os compromissos com uma pessoa. E, em geral, estabelece-se com essa figura um vínculo de exclusividade e de apego intenso.

Por outro lado, de acordo com essa abordagem evolutiva e biológica, os relacionamentos também são movidos por um impulso sexual. Este último nem sempre atende ao valorizado princípio da exclusividade. Podemos sentir atração sexual por várias pessoas ao mesmo tempo, e isso complica tudo. No entanto, existem muitas outras razões pelas quais traímos as pessoas que amamos.

Pessoas que querem sentir outras emoções

Às vezes, a traição pode proporcionar uma sensação de novidade, risco e emoção para a pessoa. O parceiro faz parte dessa esfera rotineira, onde o afeto é seguro e os hábitos dominam tudo.

No entanto, ter uma aventura com outra pessoa proporciona uma experiência com emoções intensas e efervescentes que podem se tornar viciantes.

O reforço da autoestima ou o prazer de sentir que ainda somos desejados

As pessoas se movem por instintos muito primários. Um deles tem a ver com o simples fato de saber que somos desejados. De fato, há muitos homens e mulheres que, ainda que tenham um parceiro estável que amam, precisam saber que são atraentes e desejáveis para outras pessoas. Assim, esta é uma forma de reforçar a sua autoestima.

Descobrir outras áreas de si mesmo: o desejo como autoexploração

Conforme Helen Fisher destaca, o amor também responde a esse instinto sexual que, às vezes, impele à traição do nosso parceiro. No entanto, em certos casos, esse comportamento responde a uma necessidade mais complexa.

Buscar outros parceiros sexuais é uma forma de explorar outras áreas de si mesmo, de descobrir outros desejos, práticas, necessidades e partes reprimidas. Ou seja, aqueles que não são satisfeitos com nosso parceiro formal.

Problemas de apego

Ao longo de nossas vidas, encontramos mais de uma pessoa assim: indivíduos incapazes de construir um vínculo sólido. São muitos os que, por causa de traumas de infância ou outros problemas, constroem um tipo de apego inseguro, ambivalente ou até mesmo evitativo. Essas pessoas não sabem se comprometer ou podem até mesmo ficar obcecadas com a ideia de que vamos abandoná-las ou que não as amamos o suficiente.

Esses problemas de apego às vezes as levam a trair o parceiro por causa da sua clara incapacidade de formar um tipo de relacionamento com base na confiança.

Uma pesquisa da Universidade Estadual da Florida incide sobre essa relação. A teoria do apego ainda continua a ser uma estrutura útil para entender certos comportamentos associados à infidelidade.

Homem falando com parceira sobre por que traímos as pessoas que amamos
Há homens e mulheres que querem experimentar novas emoções, enquanto outros precisam validar a sua autoestima e mostrar que ainda são desejados.

Narcisismo inerente: mereço mais do que tenho

Se eu posso e tenho a oportunidade, por que não? A infidelidade responde a múltiplas motivações. Algumas podem ser compreensíveis, enquanto outras são mais egoístas. Às vezes, o peso da rotina apaga o desejo. Outras vezes, fatores como o estresse ou o fato de passarmos por certos problemas no relacionamento podem nos fazer procurar do lado de fora o que não temos em casa.

Porém, embora existam múltiplas variáveis que explicam por que traímos as pessoas que amamos, não podemos descartar os fatores de personalidade. Existem pessoas que, ainda que amem, acabam traindo porque priorizam os próprios desejos e necessidades. Elas se sentem até mesmo merecedoras de “algo mais”. Esse comportamento é comum na personalidade narcisista, incapaz de estabelecer uma relação exclusiva com alguém.

Quando se dá mais atenção ao “o que eu quero e tenho vontade”, torna-se impossível construir um “nós”. Em um relacionamento, o egoísmo nunca cuidado dos compromissos autênticos nem do respeito por essa exclusividade afetiva.

Portanto, embora seja verdade que o amor é um enigma envolto em mistério, sempre devemos exigir o respeito e a capacidade de construir laços saudáveis e felizes. A traição sempre cria distância e ataques contra a confiança.


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  • Fisher, H. E., Xu, X., Aron, A., & Brown, L. L. (2016). Intense, Passionate, Romantic Love: A Natural Addiction? How the
  • Fields That Investigate Romance and Substance Abuse Can Inform Each Other. Frontiers in psychology7, 687. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2016.00687

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