Satiríase: o vício masculino em sexo
A educadora sexual e psicóloga Irene Bedmar Martín tem uma frase muito ilustrativa que vale lembrar nesse momento: “Faça de seu corpo um aliado, nunca um inimigo”. A satiríase, no entanto, pode fazer com o que o corpo masculino e o sexo sejam algo até mesmo desagradável para o homem. Isso porque esse tipo de vício em sexo pode se tornar um problema realmente grave.
Ao longo do tempo, a satiríase acaba fazendo com que o homem perca o prazer no sexo, a capacidade de ter prazer em seu próprio corpo e de aproveitar algo tão bonito como desenvolver suas fantasias sexuais. O desejo acaba virando uma necessidade e é precisamente a satisfação dessa necessidade que acaba produzindo uma enorme ansiedade, monopolizando uma alta quantidade de recursos e estrangulando a possibilidade de prazer.
“A sexualidade tal como a entendemos é uma invenção histórica”.
-Pierre Bourdieu-
O que é a satiríase?
A satiríase é basicamente o vício sexual ou a hipersexualidade em homens. Ou seja, é um transtorno que se caracteriza por um comportamento sexual compulsivo. Ao longo da doença, a pessoa se torna incapaz de aproveitar o sexo, as fantasias se tornam doentias e recorrentes, até que se perde a capacidade de sentir prazer com o normal.
Devido a essa compulsão, a pessoa afetada sente a necessidade de coisas diferentes do seu comportamento habitual, e isso pode ser tanto em intensidade quanto em frequência. Só assim é possível encontrar o prazer. Se os ideais compulsivos não são alcançados, o sentimento de insatisfação e mal-estar é profundo.
Quando já está bastante avançado, o transtorno chega a um ponto em que nem o próprio ato sexual consegue ser prazeroso. A compulsão impede de obter qualquer prazer e qualquer benefício do sexo, de forma que os sentimentos prazerosos desaparecem. A vida passa simplesmente a girar em torno da busca do estímulo, e mesmo o encontro desse estímulo nunca é suficiente.
Especialistas ainda não chegaram a um acordo para classificar a satiríase como um transtorno obsessivo compulsivo. Muitos experts colocam o transtorno dentro do grupo de vícios, como qualquer outro em drogas, por exemplo.
Características da satiríase ou vício masculino em sexo
A hipersexualidade em homens tem uma série de características comuns que costumamos encontrar em uma série de perfis. As mais habituais são estas listadas a seguir:
- Calcula-se que aproximadamente 84% dos afetados pela hipersexualidade começaram a ter esse tipo de comportamento antes dos 25 anos. Indo mais além, desse percentual, 54% afirma que já possuíam o vício antes dos 18.
- Muita gente pensa erroneamente que esse transtorno compulsivo é mais comum que qualquer outro. Não há, no entanto, pesquisas que demonstram que o vício em sexo é mais frequente que em qualquer outra droga, por exemplo.
- A hipersexualidade não aparece por uma mera busca de obter prazer a todo custo. Os perfis demonstram outras necessidades, como uma válvula de escape, ou motivos de ansiedade, por estresse, por solidão, por pura tristeza e inclusive por não saber ou não ser capaz de lidar com as emoções negativas.
O vício no sexo não ocorre apenas dentro das relações da pessoa
Também é um erro muito comum acreditar que a satiríase é a necessidade de sexo com uma ou muitas pessoas. Essa compulsão é muito mais complexa que isso. Ela pode se dar por uma necessidade de autoestimulação, ou inclusive pelo consumo de pornografia.
Além disso, não está clara a gradação que determina onde começa o problema da hipersexualidade e os casos em que o comportamento ainda beira o normal. Os especialistas não conseguiram medir ainda qual é o ponto em que o desejo masculino vira problemático, já que este pode variar muito entre os diversos perfis de homem segundo sua cultura, religião, costumes, etc.
Seja como for, pelo menos já é consensual que quando um comportamento hipersexual provoca mal-estar e incômodo, já é possível buscar tratamento e podemos estar diante de um comportamento compulsivo. Este pode, inclusive, afetar o funcionamento do indivíduo dentro da sociedade em diversos níveis, como o pessoal, o social, o profissional, o econômico, o familiar, etc.
Outros especialistas no tema desenvolveram o conceito de um ciclo repetitivo que é observado naqueles que sofrem desse transtorno. O ciclo envolve:
- Obsessão.
- Caça.
- Busca.
- Prazer sexual.
- Retorno para a normalidade.
- Justificativas.
- Culpa.
- Vergonha.
- Desespero.
- Promessas.
É comum que o homem tente esconder o seu comportamento hipersexualizado. Ou seja, esse é um transtorno pouco visível, especialmente em seus momentos iniciais. Somente a pessoa que o sofre, ao reconhecer o transtorno, poderá receber o tratamento adequado.
Por sorte, hoje em dia esse vício pode ser facilmente tratado pela psicologia. Por isso é importante que divulguemos o transtorno e identifiquemos esse tipo de situação, para que as pessoas possam buscar ajuda e ter uma resolução profissional.
“Uma sexualidade livre e prazerosa pode trazer para nossa vida uma boa quantidade de gozo e prazer inofensivo.”
-Albert Ellis-