Recursos técnicos do mindfulness e estratégias

Conheça os dois recursos técnicos mais importantes do mindfulness, que podem ajudá-lo a ser mais flexível, a lidar com a atenção e a se expor às circunstâncias que precisam ser enfrentadas.
Recursos técnicos do mindfulness e estratégias
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A palavra de língua inglesa mindfulness é a tradução da palavra sati, do idioma pali. Em português, também costumamos usar os termos ‘atenção plena’ ou ‘consciência plena’. A palavra sati significa ‘consciência, atenção e lembrança’. Sua origem procede de uma técnica de meditação pertencente à meditação Vipassana. Hoje, falaremos sobre os principais recursos técnicos do mindfulness.

O professor Jon Kabat-Zinn foi o pioneiro na aplicação do mindfulness no Ocidente no que se refere ao âmbito clínico. Ele o define como “a consciência produto da ação de prestar atenção intencionalmente no momento presente, sem julgar as experiências que se desdobram em cada momento”.

Portanto, o elemento essencial é a aceitação radical da experiência presente sem julgá-la. Isso significa estar disposto a experimentar e conviver com as sensações, os acontecimentos mentais e as circunstâncias, independentemente de serem de tipo negativo ou positivo.

Em relação às sensações negativas, a ideia é se expor sem realizar nenhuma ação direta sobre a experiência, como tomar algum remédio, distrair-se ou tentar realizar algum tipo de controle ou evitação.

É uma ideia bastante relacionada ao desapego budista, que instrui o paciente a se ver desconectado e alheio às suas vivências, aos seus pensamentos e às suas emoções. Uma frase muito usada é “Eu não sou meus pensamentos, sou mais do que isso”.

Alguns dos elementos fundamentais da atitude necessária para a prática do mindfulness são: não julgar, ter paciência, “mente de principiante” sem deixar as experiências prévias nos influenciarem, confiança, não se esforçar, aceitação e ver as coisas da forma como elas são.

Mulher meditando

Alguns recursos técnicos do mindfulness

Bishop (2002) propôs um modelo muito minucioso que inclui os seguintes componentes de mindfulness: a autorregulação da atenção e a orientação em direção às próprias experiências no momento presente, caracterizada pela curiosidade, a abertura e a aceitação.

Autorregulação da atenção

Esse recurso faz referência a manter a atenção na experiência imediata, sem buscar seu controle, permitindo, dessa forma, um maior reconhecimento dos acontecimentos mentais no momento presente.

Para isso, o paciente tem que treinar outras habilidades, como, por exemplo, a atenção sustentada, ou a capacidade de manter a atenção durante um período contínuo de tempo.

Outra habilidade é a mudança de atenção, que nos treina a concentrar a atenção na respiração ao reconhecer pensamentos, sentimentos ou sensações.

Por fim, também destacamos a importância de não elaborar os pensamentos, os sentimentos e as sensações, ou seja, não se envolver com eles, mas observá-los e redirecionar a atenção.

Esse recurso envolve o conceito de “mente de principiante”. Isto é, aprender a utilizar a atenção de maneira que esta se centre em uma observação direta e depurada de vários objetos ao nosso redor, como se fosse a primeira vez que os víssemos.

Em vez de olhar o objeto através do filtro distorcido das nossas experiências, crenças ou expectativas, focamos a atenção em nos livrar de toda essa bagagem.

Orientação em direção à experiência

O segredo desse recurso é manter uma atitude de curiosidade, abrindo a mente para a identificação de cada um dos pensamentos, sentimentos e sensações que forem surgindo.

A pessoa tem que estar disposta a se permitir pensar, sentir e experimentar, sem utilizar estratégias evitativas.

Significa, portanto, aproximar-se da experiência com uma atitude de curiosidade, independentemente da carga emocional dela. Isso implica aprender a realizar uma aceitação radical da experiência.

Outros recursos técnicos do mindfulness, além desses que acabamos de explicar, são a atenção orientada ao presente, a aceitação radical sem julgamentos, e a escolha livre para se envolver de forma ativa em algo (respiração, atividade, etc.).

Mulher meditando ao ar livre

Benefícios de praticar mindfulness

Os recursos técnicos do mindfulness ajudam a reforçar a habilidade de manter um foco de atenção de forma estável. Isso se contrapõe ao automatismo que costuma definir os pensamentos automáticos negativos, que surgem na mente sem nos darmos conta.

Vimos que o mindfulness, por ser uma prática que rompe com a automatização, ajuda a diminuir os níveis de ativação fisiológica e de sintomas somáticos.

Ocorreria uma ativação do sistema nervoso parassimpático que ajudaria a pessoa a relaxar, inclusive mais do que com o relaxamento tradicional.

Além disso, algumas pesquisas em neurociência podem afirmar que a prática de mindfulness modifica a atividade cerebral, incluindo processos perceptivos, processos cognitivos superiores e processos de regulação emocional (Cahn e Polich, 2006).

Por fim, outro dos grandes benefícios proporcionados pela prática de mindfulness é a melhoria da saúde emocional e física. As evidências sugerem que o mindfulness está associado com uma maior flexibilidade comportamental e que esta repercute de maneira positiva na saúde.


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  • Ruiz, M.A., Díaz, M. I., Villalobos, A. (2012). Manual de Técnicas de Intervención Cognitivo Conductuales. Desclée De Brouwer, S.A

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