Rede neuronal padrão: o "piloto automático" do cérebro

Cientistas acreditam que a rede neuronal padrão controla nosso cérebro quando estamos dormindo ou em estado de repouso. Ter o cérebro no piloto automático é muito benéfico: fortalece nosso senso de si e reduz estresse e tensões.
Rede neuronal padrão: o "piloto automático" do cérebro
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Embora possa surpreender, o cérebro tem uma “vida privada” independente da consciência. Uma prova disso é a rede neuronal padrão, uma área do cérebro que age como um piloto automático toda vez que você divaga mentalmente ou se desconecta do seu entorno para entrar em um estado relaxante de autoabsorção.

Por muitos anos, pesquisadores pensaram que o cérebro mostrava todo seu potencial toda vez que realizávamos uma tarefa, especialmente as cognitivas: raciocinar, memorizar e inferir. Agora, especialistas  descobriram algo tão impressionante quanto intrigante: o cérebro nunca descansa. Mesmo quando você está dormindo, ele trabalha sem parar.

Quando você não está fazendo ou pensando em nada, ele continua imerso em atividades complexas. É precisamente nesses momentos de aparente inatividade cognitiva que a chamada rede neuronal padrão é ativada. Cientistas chamaram essa atividade, assim como todos os processos que ocorrem ​​para manter o cérebro alerta e funcionando, de “energia escura”.

O neurocientista Marcus Raichle descobriu essa “energia cerebral” única em 1990, enquanto conduzia uma série de experimentos usando imagens de ressonância magnética funcional. Ele observou que não importava que uma pessoa estivesse em repouso, não fazendo nada, divagando ou sonhando acordada. Nesse sentido, o cérebro tem uma “vida própria”, por assim dizer.

“Eu sou um cérebro, Watson. O resto de mim é um mero apêndice”.

-Arthur Conan Doyle, A Pedra de Mazarin-

O que é a rede neuronal padrão?

O que é a rede neuronal padrão?

Você pode comparar a rede neuronal padrão ao piloto automático. É basicamente o sistema que assume o controle quando você se “desconecta” mentalmente. No entanto, essa analogia não é totalmente precisa, porque a rede neuronal padrão está sempre ativa. Assim, está sempre pronta para assumir o controle quando você devaneia.

Veja um exemploDigamos que você está em uma biblioteca lendo anotações que você quer memorizar para uma prova. Em um determinado momento, você começa a sonhar acordado. É aí que a rede neuronal assume o total controle do seu cérebro.

Após alguns instantes, o som de uma cadeira sendo arrastada faz você retornar às suas anotações. Assim que você para de sonhar acordado e começa a focar nos seus estudos e no mundo ao seu redor, a chamada rede tarefa-positivo (TPN, na sigla em inglês) entra em ação.

Essa área do cérebro o ajuda a focar sua atenção em seu entorno. Dessa forma, toda a energia e atividade elétrica que ocorre no seu cérebro passa de um conjunto de estruturas cerebrais para outro, dependendo das demandas e necessidades externas da sua mente.

Onde está a rede neural padrão e o que a ativa?

Onde está a rede neuronal padrão e o que a ativa?

A rede neuronal padrão abrange três áreas muito específicas: o lobo parietal inferior posterior e os lobos temporais mediais. O Dr. Marcus Raichle chamou o circuito que é ativado nessas estruturas de rede neuronal padrão.

No entanto, em 1997, quando ele publicou esses dados, a mídia quis dar um nome mais interessante. Foi assim que surgiram termos como “rede dos sonhos” e “energia escura do cérebro”.

Agora conhecemos as partes do cérebro envolvidas nesse modo padrão. Mas o que o ativa? Por que o cérebro possui um sistema que funciona quando estamos sonhando acordado ? Esta é uma das hipóteses que os neurocientistas consideram:

  • O devaneio tem sua utilidade. O cérebro humano considera o ato de sonhar acordado uma maneira de continuar fortalecendo seu senso de si mesmo. É útil porque reduz o estresse, aumenta a criatividade e oferece sensações positivas. Além disso, é bem relaxante.

Curiosamente, o cérebro investe quase a mesma quantidade de energia quando você está em repouso que quando você está totalmente ciente do seu entorno. Ambos os estados são igualmente importantes.

A relação com transtornos psicológicos

Essa informação é de vital importância no que se refere à saúde mental. Cientistas descobriram que a rede neuronal padrão não funciona efetivamente se você tem depressão ou  transtornos de ansiedade.

Em um estudo realizado na Universidade Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, os doutores Yvette I. Sheline, Deanna M. Barch, Joseph L. Price descobriram que pacientes com depressão exibiam alterações significativas na atividade da rede neuronal padrão.

Como mencionamos anteriormente, esses estados de devaneio e autoabsorção e o simples ato de sonhar acordado são importantes para o cérebro. Divagar (ocasionalmente) promove a redução do estresse. Isso permite que você escape da realidade e vá para um lugar seguro.

A pesquisa mostrou que, embora pessoas com depressão sejam capazes de divagar ou sonhar acordadas, isso não produz emoções positivas nelas. Não é uma experiência positiva. Pelo contrário, tende a aumentar seus sentimentos de negatividade e desesperança. Assim, a rede neuronal padrão não funciona da mesma maneira em pessoas com depressão.

Cientistas acreditam que a rede neuronal padrão controla o seu cérebro quando você está dormindo ou em estado de repouso

Nesse sentido, é importante ressaltar que cientistas descobriram que pacientes com Alzheimer e pessoas com transtorno do espectro autista têm o mesmo problema. Além disso, elas têm muita dificuldade para entrar ou sair de um estado de relaxamento mental. Isso significa que elas têm menos oportunidades de fortalecer seu senso de si.

Estamos apenas começando a entender a rede neuronal padrão. Assim, esse ainda é outro mistério do cérebro. Contudo, os avanços na neurociência estão nos permitindo entendê-la melhor.


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  • Marcus E. Raichle, “La red neuronal (por defecto)”, Investigación y Ciencia, 404, mayo de 2010, págs. 20-26.
  • Wang, S., Vaishnavi, S. N., Barch, D. M., Sheline, Y. I., Coalson, R. S., Snyder, A. Z., … Rundle, M. M. (2009). The default mode network and self-referential processes in depression. Proceedings of the National Academy of Sciences106(6), 1942–1947. https://doi.org/10.1073/pnas.0812686106

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