Psicomotricidade na infância: observação e intervenção

No desenvolvimento de suas funções simbólicas de pensamento e conduta, a criança pode se beneficiar do estabelecimento de uma correta habilidade psicomotora.
Psicomotricidade na infância: observação e intervenção
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O conceito de psicomotricidade da sociedade, em muitos casos, é difuso. Muitas pessoas pensam que essa habilidade da criança consiste apenas em saber se movimentar de maneira adequada. No entanto, a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil vai muito além disso.

A psicomotricidade é, por assim dizer, a janela para o mundo para a criança em todas as suas funções simbólicas, tanto comportamentais quanto cognitivas.

Uma boa psicomotricidade costuma ser o prelúdio da correta aquisição da linguagem e seu uso adequado na comunicação nas interações com os demais. Portanto, o termo psicomotricidade integra as interações cognitivas, emocionais, simbólicas e sensório-motoras que operam na criança ao longo de seu desenvolvimento cognitivo, motor e emocional.

As intervenções destinadas a melhorar a psicomotricidade trabalham, como poderemos ver a seguir, aspectos de todos esses elementos:

  • Motores: equilíbrio, lateralidade, coordenação.
  • Cognitivos: percepção, representação e criatividade.
  • Afetivo-relacionais: aquisição de limites, regulação da impaciência, emoções, segurança.
Crianças fazendo ginástica

Como estimular a psicomotricidade

Na Educação Infantil, a atividade psicomotora – a vivência corporal em relação ao adulto e aos colegas, aos objetos e no espaço – é fundamental para o bom desenvolvimento da criança.

As atividades para desenvolver a psicomotricidade deveriam ser, portanto, atrativas, variadas, motivadoras, prazerosas e lúdicas. Nesta seção, vamos ver algumas ideias fundamentais para conseguir uma boa estimulação psicomotora:

1. Espaço, materiais e papel do adulto

O material tem que ser variado e adequado para a idade da criança. Além disso, tanto o educador quanto o espaço usado nas aulas têm que acompanhar as crianças nas suas brincadeiras e no seu movimento. Os pontos mais indicados para criar um espaço de psicomotricidade são as seguintes:

  • O espaço: é necessário que se trate de um ambiente seguro. Ao mesmo tempo, deve ser suficientemente estimulante para que as crianças possam desenvolver as habilidades que nos interessam.
  • Os materiais: quanto mais variedade de materiais houver na sala de aula, maior será o desenvolvimento psicomotor das crianças.
  • O papel do adulto: o professor deve ter capacidade de observação e escuta, e de comunicação verbal e não verbal. Além disso, é fundamental ter uma boa atitude e se envolver na brincadeira.

2. Estrutura das sessões

Para que as crianças possam tirar o máximo proveito das sessões de psicomotricidade, é muito importante que estas sigam uma estrutura pensada com antecedência. Portanto, os professores deveriam planejar exatamente qual tipo de atividades querem realizar durante as aulas.

Por oposição, também é positivo deixar que os pequenos improvisem o que quiserem fazer em algumas situações. Esse espaço de liberdade não deve fugir da norma básica: o docente deve manter a liderança a todo momento.

3. Importância da brincadeira

A brincadeira, ao contrário do que poderia parecer, é uma das atividades mais úteis que as crianças podem realizar. É útil para centenas de coisas: para explorar o espaço ao redor, para aprender regras, para criar, para experimentar, para relacionar-se com outros da mesma idade…

Existem diferentes tipos de brincadeira. Cada uma delas terá um papel distinto dentro das sessões de psicomotricidade, mas todas elas podem ser úteis para conquistar algum objetivo. Por isso, elas deveriam se tornar uma das ferramentas principais de quem quiser estimular essas habilidades nos pequenos.

O desenvolvimento da psicomotricidade de 0 a 3 anos

Em seus primeiros anos de vida, a criança vai desenvolvendo suas capacidades de psicomotricidade de maneira que, entre outras coisas, vai melhorar sua autonomia pessoal e sua capacidade se se relacionar com os outros.

Nesta seção, veremos como essas habilidades evoluem nos três primeiros anos de vida. Dessa maneira, será mais simples determinar se a evolução de uma criança tem sido adequada.

De 0 a 9 meses

  • Mantém a cabeça levantada quando está de barriga para baixo.
  • Fixa o olhar e acompanha com os olhos os movimentos de um objeto ou de uma pessoa.
  • Sorri respondendo a um estímulo.
  • Reconhece visualmente a mãe ou a pessoa cuidadora.
  • Responde positivamente às interações sociais emitindo algum som.
  • Levanta e mexe a cabeça quando está de barriga para baixo.
  • Gira da posição de barriga para cima para a posição de lado e vice-versa.
  • Sorri e mexe as pernas diante de pessoas conhecidas.
  • Reconhece seus cuidadores.
  • Mantém-se sentada sem apoio.
  • Consegue se manter em pé com apoio.
  • Sorri diante da própria imagem em um espelho e tenta interagir com ela.
  • Fica incomodada e chora quando seu cuidador principal vai embora.
  • Reage com incômodo diante de pessoas estranhas.

