A relação entre maconha e esquizofrenia

Embora a cannabis seja usada há séculos pela humanidade, muitas vezes negligenciamos o impacto que ela tem no cérebro dos mais jovens. Saiba mais no artigo a seguir.
A relação entre maconha e esquizofrenia
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 18 novembro, 2023

Qual é a relação entre maconha e esquizofrenia? Talvez você já tenha ouvido falar que a maconha ou seu psicoativo THC está por trás dessa grave doença mental. Bem, a primeira coisa é esclarecer que essa droga depressora não gera o referido transtorno mental por si só. No entanto, pode ativá-lo em quem já tem predisposição genética.

A maconha é uma das substâncias psicoativas mais utilizadas entre adolescentes e jovens. O uso persistente em pessoas com cérebros ainda imaturos e em desenvolvimento pode apresentar riscos e efeitos colaterais preocupantes.

Embora se trate de um composto de longa tradição em nossas culturas, cuja administração é legal em alguns países, é importante conhecer suas contraindicações.

Segundo vários estudos, pessoas com esquizofrenia são as que mais abusam da cannabis devido ao seu efeito relaxante.

Cannabis: o que é e quais são seus efeitos

Cannabis ou maconha define um grupo de três plantas com propriedades psicoativas: cannabis sativa, cannabis indica e cannabis ruderalis. Quando suas folhas, caules ou flores são secas, a planta é consumida em busca da obtenção de seus efeitos relaxantes. Isso explica sua utilidade recreativa e médica.

Por outro lado, é interessante saber que a cannabis contém mais de 120 componentes ou canabinoides. Mas a ciência ainda não sabe exatamente a funcionalidade ou os efeitos de todos. Até agora, a indústria farmacêutica concentra seu interesse em duas substâncias principais, que são as seguintes:

  • O tetraidrocanabinol (THC) é o principal psicoativo da cannabis. É responsável pela clássica “excitação”, devido à estimulação que gera nos neurônios para liberar dopamina.
  • O CDB. É usado para aliviar a inflamação e a dor. No entanto, estudos como os publicados na revista Neuropsychopharmacology argumentam que os mecanismos desse canabidiol ainda não são totalmente compreendidos e, portanto, precisamos de mais pesquisas a esse respeito.


Quais são os efeitos da maconha?

A cannabis é considerada uma droga “inofensiva” com efeitos relaxantes gratificantes, mas sua aparente inocuidade é algo que a literatura científica duvida há décadas. Um estudo revisado no A Journal of Cerebral Circulation foca naqueles que mais usam essa substância: os jovens.

O impacto que tem no cérebro, em caso de consumo prolongado, torna-se muito prejudicial. Vamos analisar, porém, como o corpo e a mente reagem sob os efeitos da maconha.

Efeitos de curto prazo

  • Tontura.
  • Relaxamento.
  • Alívio da dor.
  • Sensação de bem-estar.
  • Aumento da criatividade.
  • Sensorial alterado.
  • Variação da percepção do espaço-tempo.

Efeitos a longo prazo

  • Náusea.
  • Letargia.
  • Irritabilidade.
  • Broncodilatação.
  • Problemas para dormir.
  • Problemas de memória.
  • Episódios psicóticos.
  • Aumento da ansiedade.
  • Alterações na atenção.
  • Queda na pressão sanguínea.
  • Agressividade aumentada.
  • Tempo de reação lento.
  • Dificuldades em processar informações.
  • Investigações como as realizadas no Hospital de Sant Pau, em Barcelona, Espanha, destacam que efeitos adversos agudos e crônicos podem aparecer tanto na saúde física quanto mental.
  • A cannabis ou maconha podem se tornar uma droga viciante. Estudos como os publicados no Journal of Neuroimmune Pharmacology indicam que as alterações neurobiológicas dessa substância são semelhantes a outras dependências, embora com menor impacto cerebral.

