Praticar mindfulness alivia a dor, segundo um estudo

Foi demonstrado que o mindfulness é capaz de reduzir a dor. Um estudo recente explorou os fundamentos neurológicos desse fenômeno.
Praticar mindfulness alivia a dor, segundo um estudo
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O mindfulness, ou a meditação de atenção plena, pode ser uma maneira eficaz de aliviar a dor crônica, de acordo com uma pesquisa recente publicada na revista PAIN. Nesse sentido, várias pesquisas já haviam constatado que praticar mindfulness alivia a dor. Por exemplo, um estudo publicado na revista JAMA descobriu que o mindfulness pode aliviar a dor crônica, especificamente a dor lombar, de forma ainda mais eficaz do que os tratamentos padrão.

Outro estudo publicado na revista Frontiers In Psychology também descobriu que a meditação de atenção plena ajuda atletas lesionados a melhorar a consciência e a tolerância à dor.

Outro estudo também descobriu que pessoas que sofrem de condições inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide ou doença inflamatória intestinal, nas quais o estresse psicológico desempenha um papel importante, podem se beneficiar das técnicas de meditação de atenção plena.

No entanto, quais mecanismos cerebrais são responsáveis por esse efeito analgésico? Esta questão é abordada pela nova pesquisa liderada por Fadel Zeidan, professor assistente de neurobiologia e anatomia no Wake Forest Baptist Medical Center em Winston-Salem, Carolina do Norte.

Atenção plena e dor

Zeidan explica que a meditação de atenção plena consiste em estar consciente do momento presente sem muita reação emocional ou julgamento. Algumas pessoas são mais conscientes do que outras, e essas pessoas parecem sentir menos dor.

O que os pesquisadores queriam comprovar era se a predisposição inata e individual das pessoas à consciência plena estava correlacionada com uma menor sensibilidade à dor e, em caso afirmativo, quais mecanismos cerebrais entravam em ação.

Meditação e ioga

Para descobrir, os pesquisadores estudaram 76 pessoas que nunca haviam meditado antes. Seus níveis de atenção plena foram avaliados usando o Freiburg Mindfulness Inventory. Este teste avalia a não identificação com os pensamentos e sentimentos, a aceitação, a abertura, a não reatividade, a compreensão dos processos mentais e a observação do momento presente.

Posteriormente, os pesquisadores administraram uma estimulação dolorosa de calor e uma estimulação indolor aos participantes, usando uma ressonância magnética funcional para estudar suas atividades cerebrais. Os pesquisadores partiram da hipótese de que o “traço da atenção plena” – ou a predisposição de uma pessoa a ser consciente – se correlacionaria com uma menor sensibilidade à dor e uma menor ativação de um circuito cerebral chamado rede de modo padrão.

A rede de modo padrão compreende várias áreas do cérebro que estão interconectadas e ativas no estado de repouso. Ou seja, quando uma pessoa não presta atenção ao mundo exterior, que estimula a atenção, ela se concentra em seus estados internos. Algumas áreas-chave do cérebro que compõem essa rede incluem o córtex cingulado posterior, o córtex pré-frontal medial e o giro angular.

Meditação e a rede de modo padrão

Sabe-se que a meditação envolve um exercício de atenção na experiência imediata, afastando-se das distrações, como o pensamento autorreferencial e a mente errante.

De acordo com essa concepção, a meditação tem sido associada a uma atividade relativamente reduzida em uma rede de regiões do cérebro envolvidas no processamento autorreferencial conhecido como a rede de modo padrão ou DMN (sigla em inglês para default mode network) em meditadores experientes em comparação com não meditadores.

Da mesma forma, a mente errante tem sido associada à atividade na DMN. Por sua vez, a redução da atividade da DMN durante a meditação tem sido associada a uma melhor atenção mantida fora do exame. Pesquisas anteriores sugerem que a meditação desempenha um papel importante na redução do processamento da rede de modo padrão durante a realização do exercício.

Mulher meditando ao ar livre

Por que o mindfulness alivia a dor?

O novo estudo descobriu que uma maior atenção consciente das características se correlacionava com uma menor ativação do córtex cingulado posterior. Por outro lado, as pessoas que relataram ter sentido mais dor também mostraram uma maior atividade nessa área. Zeidan explica isso dizendo que o modo padrão é desativado ao executar qualquer tipo de tarefa, como ler ou escrever.

Além disso, diz ele, a rede de modo padrão é reativada sempre que o indivíduo deixa de realizar uma tarefa e retorna aos pensamentos, sentimentos e emoções relacionados a si mesmo.

“Os resultados do nosso estudo mostraram que os indivíduos conscientes parecem estar menos presos à experiência da dor, o que foi associado a menos relatos de dor”, afirma Zeidan. E acrescenta: “Agora temos novas munições para atacar essa região do cérebro no desenvolvimento de terapias eficazes para a dor”.

Os pesquisadores esperam que as descobertas ajudem a proporcionar alívio para pessoas que sofrem de dor crônica. “Com base em nossa pesquisa anterior, sabemos que podemos aumentar a atenção por períodos relativamente curtos de treinamento da meditação consciente, de modo que esta pode se tornar uma maneira eficaz de aliviar a dor de milhões de pessoas que sofrem de dor crônica”.

Agora que você já sabe que o mindfulness alivia a dor, o que está esperando para incluir esta prática no seu dia a dia?


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