De 9 a 12 meses

  • Senta e se levanta com apoio.
  • Engatinha.
  • Descobre objetos que foram escondidos na sua frente.
  • Coloca e tira objetos de um recipiente.
  • Dá seus primeiros passos com ajuda.
  • Interage de maneira carinhosa com outras pessoas.
  • Responde quando ouve seu nome.

Sinais de alerta aos 12 meses

  • Ainda não consegue ficar sentada sem apoio.
  • Não consegue segurar objetos com as duas mãos.
  • Não sorri para pessoas conhecidas.
  • Ainda não se interessa pelas coisas ao seu redor.
  • Não emite nenhum som para chamar a atenção.
  • Ainda não chora nem reclama na ausência das pessoas que são próximas para ela.

De 12 a 24 meses

  • Fica em pé e dá passos com apoio.
  • Empurra uma bola imitando um adulto.
  • Começa a usar a colher segurando com força.
  • Começa a comer sólidos sem problemas.
  • Manipula livremente jogos de construção.
  • Reconhece partes do corpo.
  • É capaz de reconhecer pessoas não familiares que pertencem ao seu dia a dia.
  • Reconhece os objetos de uso habitual (colher, toalha, brinquedos…).
  • Imita os movimentos do adulto na brincadeira.
  • Aceita a ausência dos pais, embora possa reclamar no começo.
  • Repete as ações que acha engraçado ou que chamam sua atenção.
  • Explora e mostra curiosidade pelos objetos familiares.
  • Bebe em um copo segurando com as duas mãos.
  • Agacha-se para pegar objetos.
  • Reconhece os espaços básicos do seu ambiente habitual (casa, parque, escola…).
  • Brinca com outras crianças durante momentos breves.
  • Compartilha objetos com outras crianças quando pedem que o faça.
  • Reconhece alguns elementos próprios da estação do ano em que está: roupa, sapatos…

Sinais de alerta aos 2 anos

  • Não anda sozinha.
  • Ainda não aponta as partes principais do corpo.
  • Nunca se aproxima nem mostra interesse por brincar com outras crianças.
  • Não reconhece diferentes espaços muito familiares (cozinha, banheiro, quarto…).
  • Falha ao imitar as ações dos adultos.
  • Não responde ao ouvir seu nome.

De 24 a 30 meses

  • Pula com os dois pés.
  • Joga a bola com as mãos e com os pés.
  • Tira os sapatos e as calças desabotoadas.
  • Utiliza a colher e o garfo e bebe no copo sem jogar os alimentos.
  • Reconhece o penico e o vaso sanitário e os usa por indicação do adulto.
  • Move-se com facilidade pelos espaços habituais (casa, escola…).
  • Identifica algumas mudanças na natureza correspondentes às estações do ano.
  • Reconhece as pessoas mais próximas em fotografias.
  • Brinca junto com crianças da mesma idade.
  • Diferencia em imagens temas relacionados a pessoas, animais e plantas.
  • Cumprimenta crianças e adultos conhecidos quando pedem que o faça.
Criança em piscina de bolinhas

De 24 a 36 meses

  • Realiza atividades que exigem movimentos manuais, como enroscar, encaixar, enfiar.
  • É capaz de correr e pular com um certo controle.
  • Pede para ir ao banheiro quando precisa.
  • Começa a mostrar preferências por alguns de seus colegas.
  • Mostra afeto por crianças menores e animais domésticos.
  • Vai conhecendo as normas e os hábitos de comportamento social dos grupos dos quais faz parte.

Sinais de alerta quando a criança tem 3 anos

  • Não faz as necessidades no banheiro.
  • É incapaz de responder a ordens simples.
  • Não identifica imagens.
  • Permanece isolada. Não mostra curiosidade pelas coisas.
  • Utiliza palavras isoladas sem conectores.
  • Não imita traços simples (vertical, horizontal…).

Todos esses sinais de alerta são apenas indícios que deveriam despertar nossa atenção para, se considerado necessário, consultar um especialista que possa ajudar a criança a fortalecer certas capacidades.

No entanto, não é necessário se preocupar em excesso se os seus filhos não tiverem alcançado os marcos normativos para a idade. Com uma intervenção a tempo, a maioria dos atrasos no desenvolvimento cognitivo de uma criança saudável são facilmente reparáveis.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.