O consumo de maconha aumenta a cada ano entre os jovens de 16 a 25 anos. Isso se traduz em um aumento nos índices de esquizofrenia, já que o THC atua como um gatilho para a doença, caso a pessoa já apresente uma predisposição genética básica.

Cannabis e esquizofrenia: usos e riscos

A maconha e a esquizofrenia constituem uma variável de grande interesse para o campo da psicologia, psiquiatria e neurociência. A ideia de que o uso persistente dessa droga atua como um gatilho para essa doença mental é muitas vezes reforçada.

Como dito no início, a maconha pode ser perigosa se a pessoa já tiver uma predisposição genética para a esquizofrenia. Analisamos mais detalhadamente.



Cannabis e esquizofrenia em homens

O consumo de cannabis é um fator de risco comprovado para jovens entre 16 e 25 anos. Temos estudos muito recentes, como os publicados na revista Psychological Medicine, onde nos fornecem informações significativas que devem ser levadas em consideração. Sobretudo diante dos processos de legalização da maconha que muitos países colocam em prática.

Essa pesquisa realizada com 6.907.859 pessoas nos diz que um quinto dos casos de esquizofrenia entre homens jovens poderia ser evitado evitando o uso de maconha.

  • O consumo de maconha é especialmente significativo entre jovens do sexo masculino. São eles que desenvolvem em maior grau esse transtorno psiquiátrico, desde que apresentem uma predisposição genética.
  • O transtorno por consumo de cannabis aumentou nos últimos anos. Esse é um fator de risco para que o número de pacientes com esquizofrenia também aumente, já que o THC atua como um gatilho nos casos já citados.
  • Da mesma forma, é pertinente levar em conta que o THC pode desencadear e/ou agravar a própria esquizofrenia, caso o paciente já a tenha desenvolvido. Lembremos que esse transtorno psiquiátrico apresenta seus sintomas entre os 18 e os 25 anos, em média.

Por que as pessoas com esquizofrenia usam maconha?

É muito comum que pacientes diagnosticados com esquizofrenia fumem maconha por seus efeitos relaxantes. Muitas pessoas relatam sentir-se mais centradas, com maior sensação de bem-estar e calma interior. Essa percepção também as faz acreditar que, graças à maconha, os episódios psicóticos serão reduzidos.

Porém, a comunidade científica já percebeu através de diversos estudos que essa percepção está equivocada. Uma vez que os compostos de cannabis são um elemento de grande interesse para a indústria farmacêutica, investiga-se o seu uso terapêutico nesse setor da população.

Ainda não há evidências conclusivas de que a cannabis tenha um benefício positivo nos sintomas e na cognição de pessoas com esquizofrenia (Ahmed et al. 2021). Precisaríamos de mais estudos que focassem em analisar melhor as doses, a forma de administração ou as características dos próprios pacientes.

A comunidade científica entende que mais pesquisas são necessárias para entender os benefícios terapêuticos da cannabis. No entanto, sua legalização pode colocar em risco inúmeros grupos, como é o caso de jovens com cérebros ainda imaturos que apresentam consumo contínuo.

Cannabis como terapia psicodélica

Já conhecemos a ligação entre cannabis e esquizofrenia e também estamos cientes do risco do uso contínuo dessa droga psicoativa. Mas e quanto ao seu uso terapêutico? Muitos pacientes com dor crônica ou em quimioterapia se beneficiam da administração de maconha.

Além disso, nos últimos anos a cannabis também fez parte da terapia psicodélica, assim como o MDMA, a psilocibina e a ayahuasca. São modelos terapêuticos assistidos por especialistas, em que o paciente se encontra a todo o momento num contexto clínico controlado.

A administração de cannabis começa com microdoses muito específicas, a fim de abordar histórias de trauma ou estresse pós-traumático. Frontiers in Psychiatry descreve os benefícios em um caso e, por sua vez, destaca a necessidade de aumentar as explorações nessa área, principalmente em casos mais graves, como traumas complexos. Estaremos esperando por mais progressos.


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