Psicologia humanista: as pessoas são boas por natureza
A psicologia humanista é uma corrente psicológica com uma concepção do ser humano que se baseia na ideia de que todos somos bons por natureza, bem como na de que é preciso um projeto de vida adequado às nossas necessidades e características.
Portanto, poderíamos dizer que a psicologia humanista articula a vida de uma pessoa a partir da busca de seu projeto de vida de forma livre em relação ao seu entorno, podendo auxiliar uma pessoa que declara um desvio na sua maneira de ser no mundo.
Tomando essas ideias como base, neste artigo, vamos analisar parte da história da psicologia humanista, bem como os conceitos e chaves para compreendê-la. Por fim, faremos uma revisão das abordagens psicoterapêuticas mais relevantes derivadas da psicologia humanista.
Algumas pinceladas sobre a história da psicologia humanista
Qualquer abordagem da história necessita da delimitação de datas específicas que nos ajudem a conceber a gestação do tema em questão. No entanto, não há um momento preciso que determine o surgimento da psicologia humanista.
Ao contrário de outras correntes, a psicologia humanista não nasceu de nenhum Freud, mas ao seu longo período de germinação contribuíram diversas correntes e autores inspiradores que fizeram essa perspectiva crescer (Abraham Maslow, Erich Fromm, Kurt Goldstein, Karen Horney, Gordon Allport, Carl Rogers, Erik Erikson, Binswanger, Viktor Frankl, Fritz Perls, etc).
Desde a sua concepção, a psicologia humanista procurou ser mais uma filosofia de vida do que uma escola da psicologia. No entanto, ela se elevou ao título de “terceira força” ou “terceira psicologia”, acompanhando assim o behaviorismo e a psicanálise no desenvolvimento da psicologia.
Na verdade, o que a psicologia humanista promove é uma psicologia mais interessada nos problemas humanos, tornando essa perspectiva uma ciência por e para as pessoas, levando em conta a sua globalidade de forma dinâmica e social.
Desta forma, articulam-se várias técnicas de mudança individual e social, bem como um conjunto de valores que dizem respeito às relações da pessoa e do seu entorno em conjunto.
Psicologia humanista: chaves para compreendê-la
Conforme adiantamos, a psicologia humanista é uma perspectiva que propõe uma ciência centrada na pessoa, pois parte da premissa de que as pessoas são dignas e livres por natureza.
De alguma forma, de acordo com a filosofia que subjaz à psicologia humanista e suas abordagens, através dela, procura-se fomentar uma compreensão profunda da nossa relação com o nosso ser na natureza, o nosso ser com o resto do mundo e a forma como vivenciamos a nós mesmos.
Essas três peças constituem o quebra-cabeça do nosso ser no mundo, o que por sua vez articula nossos projetos de vida e a nossa caminhada pela vida. Ou seja, simplificando, a psicologia humanista acredita que a análise existencial é indispensável, pois, “para viver, é sempre necessário fazer alguma coisa (ainda que seja apenas respirar)”.
Assim, em resumo, a psicologia humanista propõe que:
- Deve-se contemplar e avaliar cada ser humano globalmente, tendo em vista que cada um de nós é “alguém” a partir de muitos pontos de vista, tanto internos quanto externos.
- Cada pessoa é livre para tomar as suas próprias decisões e escolher de acordo com seus critérios e expectativas de vida.
- Deve-se contemplar cada ser humano como um ser completo, incapaz de ser dividido.
- As pessoas são boas por natureza e isso só muda através do relacionamento com uma sociedade que corrompe.
- Da mesma forma, a psicologia humanista postula as relações sociais como indispensáveis para as pessoas e seu desenvolvimento.
- As pessoas são responsáveis e têm a capacidade de decidir o próprio caminho de forma inata. De fato, ter um propósito na vida nos torna mais fortes diante dela e de suas adversidades.
Escolas da psicoterapia derivadas da psicologia humanista
A psicoterapia permite penetrar nos conflitos pessoais de forma consciente, a fim de desenvolver o projeto existencial. No entanto, a seguir, vamos contemplar algumas das abordagens psicoterapêuticas mais destacadas dentro da psicologia humanista:
Psicoterapia centrada no cliente de Carl Rogers
Carl Rogers foi uma figura muito importante no campo da psicoterapia. Seu método, influenciado pelo pensamento freudiano juntamente com uma psicologia mais objetiva, orientada para a avaliação por testes, foi uma grande revolução.
Sua terapia se baseia na confiança de que o cliente sabe desenvolver o seu caminho, de tal forma que é precisamente a liberdade que facilitará as condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica e o crescimento pessoal.
A Gestalt terapia de Fritz e Laura Perls
A Gestalt terapia nasceu das mãos desse casal, que fundamentava a sua terapia na necessidade de autorrealização do ser humano, bem como no contato com o aqui e agora (ideia derivada do existencialismo e do zen-budismo).
Análise transacional de Berne
Berne foi um neuropsiquiatra que ficou impressionado com o fato de que qualquer fato observável registrado em nosso cérebro está associado a um sentimento, o que faz com que, ao evocar posteriormente, ambos apareçam juntos.
A partir dessa ideia, Berne elaborou um modelo de estados do Eu que levam a uma série de jogos e trocas que marcam o roteiro da vida de uma pessoa. Atualmente, o máximo representante desta vertente é Claude Steiner.
Psicodrama criado por Moreno
A noção psicoterapêutica chave do psicodrama criado por Moreno é “toda repetição verdadeira nos liberta do episódio original”. Seguindo essa premissa, as performances a partir dessa perspectiva se baseiam em recompor um cenário específico que representa o conflito e decompor as experiências a partir dele, como se fosse uma peça de teatro.
Terapias corporais e energéticas
Nas décadas de 1960 e 1970, desenvolveu-se uma série de abordagens que se afastaram da psicologia, concentrando a sua intervenção nos aspectos corporais, bem como enfatizando determinados exercícios corporais com a ideia de eliminar os conflitos que resultassem em bloqueios energéticos. Seu representante máximo é o psicanalista Wilhem Reich.
Logoterapia de Viktor Frankl
O psiquiatra Viktor Frankl atribui especial importância à perda de significado ou sentido da vida, o que comumente se chama de vazio existencial. Seguindo essa linha, a tarefa do terapeuta seria tentar ajudar a pessoa a redescobrir o sentido de sua existência.
A partir da perspectiva deste último autor, ficamos com esta magnífica frase: “O ser humano se torna criativo quando consegue extrair sentido de uma vida que parecia absurda. A vida é potencialmente significativa até o último momento, até o último suspiro, graças ao fato de que os significados podem ser extraídos até mesmo do próprio sofrimento.
Assim, como podemos ver, a psicologia humanista derivou em diversas abordagens que variam bastante em relação à consideração da pessoa, à empatia e à autenticidade que relaciona o terapeuta e o paciente.
Sugerimos que aprofunde o seu conhecimento da sua filosofia e dos seus desenvolvimentos consultando as obras de autores como Maslow, Erich Fromm, Viktor Frankl ou Carl Rogers. Prometemos que, através deles, você mergulhará em leituras muito enriquecedoras.