Robert Whitaker e sua sólida crítica aos psicofármacos

Robert Whitaker e sua sólida crítica aos psicofármacos
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 25 julho, 2019

Robert Whitaker foi uma das vozes mais críticas em relação à psiquiatria durante os últimos anos. Curiosamente, ele não é psiquiatra ou psicólogo, nem nada relacionado. Ele é um jornalista e se aventurou no tema da saúde mental devido a um dado que lhe pareceu escandaloso.

No ano de 1994, a faculdade de medicina da Universidade de Harvard publicou um estudo no qual demonstrou que as pessoas com esquizofrenia pioravam quando tomavam medicamentos. Além disso, mostrou que em países do chamado “terceiro mundo”, os pacientes que não tinham acesso às medicações apresentavam uma evolução mais favorável.

“Estão criando mercado para seus fármacos e estão criando pacientes. É um sucesso comercial”.
-Robert Whitaker-

O faro jornalístico de Robert Whitaker o levou a questionar o tema. A partir de então, ele publicou uma série de artigos no jornal Boston Globe. Em seguida, escreveu um livro que em pouco tempo se transformou em um clássico. Chama-se Anatomia de uma Epidemia e coloca em questão, a partir de dados muito precisos, o que se sabe sobre os psicofármacos até o momento.

Robert Whitaker e suas pesquisas

O primeiro fruto das pesquisas de Whitaker foi o livro Mad in America. Nele estão expostas as conclusões do estudo de Harvard e da própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo essas conclusões, os esquizofrênicos dos países mais desenvolvidos apresentavam uma evolução menor, apesar de terem acesso aos antipsicóticos de última geração. Entretanto, ocorria exatamente o oposto nos países pobres.

Duas faces da mesma mulher

Após essa publicação, eclodiu uma grande controvérsia encabeçada pelos psiquiatras. Whitaker foi acusado de ser pouco rigoroso em suas observações. Por isso, ele passou a realizar uma pesquisa muito mais minuciosa e extensa.  Para isso, focou-se exclusivamente nas pessoas que foram diagnosticadas com depressão e tomavam medicamentos para tratar seu problema.

Um dos dados que concluiu foi o fato de que a doença mental tinha crescido em número nos Estados Unidos de uma maneira alarmante. E tal crescimento coincidia com a distribuição e o uso dos psicofármacos. Enquanto em 1955 havia 355.000 pessoas internadas em instituições psiquiátricas nos EUA, em 1985 o número havia chegado a 1.200.000 pacientes. Como explicar que quanto maior o número de tratamentos disponíveis, mais doentes surgiam?

Alguns dados do trabalho de Whitaker

Com base nos números anteriores, Whitaker aperfeiçoou o foco de suas pesquisas e observações. Analisou casos pontuais e estatísticas disponíveis. Assim, chegou à conclusão de que antes do surgimento dos antidepressivos químicos, as pessoas que sofriam desse mal tinham etapas de aumento dos sintomas, mas logo eles diminuíam de intensidade quase de forma natural.

Robert Whitaker e sua crítica aos psicofármacos

Robert Whitaker conclui, a partir dos dados que tem disponíveis, que os antidepressivos parecem gerar um efeito positivo nos primeiros anos de tratamento. No entanto, se o uso desses medicamentos se prolonga, as pessoas pioram e sua depressão se torna crônica.

De fato, Whitaker propõe algo ainda mais preocupante. Segundo os dados que conseguiu reunir, o uso prolongado de antidepressivos gera episódios psicóticos. Ele aponta que os casos analisados mostram que quando isso ocorre, os psiquiatras simplesmente mudam o diagnóstico de depressão por outro de bipolaridade. Ele ainda indica que algo similar ocorre com os antipsicóticos que são prescritos às pessoas com esquizofrenia.

Então, o que acontece?

As ideias de Robert Whitaker causaram grande controvérsia, inclusive dentro da Universidade de Harvard. O jornalista não se conformou em fazer um diagnóstico da situação, mas acusou abertamente as grandes multinacionais farmacêuticas de estarem por trás desse fenômeno. Ele as aponta como as responsáveis por tornar crônicos os problemas mentais para construir um mercado cativo.

Obviamente, muitos psiquiatras contestaram Whitaker. No entanto, Marcia Angell , editora-chefe do New England Journal of Medicine, corroborou as descobertas do jornalista em 2011. Ela não apenas encontrou evidências de que ele podia ter razão, como também foi uma das impulsionadoras de um projeto para que Whitaker ministrasse capacitações aos psiquiatras nos Estados Unidos.

Os enigmas do cérebro humano

Quem tem conhecimento da polêmica afirma que a principal prova de que Robert Whitaker tem um trabalho sólido e impecável é o fato de que até agora nenhuma companhia farmacêutica o processou por suas afirmações. Se houvesse alguma mentira, certamente o teriam levado aos tribunais para que se retratasse e, dessa forma, o prestígio das empresas farmacêuticas se mantivesse intacto. Sua obra é recente, interessante e valiosa. Vale a pena conhecê-la.


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  • DE LA MATA RUIZ, I. V. Á. N. (2016). Anatomía de una epidemia. Robert WHITAKER (2015), Anatomía de una epidemia: medicamentos psiquiátricos y el asombroso aumento de las enfermedades mentales, Madrid, Capitán Swing, ISBN 978-84-943816-7-6, 448 páginas. Revista de la Asociación Española de Neuropsiquiatría, 36(130).

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