7 sinais de que você é "birromântico"
O universo do afeto é poliédrico, imenso e cheio de nuances maravilhosas. Tanto é verdade que nossa capacidade de sentir atração romântica por outras pessoas pode até diferir de nossa própria orientação sexual. Um exemplo disso é ser “birromântico”, ou seja, sentir afeto e atração emocional por pessoas de múltiplos gêneros: heterossexual, homossexual, bissexual, não-binário.
Isso abre outra narrativa psicoafetiva, na qual a atração exclui a variável do desejo sexual. Mas nem por isso os sentimentos são menos profundos, enriquecedores e autênticos.
Algo assim, como podemos deduzir, causa mais um desafio pessoal e um mal-entendido relacional. Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse tema, para esclarecer conceitos e oferecer estratégias.
Ter ligações afetivas íntimas por alguém, mas sem sentir atração sexual, é um fenômeno recorrente entre a população e por vezes também preocupante.
Ser “birromântico”: o que é e quais são as suas características
Birromanticismo é um novo termo que define um comportamento psicoafetivo que sempre existiu no campo das relações humanas. No entanto, ter esse tipo de etiqueta nos permite nomear uma característica com a qual muitas pessoas se identificam. De fato, é comum que muitos usuários pesquisem na Internet por esse conceito.
Ser um “birromântico” consiste em sentir uma ligação emocional muito intensa com alguém, independentemente do seu sexo e sem sentir desejo sexual. Isso é possivel? Se existe uma ideia tradicional e muitas vezes tendenciosa, é supor que atração romântica e desejo sexual andam sempre de mãos dadas.
Mas a literatura científica esclarece cada vez mais essa distinção e a possibilidade de vivenciar tais campos separadamente.
Um estudo publicado na Psychological Science destaca que o amor romântico e o desejo sexual são experiências diferentes que apresentam diferentes substratos neurobiológicos. Nada como a neurociência para nos dar luz em um universo tão complexo quanto as relações afetivo-sexo-afetivas. Vejamos, a seguir, quais são os sinais de que alguém é “birromântico”.
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1. Você gosta de alguém, mas não de uma forma sexual
Uma pessoa “birromântica” sente uma atração intensa por alguém, mas não sente desejo sexual por essa figura. A ligação é apenas mental, emocional e afetiva, independentemente do gênero. Isso faz com que cada um tenha sua própria identidade sexual definida e, às vezes, experimente aquela proximidade especial e cativante com outras pessoas de gênero e inclinação sexual diferentes.
2. Há intensa afinidade emocional, mas não física
Os “birromânticos” têm a capacidade de ver o que há de mais belo no ser humano, para além do sexo e do gênero. Em geral, os relacionamentos são construídos onde a afinidade emocional e intelectual é muito intensa. Há uma harmonia de valores, de gostos e paixões e, embora não atinja o campo do físico, há também uma admiração pela aparência da outra pessoa.
Na ausência dessa atração sexual, são laços dominados pela serotonina e, sobretudo, pela ocitocina. Trabalhos como os realizados na Universidade de Waseda, no Japão, indicam que esse hormônio promove aquela conexão social e emocional tão relevante no ser humano.
As relações baseadas no birromantismo são dominadas principalmente pela oxitocina e não tanto pelos neurotransmissores que medeiam o desejo sexual.
3. Suas fantasias com essas pessoas não atingem o nível sexual
Como um “birromântico”, você fantasia sobre aquela pessoa por quem se sente atraído. No entanto, esses sonhos não atingem o plano físico ou sexual. São cenas dominadas pela companhia, pela cumplicidade, carinho e cuidado mútuo. É um amor baseado na admiração, numa conexão profunda que transcende o físico.
4. Você costuma considerar ter mais de um relacionamento
Você sabe que muitas pessoas ao seu redor não entenderiam. No entanto, às vezes você considera a possibilidade de se abrir para o poliamor. Você acha que seria muito enriquecedor ter aquele parceiro com quem você está emocionalmente e sexualmente sintonizado e, além disso, aquela pessoa por quem você se sente atraído apenas romanticamente.
