Sinto que não me encaixo: o que fazer?

Se eu sinto que não me encaixo, a melhor coisa é parar. Não preciso forçar minha presença em lugares, pessoas e ambientes que não são do meu tamanho. Comemorar minha identidade, minhas paixões e cuidar do músculo da autoestima todos os dias devem ser meus principais objetivos.
Sinto que não me encaixo: o que fazer?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Sinto que não me encaixo, o que posso fazer? Há muitas pessoas que, de certa forma, gastam uma quantidade enorme da sua preciosa energia tentando se integrar, ser como os outros, fazer parte de coletivos, chegando até a renunciar à própria individualidade para encontrar um sensação de pertencimento. Na maioria desses casos, esquecemos um aspecto básico: o lado excepcional de ser único, diferente do resto.

No entanto, há algo que está claro para todos nós: há pessoas que sofrem o peso do estigma, do isolamento. Como criaturas sociais que somos, precisamos mais do que apenas interagir com os outros. Ao mesmo tempo, desejamos nos sentir parte de algo, de alguém. Sem dúvida, buscamos um sentimento mínimo de pertencimento, de segurança, e daquelas raízes para continuar crescendo em nosso projeto pessoal.

Assim, embora às vezes falem sobre a importância de reforçar a nossa individualidade, de fortalecer a “magia” de ser diferente, na realidade se trataria apenas de saber como equilibrar a balança. Todos nós sentimos essa incômoda dualidade entre o que somos e o que devemos mostrar ao mundo para que sejamos aceitos.

Portanto, o bem-estar começaria por não perder a essência e o senso de si. O segredo reside em sermos aceitos por pessoas que são significativas para nós, por seres capazes de apreciar tudo o que somos, com nossas particularidades, grandezas e até inseguranças.

“Desde a minha infância, não era
como os outros eram, não vi
como os outros viam, não pude tirar
minhas paixões de uma comum primavera” (…)
-Edgar Allan Poe-

Homem diferente dos demais

Sinto que não me encaixo e sofro por isso

É difícil não se sentir um estranho nesse mundo. Parece que, em alguns momentos, estamos indo contra a corrente, que somos apátridas vivendo em um cenário em que todos parecem estar encantados com uma mesma melodia, enquanto nós nos sentimos inspirados por outra. Talvez sejamos como aquelas árvores fascinantes, os jacarandás que florescem em um tom violeta enquanto ao seu redor as outras árvore exibem apenas a cor verde.

Quando sinto que não me encaixo, sofro por isso (uma regra tão real quanto frequente). A parte complicada de tudo isso é que estamos falando de um sofrimento que pode se tornar crônico muito facilmente. Porque a sensação de não se sentir integrado muitas vezes nasce na infância. Por exemplo, é comum pensar que existe um problema em nós, que “florescer” em uma tonalidade violeta, como a árvore mencionada acima, é algo negativo. Quando, na realidade, todos temos matizes que nos tornam excepcionais na floresta da vida.

A teoria das forças da vida de Bowen

O doutor Murray Bowen (1913-1990) desenvolveu a teoria das forças vitais na década de 1950, ao observar como nos desenvolvemos a partir de um ponto de vista emocional e natural ao mesmo tempo.

  • Bowen explicou algo muito valioso nessa abordagem. Essa teoria postula que no ser humano existem duas forças vitais básicas e, ao mesmo tempo, opostas.
  • A primeira é uma força de crescimento muito poderosa que nos leva à individualidade, onde construímos um eu separado da nossa família, amigos, sociedade…
  • A segunda é outra força igualmente poderosa que nos leva, por sua vez, a buscar e precisar de proximidade emocional.
  • De acordo com essa abordagem, a maioria de nós se move diariamente nessa dualidade muitas vezes dolorosa. Nós nos sentimos diferentes porque nosso senso de si procura se separar do resto. No entanto, almejamos nos encaixar, fazer parte daquelas dinâmicas em que os outros se movem.

Quando sofremos o “estigma” de não nos encaixar em nenhum lugar

Quando sinto que não me encaixo em nenhum lugar, não posso me culpar. Às vezes, posso chegar a pensar que o próprio mundo não tem sentido. É exatamente isso que foi demonstrado em um estudo realizado na Universidade de Michigan pelos doutores Gregory Walton e Geoffrey M.Cohen.

Nesse trabalho, foi possível observar que as pessoas que sofrem o “estigma” da exclusão, sofrendo constantemente com a “incerteza do pertencimento”, apresentam uma diminuição da sua motivação, do seu desempenho acadêmico e profissional e, por sua vez, têm um maior risco de acabar sofrendo algum tipo de alteração psicológica.

Ser diferente do resto

Quero me encaixar: o que posso fazer?

Muitas vezes, essa ideia de “sinto que não me encaixo” tem a sua origem no seio familiar. Nossa educação e as dinâmicas que surgem nesses microcenários nos marcam desde cedo com a ideia de que “não somos normais”. Por exemplo, não somos normais aos olhos dos nossos pais porque talvez não sejamos tão brilhantes quanto nossos irmãos.

Porque somos mais rebeldes, porque nossos hobbies, nossas preferências e nossas paixões não se encaixam no projeto da família. Dessa forma, podemos carregar essa marca por anos, reduzindo nossas habilidades sociais, nosso autoconceito e nossa identidade. Por isso, para fortalecer essas dimensões e melhorar nosso senso de pertencimento, vale a pena refletir sobre essas ideias.

Defina quem você é e permita-se brilhar

Uma das contribuições mais interessantes que Carl Jung nos deixou foi a sua teoria da individuação. De acordo com essa abordagem, uma das nossas responsabilidades mais importantes é a seguinte: despertar nosso potencial, a consciência individual, vencer medos e resistências e nos expressar para o mundo como somos. Com segurança e felicidade.

Esse processo leva tempo. No entanto, antes de “querermos nos encaixar com os outros”, o mais apropriado é “nos encaixarmos com nós mesmos”. Devemos promover a autoaceitação, saber quem somos e o que queremos.

Não se trata de “se encaixar”; toda resistência cria dor

Todos nós alguma vez já tentamos “encaixar” à força uma peça no buraco de um quebra-cabeça. Instantaneamente, percebemos que não adianta usar a força. Não quando as formas não se harmonizam, não quando as lacunas não se encaixam nas arestas.

  • Devemos entender que, na realidade, na vida não se trata de se encaixar, e sim de fluir. Se tentarmos fazer isso à força, vamos sofrer e podemos até optar por sacrificar parte do que somos para nos integrar em um quebra-cabeça errado.
  • Devemos entender que haverá pessoas, lugares e grupos com quem nos sentiremos identificados e outros com quem não. Além disso, em nossa jornada para encontrar um sentimento de pertencimento com alguém, podemos fazer mil variações até encontrar o nosso espaço ideal.

Seja você mesmo todos os dias da sua vida e sua “tribo” chegará até você

Não tem problema se, por um tempo, fizermos nossa própria viagem sozinhos. Durante esse trajeto, vamos nos limitar a celebrar a nós mesmos. Às vezes, ao seguir o ritmo de uma paixão ou de um impulso muito singular, acabamos encontrando a nossa própria “tribo”. É aí que tudo se harmoniza, que somos aceitos e valorizados por cada nuance, por cada canto especial.

Para concluir, se você sente que não se encaixa, a primeira coisa que pode fazer é reduzir essa angústia. Gerenciar os medos, polir as inseguranças e dar brilho ao seu próprio senso de si e ao músculo da autoestima são ações que vão nos ajudar a encontrar o nosso lugar.


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