Psicoterapia cognitiva pós-racionalista, o que é?

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista é uma abordagem muito interessante que tomou forma definitiva no início do século XXI e pode ser muito eficaz no tratamento de problemas emocionais.
Psicoterapia cognitiva pós-racionalista, o que é?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 06 maio, 2022

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista é uma corrente derivada da terapia cognitiva e do construtivismo. Foi fundada no final da década de 1990 pelo neuropsiquiatra Vittorio Guidano. Mais tarde, outros psicólogos desenvolveram e enriqueceram essas teses.

Nos eixos básicos da psicoterapia cognitiva pós-racionalista está a ideia de que cada pessoa constrói a realidade de forma única e irrepetível, e que nesse processo a linguagem e a identidade são fundamentais. O objetivo fundamental desse tipo de terapia é facilitar essa construção.

Embora a psicoterapia cognitiva pós-racionalista seja uma modalidade de intervenção clínica, também é considerada uma escola teórica (um quadro conceitual completo para compreender a clínica). Postula que o ser humano alcança o bem-estar quando consegue dar consistência e continuidade à sua história pessoal. Isso se expressa através de uma narrativa coerente e flexível sobre quem ele é e para onde está indo.

“ O desenvolvimento da personalidade se desenvolve como um processo em espiral de construções e reconstruções decorrentes da capacidade de experimentar a si mesmo como sujeito e objeto”.

-Vittorio Guidano-

homem em terapia
Linguagem e identidade são conceitos básicos na psicoterapia cognitiva pós-racionalista.

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista

Vittorio Guidano baseou-se nos trabalhos de Humberto Maturana e Francisco Varela para propor a psicoterapia cognitiva pós-racionalista. Ele partiu de um modelo cognitivo-construtivista. A ideia central aqui é que não existe uma realidade externa unívoca e definida. Tal realidade é autoconstruída e auto-organizada por cada sujeito.

Portanto, o conhecimento é gerado a partir de uma interpretação da realidade feita por cada sujeito. Isso é feito por meio de um processamento de informações fornecidas pelo mundo, que é influenciado por diferentes aspectos subjetivos de cada indivíduo.

Ao contrário do cognitivismo anterior, na psicoterapia cognitiva pós-racionalista as emoções desempenham um papel importante, mesmo acima da cognição. Essa corrente encontrou seus primeiros fundamentos no livro Cognitive Processes and Emotional Disorders, de Vittorio Guidano e Giovanni Liotti, publicado em 1983. Porém, não tomou forma definitiva até 1999.

Os níveis de experiência

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista postula que toda experiência humana ocorre em dois níveis. Tais níveis existem e atuam simultaneamente. A primeira corresponde à experiência com o mundo enquanto tal, e a segunda à interpretação ou explicação dessa experiência:

  • Primeiro nível. Corresponde à experiência imediata que uma pessoa vive. É formada pelas sensações, emoções e comportamentos que fluem naturalmente quando uma determinada experiência é vivida. É inconsciente.
  • Segundo nível. Tem a ver com a interpretação dada à experiência imediata. Inclui a compreensão e ordenação de ideias e emoções diante daquela realidade vivida. É consciente.

O trabalho do terapeuta na psicoterapia cognitiva pós-racionalista é abordar a relação entre a experiência e sua interpretação. Tal experiência engloba a identidade pessoal, ou seja, o eu ou self. Quando não há continuidade e coerência nesse terreno do eu, ou seja, quando há uma brecha entre os dois níveis, ocorrem sintomas psicológicos (ansiedade, depressão etc.).

Mulher preocupada em terapia
A experiência imediata e a maneira de interpretá-la são dois conceitos básicos desse tipo de psicoterapia.

A terapia

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista é do tipo colaborativo, ou seja, deve haver trabalho dos dois lados. A ferramenta básica utilizada é a auto-observação. O psicoterapeuta reformula os problemas emocionais vivenciados pelo paciente e então o ajuda a conscientizar seus sintomas, processá-los e integrá-los na narrativa de sua história pessoal. O resultado disso é uma leitura vital consistente.

Este tipo de terapia é conversacional. Tem a ver com a chamada “conversa de segunda ordem”. Ou seja, um tipo de diálogo direcionado em que o paciente e o terapeuta focam na análise dos aspectos sensoriais, emocionais, afetivos, emocionais e comportamentais do paciente.

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista também utiliza a técnica da Moviola. Esse nome se refere à primeira máquina que permitia editar filmes. Algo semelhante é o que é feito com o paciente nesse tipo de psicoterapia, que envolve três processos:

  • Visão panorâmica. Consiste em dividir uma experiência em uma sequência de cenas. É como assistir a um filme quadro a quadro. Isso dá uma visão geral da situação.
  • Redução. O próximo passo é especificar os detalhes sensoriais e emocionais que estão presentes em cada uma das cenas definidas. É semelhante a olhar “com uma lupa” para cada fragmento da experiência.
  • Amplificação. Uma vez que cada cena tenha sido totalmente detalhada, a sequência é reconstruída. Dessa forma, o paciente vê um panorama diferente do que percebeu inicialmente e consegue encontrar o fio condutor.

A psicoterapia cognitiva pós-racionalista é uma abordagem muito interessante que pode ser muito eficaz no tratamento de problemas, principalmente emocionais. No entanto, é aplicável a todos os tipos de sintomas.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Aguilar Prieto, A. G. (2014). Experiencia inmediata:¿ fundamento del encuentro hombre-mundo?. Intersticios19(41), 57-64.
  • Guidano, V. (2000). Psicoterapia cognitiva postracionalista y ciclo de vida individual. Revista de psicoterapia, 11(41), 35-65.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.