Como os sentimentos influenciam na hora de tomar decisões
Com certeza não é novidade para você o fato dos sentimentos nos influenciarem na hora de tomar decisões. Quantas vezes você se arrependeu de tomar decisões em um determinado estado emocional? Provavelmente você se deu conta de que está mais propenso a correr riscos quando se sente feliz, enquanto a tristeza provoca o efeito contrário.
Tomar decisões quando estamos irritados geralmente não dá bons resultados, e o mesmo acontece se a decisão for tomada em momentos de euforia. No entanto, você sabe realmente como os seus sentimentos influenciam as suas decisões? Alguma vez você se deixou levar pela primeira impressão para tomar uma resolução? Você sabe até que ponto as suas emoções são manipuláveis para lhe “ajudar” a tomar decisões?
A heurística e a tomada de decisão
A heurística é um atalho mental que permite que as pessoas tomem decisões e resolvam problemas de forma rápida e eficiente. Esse processo é influenciado pela emoção (medo, prazer, surpresa, etc.), ou seja, a resposta emocional afeta a decisão, tendo um papel crucial para a tomada de decisões.
Trata-se de um processo que funciona por debaixo da consciência e que encurta a tomada de decisões, permitindo que as pessoas funcionem sem que precisem realizar uma busca exaustiva de informação. Essa forma de agir se produz rápida e involuntariamente em resposta a um estímulo, pelo qual o processo afeta o humor durante um período curto de tempo.
A heurística normalmente surge quando julgamos os riscos e os benefícios de algo, dependendo dos sentimentos positivos ou negativos que associamos com um estímulo. É o equivalente a atuar segundo dita o seu coração.
Os pesquisadores constataram que se seus sentimentos em relação a algo são positivos, então é mais provável que você julgue menos os riscos e superestime os benefícios, enquanto que se seus sentimentos em relação a algo são negativos, você será mais propenso a superestimar os riscos como altos e dar menos valor aos benefícios.
Alguns exemplos da heurística
Para saber como funciona a heurística vamos analisar alguns exemplos práticos. O primeiro exemplo é tão evidente que parece muito simples. O segundo, talvez, não seja tanto.
Para começar, imagine uma cena onde as crianças vão brincar em um parque. Uma da crianças brincou por muito tempo nos balanços da casa dos seus avós e, como gosta muito deles e se divertiu bastante, tem sentimentos positivos em relação aos balanços do parque. Quando os vê, imediatamente toma a decisão de ir aos balanços do parque porque acha que vai se divertir apesar dos riscos de cair do balanço (benefício grande, pouco risco) e corre em direção a eles.
No entanto, outra criança recentemente caiu de um balanço enquanto brincava em outro lugar e se machucou muito. Essa criança, ao ver os balanços, acha que eles são uma escolha errada (pouco benefício, grande risco). Ambas as crianças tomaram um atalho mental para decidir sobre as vantagens e as desvantagens de subir nos balanços. Nenhum dos dois parou para tentar analisar de maneira realista todos os benefícios e riscos, mas tomaram sua decisão baseado numa lembrança.
Isso parece tão simples e tão evidente numa criança, mas os adultos também agem assim em múltiplas situações em que, se pensássemos de maneira reflexiva dedicando um pouco mais de tempo para a questão, tomaríamos outro tipo de decisão com a qual estaríamos mais de acordo depois.
Nessas decisões, a heurística afeta a determinação do que se considera vantagem ou desvantagem. Embora esses atalhos mentais permitam às pessoas tomar decisões precisas de maneira rápida e com frequências razoáveis, também podem conduzir a uma má tomada de decisões.
Como exemplo, pense na publicidade. As técnicas de marketing empregadas utilizam estratégias para lhe fazer sentir-se bem, despertam suas emoções positivas, que fazem alusão a suas paixões ou lhe apresentam um modo de vida com o qual você se identifica ou que gostaria de seguir.
Isso faz com que você seja mais receptivo na hora de comprar ou pagar mais pelos produtos e serviços que lhe oferecem. De fato, isso funciona até o ponto em que podemos nos sentir inclinados a comprar produtos pensando que cumprem uma necessidade que realmente não temos. Inclusive, a incapacidade de adquirir um objeto que cumpre essa suposta necessidade pode chegar a gerar ansiedade.
Algumas observações científicas sobre o hábito de tomar decisões
Constatou-se que os riscos e benefícios têm uma correlação negativa na mente das pessoas. As pesquisas revelaram que as pessoas realizam seus julgamentos sobre uma atividade ou uma tecnologia não apenas pelo que pensam a respeito, mas também pela maneira como se sentem a respeito.
Um estudo realizado em 1978 jogou muita luz sobre o importante papel que a heurística tem na tomada de decisões. Os pesquisadores descobriram que os juízos dos benefícios e dos riscos estão negativamente correlacionados.
Ou seja, verificaram que as pessoas menosprezam os riscos quando possuem uma visão mais otimista dos benefícios. O mesmo ocorre ao contrário: quanto mais pensamos nos riscos menos valor damos aos possíveis benefícios.
Certos comportamentos, como o consumo de álcool e o tabagismo, foram ditos como de alto risco e de baixo benefício, enquanto outros, como o consumo de antibióticos ou as vacinas, foram considerados de alto benefício e baixo risco.
Um pouco mais tarde, em 1980, Robert B. Zajonc afirmou que as reações afetivas aos estímulos são muitas vezes a primeira reação que se produz de forma automática e, posteriormente, que influencia a forma como se processa e julga a informação.
No ano 2000, Finucane e outros teorizaram que um sentimento positivo em relação a uma situação (ou seja, o efeito positivo) conduziria a uma menor percepção do risco e a uma percepção de maior benefício, mesmo quando a lógica não justifica essa situação.
Seja como for, as pessoas estão longe de serem a máquina racional que alguns aspiram ser. Queiramos ou não, nossa mente está preparada e predisposta a tomar a decisões de maneira rápida e utilizando apenas uma parte da informação. De fato, muitas vezes tomamos decisões antes de nos dar conta de que as tomamos, e seguimos dando voltas e voltas em algo que para nós já tem um destino: o que nós escolhemos.