Psicobiologia: características e ramos

Psicologia e biologia são disciplinas científicas que se uniram há muito tempo para encontrar respostas. As questões que cercam nosso comportamento levaram muitos cientistas a unir esforços para estabelecer correlações entre organismo e comportamento.
Psicobiologia: características e ramos
Francisco Roballo

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Roballo.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A psicobiologia é um ramo da psicologia e, portanto, seu principal objetivo é o estudo do comportamento. Sua abordagem possui uma característica especial que delata seu nome, biologia. Por isso, desde seus primórdios no século XIX, tem se diferenciado pelo estudo dos processos mentais através dos diferentes elementos e níveis orgânicos.

Várias chaves da natureza humana ainda estão protegidas por uma escuridão que a psicologia tenta iluminar. Por outro lado, muito da força que a psicobiologia tem hoje emana de ter defendido um método que hoje consideramos científico; algo que, por outro lado, outras correntes ou perspectivas não fizeram.

O inicio da psicobiologia

A psicobiologia veio para ficar no final do século XIX. Em sua maturidade, várias ideias surgiram e amadureceram. Um exemplo de quão gradual é o processo é que só em 1859 Charles Darwin publicou seu livro A Origem das Espécies, onde descreveu, entre outras coisas, como a ligação com o ambiente produzia mudanças em outros planos.

cérebro de cor azul

A psicologia científica

O progresso tecnológico permitiu a Santiago Ramón y Cajal publicar a teoria neuronal em 1988. Concomitantemente, William James expôs os princípios da psicologia, onde explicou a função adaptativa do comportamento com uma clara base nervosa. Finalmente, cientistas como Pavlov, Thorndike e Watson estabeleceram métodos experimentais para estudar o comportamento dos organismos além da mera observação ou do uso da lógica.

Dessa forma, a psicologia procurou diferenciar-se da filosofia de uma vez por todas.

A publicação de A organização do comportamento, de Donald Hebb, também desempenhou um papel fundamental na ascensão da psicobiologia. Em seu livro, Hebb desenvolveu a primeira teoria integral de como alguns fenômenos psicológicos complexos podem ser produzidos pela atividade cerebral, como as emoções ou a tomada de decisões.

Como explicamos o comportamento?

O comportamento apresenta uma condição biológica inegável. Nosso modo de proceder e pensar, portanto, também é produto da evolução e, dependendo da espécie ou grupo de indivíduos, podemos ver diferenças significativas. Essas diferenças são marcadas por vários fatores:

  • Filogenéticos. São os traços característicos de uma espécie. Esses marcos evolutivos, como a aquisição de uma postura bípede no ser humano. Essas conquistas genéticas são o que torna possível que um organismo seja estimulado pelo ambiente.
  • Ontogenéticos. Referem-se a características individuais, desenvolvidas graças a um potencial genético. Nesse fator, entra em jogo a capacidade de desenvolver uma característica morfológica ou comportamental por meio da interação com o ambiente.
  • Epigenéticos. São os efeitos do ambiente que modulam a expressão gênica. Por exemplo, comer demais pode ativar genes que favorecem a obesidade. Essa correlação não é tão linear, o alimentação, estilo de vida ou exposição ao estresse podem ativar ou desativar a expressão dos genes herdados.

É importante esclarecer que a relação entre organismo, estímulo e resposta, que determina o comportamento, seria impossível sem a plasticidade neuronal. Essa característica baseia-se na capacidade do sistema nervoso de sofrer alterações fisiológicas de acordo com sua interação com o ambiente.

Por exemplo, o efeito de habituação, que aparece quando os limiares de reação mudam em uma pessoa excessivamente exposta a um estímulo.

As disciplinas da psicobiologia

Desde a psicobiologia, o comportamento é considerado como um conjunto de manifestações visíveis reguladas pelo sistema nervoso. Essas manifestações permitem que o organismo se relacione ativamente com o ambiente, determinando sua evolução filogenética e ontogenética.

Assim, o comportamento humano é sensível a mudanças em variáveis de condições muito diversas. A psicobiologia tem se esforçado para integrar outras disciplinas fora da psicologia para compreender esses condicionantes, criando assim vários ramos.

Ramos responsáveis pelos fatores filogenéticos

Essas disciplinas estudam as causas mais distantes do comportamento. A psicobiologia não se limita ao estudo do comportamento humano, mas também de outras espécies, pois fomos moldados sob “regras” semelhantes. Os ramos responsáveis por estudar os marcos evolutivos que marcam o comportamento são:

  • Psicologia evolucionista. Para entender o comportamento humano, é necessário estudar o processo evolutivo que nos trouxe ao lugar que ocupamos hoje.
  • Etologia. Essa disciplina baseia-se no estudo do comportamento em condições naturais, procurando estabelecer correlações entre fatores biológicos e traços comportamentais.
  • Ecologia comportamental. Estuda as estratégias comportamentais que surgiram de implicações ecológicas e evolutivas.
  • Sociobiologia. Disciplina que estuda as bases biológicas do comportamento social dos seres vivos.

Ramos ontogenéticos da psicobiologia

A causalidade do comportamento segundo fatores mais próximos no tempo seria um atributo da genética comportamental. Esse ramo se especializa em estudar a influência dos genes.

Em primeiro lugar, aborda o impacto genético no desenvolvimento de órgãos fisiológicos que funcionam como intermediários. E, por fim, estuda o impacto direto que essas expressões têm no comportamento.

Mulher feliz com cérebro iluminado

Os fatores epigenéticos e a psicobiologia do desenvolvimento

A psicobiologia do desenvolvimento concentra-se no estudo das interações imediatas do ambiente no comportamento. Por exemplo, esse ramo se encarregaria de estudar as deficiências nervosas, produto da má nutrição nos primeiros anos de vida. Essa interação é marcada por determinantes imediatos do comportamento. Assim, existem também vários ramos que são responsáveis pelo seu estudo:

  • Psicologia fisiológica. Alterações fisiológicas durante o desenvolvimento de um comportamento, causadas por uma intervenção no sistema nervoso.
  • Psicofarmacologia. Estudo através da estimulação de drogas.
  • Psicofisiologia. Estuda as variantes fisiológicas do sistema nervoso, sem realizar manipulação ou estimulação artificial.
  • Psiconeuroendocrinologia. Estuda os mecanismos pelos quais os hormônios intervêm no sistema nervoso.
  • Neuropsicologia. Disciplina que é responsável por determinar, no contexto clínico, quais estruturas nervosas participam dos diferentes processos mentais.

A história avança e os paradigmas teóricos e experimentais evoluem. A psicobiologia é o exemplo de uma disciplina que soube integrar conhecimentos de muitas outras. Atualmente, existem muitas teorias ligadas à epigenética, confirmando que muitos aspectos do comportamento permanecem um enigma.


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