A síndrome de Huckleberry Finn

A síndrome de Huckleberry Finn
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 maio, 2018

Sempre que falamos sobre uma síndrome, estamos falando de um conjunto de sintomas e sinais que são conhecidos e que, portanto, foram identificados como um quadro clínico ligado a problemas de saúde. A síndrome de Huckleberry Finn é um desses conjuntos de sintomas que mostram disfunção, mas que não aparecem estritamente definidos como um distúrbio.

O nome ‘síndrome de Huckleberry Finn’ se refere a um personagem criado por Mark Twain em seus romances. Embora ele apareça em várias das obras do grande escritor americano, é no livro “As aventuras de Huckleberry Finn” que podemos apreciar a sua personalidade e sua problemática.

Antes de descrevermos no que consiste esta síndrome, é importante lembrar que a síndrome de Huckleberry Finn é, acima de tudo, uma construção da psicologia popular. Não é citada como um problema psicológico ou psiquiátrico na literatura médica. No entanto, fornece uma descrição interessante sobre determinadas personalidades.

“Nunca é tarde demais para ter uma infância feliz”.
– Tom Robbins –

Quem era Huckleberry Finn?

O personagem mais famoso das histórias criadas por Mark Twain foi Tom Sawyer. Ele era um menino corajoso, travesso e esperto que passou por uma infinidade de situações problemáticas, e foi bem-sucedido em todas elas. Um dos seus grandes amigos era Huckleberry Finn.

Huckleberry Finn

A principal característica de Huck Finn era não assumir as suas responsabilidades: faltava na escola e não se importava com os seus compromissos. Apareceu nas histórias de Twain para apoiar as aventuras de Tom Sawyer, mas atraiu tanta atenção do público que o autor decidiu escrever um romance dedicado exclusivamente a Huckleberry Finn.

É nessa obra que a personalidade desse menino é totalmente mostrada, o que contrasta nitidamente com maneira de ser de Tom Sawyer. Huck, ao contrário de Tom, era uma criança abandonada. Ele morava com uma tia e tinha um pai malvado e alcoólatra, uma ameaça para ele.

O seu pai o sequestrou e o manteve cativo por algum tempo. Ele conseguiu escapar e foi ajudado por um escravo chamado Jim. Ambos viveram aventuras perigosas e emocionantes, até serem resgatados pelo valente Tom Sawyer. Tudo isso configura um quadro psicológico que dá origem à chamada síndrome de Huckleberry Finn.

As duas características básicas da síndrome de Huckleberry Finn

Por ser um menino abandonado por um pai cruel, configura-se uma estrutura psicológica marcada basicamente por duas características: um grande vazio existencial e uma eterna busca daquilo que alivie a sua dor ou lhe traga felicidade.

Perfil masculino e estrada natural

Vejamos essas duas características essenciais presentes na síndrome de Huckleberry Finn:

  • Vazio existencial. É um sentimento profundo de que está faltando algo que dê sentido à vida. É experimentado como um descontentamento constante e um sentimento de vazio permanente. É um quadro muito parecido com o que conhecemos como depressão.
  • Busca eterna. Como dissemos anteriormente, na síndrome de Huckleberry Finn há uma busca sem fim por algo que finalmente preencha essa sensação de vazio. Um profundo desejo de encontrar alguma realidade para se sentir completo.

Como podemos ver, por trás da aparente despreocupação daqueles que se comportam como Huckleberry Finn, há uma inquietude que não encontra paz. Uma falta de significado que os leva a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, tentando encontrar significados.

Outras características da síndrome de Huckleberry Finn

Além das características básicas, existem outras características que definem a síndrome de Huckleberry Finn. Uma delas é que as pessoas que sofrem dessa síndrome são também incrivelmente inteligentes. Isso é comprovado através da sua capacidade de encontrar soluções para vários problemas. Além dessa, aparecem outras características:

  • Elas se adaptam com relativa facilidade a diferentes situações, mas no fundo, nunca se sentem confortáveis com nada.
  • Evitam responsabilidades. Isso porque rejeitam a ideia de criar raízes, já que elas mesmas não têm raízes sólidas.
  • Elas tiveram uma infância infeliz e uma figura paterna muito destrutiva.
  • Possuem baixa autoestima. Elas não se acham importantes e, por isso, são propensas a sofrer de depressão.
  • Mudam constantemente de amigos, de parceiros, de trabalho… Elas têm dificuldade de colocar estabilidade nas suas vidas.
Mulher com ondas do mar no cabelo

Tanto a sensação de vazio quanto a dificuldade de construir um projeto de vida sólido nascem da falta de um vínculo saudável com a família durante a infância. Isso ajuda a formar uma personalidade complexa e interessante. A síndrome de Huckleberry Finn pode ser superada? Claro que sim. Com força de vontade e ajuda profissional, é possível se reconciliar consigo mesmo e com um passado difícil.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.