5. Se você tem um parceiro, seus sentimentos por ele não mudam
Esse talvez seja o aspecto mais controverso e problemático. Ser “birromântico” pode fazer com que você tenha seu parceiro, mas sinta atração romântica por outras pessoas. Apesar disso, os sentimentos de amor e desejo sexual pelo homem ou mulher com quem você compartilha a vida e os projetos não variam. Eles são sólidos e autênticos.
Você pode se encontrar em situações nas quais seu parceiro expressa desconforto, desconfiança e até ciúme por causa de sua orientação romântica, pois pode processá-la como uma ameaça ao próprio vínculo.
6. Às vezes você se sente perdido ou confuso
Um efeito comum do “birromantismo” é que você duvida de sua identidade sexual. Isso pode trazer sentimentos de confusão, intimidação e até vergonha muitas vezes ao longo de sua vida. É frequente que em mais de uma ocasião você se faça perguntas como as seguintes:
- “O que eu sinto é realmente amor?”
- “Por que eu gosto dessa pessoa, mas não a quero sexualmente?”
- “Se eu tenho esses sentimentos por alguém do mesmo sexo, isso significa que outra orientação sexual me define?”
Esclarecer a própria identidade sexual pode não ser fácil para algumas pessoas. Pesquisas como as publicadas na revista Frontiers in Psychology comentam, por exemplo, que minorias sexuais como grupos queer, pansexual e LGBT+ ainda carregam inúmeros estigmas.
Identificar-se como um “birromântico” também faz parte dessa autodescoberta. E compreendê-lo e aceitá-lo pode trazer alguma dificuldade.
7. Demorou muito para você saber o que é ser birromântico
Você passou horas pesquisando na internet e em fóruns especializados. Você não conhecia esse termo, mas sentiu que mais pessoas poderiam sentir essa orientação romântica. No final, quando você consegue identificar e esclarecer esse padrão, sente alívio, mas também curiosidade. O que você mais deseja agora é conhecer outros “birromânticos” para se apoiar.
Ser “birromântico” implica em uma profunda jornada de autoconhecimento e autoaceitação.
Ser birromântico: dicas gerais para ter relacionamentos de qualidade
A afetividade tem muitas formas e linguagens. Tenha em mente que a orientação romântica de uma pessoa não coincide com a sexual, também é necessária. Permite-nos compreender, mais uma vez, a complexidade dos mecanismos de atração e como a variável do sexo não tem de estar presente.
Ora, é evidente que o “birromantismo” não é fácil, a ponto de mais de um optar por esconder e reprimir essa tendência, com o sofrimento que isso pode acarretar. Também é frequente que não seja fácil manter uma relação afetiva sexual, enquanto existe, paralelamente, um vínculo “birromântico”. O que fazer nessas situações? Confira algumas dicas abaixo:
- Para ter relacionamentos saudáveis e felizes, é preciso concordar com limites e acordos.
- Entenda que muitos de seus parceiros não entenderão o que é ser “birromântico”.
- Tenha em mente que sua vida será definida por relacionamentos afetivos sexuais e relacionamentos românticos não sexuais.
- Celebre a sua orientação romântica sem medo crescendo como casal, assumindo desafios comuns e respeitando as necessidades mútuas.
- Faça contato com grupos de “birromânticos”, organizações e grupos on-line para aprender, tirar dúvidas, extinguir medos e inseguranças.
- É importante que você sempre informe seus potenciais parceiros (românticos ou sexuais) que você é “birromântico” e o que isso implica.
- A comunicação sincera será a pedra angular que definirá cada um de seus relacionamentos. Estudos como os publicados em Frontiers in Psychology especificam que qualquer vínculo positivo e enriquecedor sempre parte dessa dimensão.
Autoaceitação e “ birromantismo “
Sua orientação romântica não pode ser escondida ou reprimida. Portanto, você deve combinar a autoconsciência com a autoaceitação. Esse sempre será o melhor ponto de partida.
Para concluir, as orientações românticas e sexuais são muito pessoais e podem variar entre nós. Vamos respeitá-los e nos conhecer melhor. Às vezes, rótulos como “birromântico” nos permitem nomear o que sentimos e, como tal, são sempre necessários e bem-vindos.
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