Estudo identifica o principal fator de risco para doenças mentais

Um pesquisa realizada nos Estados Unidos assegura que o principal fator de risco para doenças mentais são as experiências adversas durante a infância. Elas têm consequências profundas, tanto para a saúde física quanto mental.
Estudo identifica o principal fator de risco para doenças mentais
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 26 agosto, 2020

De certa forma, as patologias da mente continuam sendo um mistério para a ciência. As causas dessas condições têm sido investigadas em muitos campos, do genético ao social. Após um trabalho abrangente, um grupo de pesquisadores concluiu que o principal fator de risco para as doenças mentais são as adversidades na infância.

Quando se fala em adversidades na infância, faz-se referência a situações de maus-tratos , abusos físicos, psicológicos ou sexuais, assim como experiências traumáticas (grandes perdas ou deficiências significativas). É surpreendente que, neste ponto, a ciência formal e a psicanálise se reencontrem.

A afirmação de que as adversidades na infância são o principal fator de risco para doenças mentais vem de um estudo da Dell Medical School, nos Estados Unidos. A pesquisa foi liderada por Charles Nemeroff, M.D., Ph.D., professor e chefe do departamento de psiquiatria da Dell’s Mulva Clinic for the Neurosciences e diretor do Institute for Early Life Adversity Research.

“A melhor maneira de criar crianças boas é fazê-las felizes”.
-Oscar Wilde-

O principal fator de risco para doenças mentais

Os cientistas que conduziram esse estudo não apenas apontaram que as adversidades na infância são o principal fator de risco para doenças mentais, mas também afirmaram que essas experiências têm outras consequências graves.

Em primeiro lugar, uma criança que passou por experiências difíceis ou traumáticas tem uma expectativa de vida  menor do que aquela que cresceu em um ambiente estável. O estudo associa o abuso infantil ao desenvolvimento subsequente de patologias como obesidade, derrame, diabetes, algumas formas de câncer e problemas cardiovasculares.

Do ponto de vista psiquiátrico, as crianças abusadas têm um maior risco de desenvolver vícios, especialmente o alcoolismo, assim como depressão e todos os tipos de transtornos. O estudo também indica que quem tem esse tipo de histórico traumático é o paciente mais difícil de tratar em consulta.

Dados perturbadores

O estudo indica que, de acordo com estimativas feitas até o momento, uma em cada quatro crianças é vítima de alguma forma de abuso ou de falta de afetoOs casos mais frequentes são aqueles em que ocorre abuso emocional e negligência ou abandono.

Segundo os dados coletados, pelo menos 46% dos pacientes com depressão e 57% de quem sofre de transtorno bipolar apresentam esse tipo de histórico. Além disso, quanto mais cedo ocorre o abuso, mais graves são suas sequelas e mais difícil é ajudar esses pacientes.

Da mesma forma, a gravidade do abuso sofrido e a duração do mesmo também são fatores de influência. Em todo caso, os pesquisadores destacam que todas as formas de abuso na infância deixam sequelas ao longo da vida. Eles reiteram que este é, de longe, o principal fator de risco para doenças mentais.

A atenção às crianças abusadas

Um dos aspectos apontados no estudo é que, embora o abuso emocional e a negligência sejam as duas formas de abuso mais comuns, também são as menos atendidas a tempo. Isso porque são formas de violência que não deixam sequelas perceptíveis à primeira vista.

Inclusive, muitas crianças que estiveram expostas a essas situações nunca consultam um profissional de saúde mental quando são adultas, porque não acreditam que tenham sido vítimas de abusos reais.

Elas acabam se decepcionando com a vida ou com o seu próprio desempenho, mas não procuram as causas disso no abuso infantil que sofreram. Muitas pessoas acreditam que o abuso é caracterizado apenas pela violência física ou sexual.

Fatos surpreendentes sobre esse fator de risco para doenças mentais

Um dos dados mais surpreendentes nesse estudo tem a ver com o trauma genético intergeracional. Esse fenômeno foi extensivamente estudado nas vítimas do holocausto. Tem a ver com uma alteração detectada nos óvulos e espermatozoides de pessoas que sofreram traumas psicológicos graves.

Especialistas destacam que, nesses casos, e através de mecanismos epigenéticos, o efeito do trauma é transmitido geneticamente à geração seguinte. Isso predisporia muitas pessoas a desenvolver um tipo especial de estresse que coincide com o estresse pós-traumático.

Finalmente, os pesquisadores destacam que foram encontradas mudanças nos cérebros de crianças abusadas. Elas tendem a ter um volume menor de massa cinzenta, assim como uma espessura menor no córtex pré-frontal ventral e dorsal. O estudo aponta que ainda são necessárias mais pesquisas sobre o assunto para aprofundar todas as descobertas realizadas.


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  • Se identifica principal factor de riesgo para trastornos mentales – Medscape – 17 de feb de 2020.


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