Sinestesia espelho-toque, uma forma de se conectar com os demais
Todos os dias estamos em contato com os demais, com nós mesmos e com a natureza, mas será que realmente nos conectamos de forma profunda? Muitas vezes, fazer isso não é uma tarefa fácil. No entanto, podemos dizer que, de certa forma, é mais fácil para as pessoas com sinestesia espelho-toque.
Neste artigo, vamos explorar esta forma de conexão inigualável. Para começar, vamos entender o que é a sinestesia. Posteriormente, vamos nos aprofundar nas características da sinestesia espelho-toque e, finalmente, veremos como esse fenômeno pode ser medido.
O que é sinestesia?
Você imagina a música com alguma cor? Você já imaginou conseguir diferenciar sabores nas palavras? As pessoas com sinestesia conseguem fazer isso.
De acordo com o dicionário Michaelis, trata-se de uma “Relação estabelecida de forma espontânea entre sensações de caráter diferente, na qual um estímulo, além de provocar a sensação habitual e normalmente localizada, origina uma sensação subjetiva de caráter e localização diferentes”.
Ou seja, a sinestesia consiste em um tipo de alteração sensorial. Nela, um estímulo próprio de um sentido gera sensações típicas de outro sentido. Embora o fenômeno possa parecer estranho, essa forma de sentir não é patológica nem corresponde a nenhum quadro médico.
Existem diferentes formas de sinestesia, vejamos algumas delas:
- Sinestesia grafema-cor. Consiste em ser capaz de associar letras a cores. Por exemplo, a letra “a” pode se associar a vermelho, “b” a amarelo, “c” a verde, etc.
- Sinestesia som-cor. É a capacidade de ouvir um som e determinar uma cor a ele.
- Sinestesia léxico-gustativa. É uma forma de sinestesia na qual as pessoas associam as palavras ao gosto. Em outras palavras, associam as palavras a sabores.
- Sinestesia de personificação. Quando as pessoas são capazes de perceber a personalidade das letras e dos números.
O campo da sinestesia está sendo cada vez mais pesquisado. Por isso, há descobertas recentes sobre o tema, como a sinestesia espelho-toque, descoberta em 2005.
Características da sinestesia espelho-toque
Também é chamada de sinestesia espelho-tátil. Consiste na experimentação de sensações táteis após ver que outras pessoas são tocadas. Parece incrível, não é mesmo? Vejamos as principais características deste curioso tipo de sinestesia:
- Ativação do córtex somatossensorial, gerando a sensação de que a pessoa está sendo tocada;
- As pessoas com esse tipo de sinestesia sentem como se o toque no corpo da outra pessoa acontecesse em seu próprio corpo;
- Consciência: uma condição para reconhecer que se trata da sinestesia espelho-tátil é que seja uma experiência consciente;
- É um estímulo fora do normal que induz a resposta;
- Automaticidade: as experiências acontecem ser serem previamente pensadas.
As teorias sobre a causa desse tipo de sinestesia são muitas. As três principais são:
- Espelho Sensorial. Trata-se de uma teoria que sugere que as pessoas contam com uma sinestesia espelho-toque quando as ativações do sistema de espelho somatossensorial acontecem sob uma percepção fora do normal;
- Teoria do sistema visual e somatossensorial. Essa teoria diz que as pessoas com sinestesia espelho-toque contam com o sistema visual e somatossensorial diretamente conectados;
- Teoria das células bimodais. Estabelece que há células bimodais que, ao observar o tato, ativam-se tanto para os estímulos táteis quanto para os visuais.
Também estudam-se os neurônios espelho, que parecem estar mais presentes nas pessoas com sinestesia toque-espelho. Portanto, nas pessoas não sinestésicas seriam ativadas somente respostas imitativas, enquanto nas pessoas com este tipo de sinestesia a sensação é como se fosse real.
Por outro lado, a sinestesia espelho-toque está associada com a empatia. Parece que as pessoas com este tipo de sinestesia contam com uma maior ativação nos sistemas de espelho, o que faz com que desenvolvam um maior nível de empatia.
É possível mensurar a sinestesia toque-espelho?
Diversas pesquisas se esforçaram para medir a sinestesia através de diferentes métodos para compreendê-la melhor. Por exemplo, através de ressonâncias e tomografias.
Graças aos pesquisadores, hoje conhecemos de forma mais profunda o funcionamento da sinestesia toque-espelho.
Blakemore, Bristow, Bird, Frith e Ward, em seu artigo “Somatosensory activations during the observation of touch and a case of vision-touch synaesthesia”, publicado na Revista de Neurologia Brain, descreveram o experimento que realizaram.
Consistiu em investigar o sistema neural envolvido na percepção do tato através de ressonância magnética.
Isso foi realizado em 12 pessoas sem sinestesia e em “C”, uma mulher com sinestesia espelho-toque. Analisaram a atividade neuronal para a observação do toque do rosto ou pescoço humano, com o objetivo de investigar a tipografia somatosensorial em ambos casos.
Como resultado, obtiveram que os padrões de ativação de “C” eram diferentes das pessoas controle (não sinestésicas) em três sentidos:
- As ativações no córtex somatossensorial foram significativamente maiores;
- A área pré-motora esquerda de “C” ativou-se em maior medida do que nas pessoas não sinestésicas;
- O córtex da ínsula ativou-se em “C”, mas não nas pessoas sem sinestesia.
Através destas medições, foi possível demonstrar que “C” contava com um sistema de espelho para o tato que se encontra acima do normal para a percepção tátil de forma consciente.
Por outro lado, em sua tese de doutorado, Elvira Salazar decidiu analisar se a observação de estímulos dolorosos e táteis geravam uma assimetria corporal no termograma de observador. Ou seja, aplicando uma técnica que permite registrar de forma gráfica a temperatura, chamada termografia, ela se pôs a observar a assimetria.
Por quê? Em situações normais deveria haver simetria, a menos que exista uma patologia. Ela queria saber se, ao não ter simetria e observar situações de dor e tato, poderia surgir uma assimetria na termografia.
Assim, encontrou uma medida objetiva, a assimetria térmica, para estudar as manifestações fisiológicas da sinestesia espelho-toque, além de padrões de atividade cerebral, a experiência subjetiva e os marcadores comportamentais.
A sensação tátil após observar é tão profunda nas pessoas com sinestesia toque-espelho que dizem que quem é sinestésico é mais empático. Uma impressionante forma de se conectar com os demais, não é mesmo?
Esperamos que diversos estudos continuem nos aproximando desta e de outras sinestesias para conhecer mais sobre este incrível fenômeno.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Blakemore, S.J. Bristow, D., Bird, G., Frith, C., & War, J. (2005). Somatosensory activations during the observation of touch and a case of vision touch synaesthesia. Brain, 128 (7), 1571-1583.
- Salazar, E. (2012). Aplicación de la termografñia a la psicología básica. Tesis doctorral. Universidad de Granada.