A teoria modular da mente

Diante de concepções anteriores de funcionamento do cérebro como um processamento de informação 'online', a Teoria Modular da Mente propõe uma visão modular ou compartimentada das funções mentais, cada uma altamente especializada e inter-relacionada, embora independente das demais.
A teoria modular da mente

Última atualização: 24 abril, 2021

Até as últimas décadas do século passado, a ideia de que o cérebro funcionava como um processador de informações ‘online’ permaneceu amplamente difundida. Esta ideia defende que todos os dados recebidos são computados globalmente por todo o sistema mental, resultando em dados de saída. Já a teoria modular da mente (TMM) supôs uma ruptura dessa concepção e uma mudança de paradigma.

Quando era quase certo que o cérebro era uma espécie de computador capaz de processar apenas um conjunto finito de informações por unidade de tempo e que não poderia processar novos dados até que tivesse terminado de operar com as informações anteriores, a TMM introduziu a noção de processamento paralelo ou simultâneo; mais importante ainda, introduziu o conceito de módulo.

A partir de uma visão em que a mesma informação foi processada por todas as áreas cerebrais relevantes, uma após a outra, cada uma encarregada de tratar uma modalidade específica da mesma informação e como uma linha de montagem, foi levantada a perspectiva de um processamento simultâneo e independente que combinava resultados individuais.

Cérebro com engrenagens

Assim, nos deparamos com uma alternativa que tem representado uma ruptura intransponível e positiva no avanço da compreensão da cognição e do funcionamento do nosso cérebro, partindo da perspectiva de que o cérebro é composto por módulos altamente especializados.

No entanto, cada módulo não deve ser entendido como uma área do cérebro delimitada neuroanatomicamente. A ênfase se encontra na especialização funcional; assim, funções específicas são executadas de forma modular, podendo recrutar diferentes áreas ou diferentes sistemas funcionais.

Portanto, a imagem de uma flor não seria processada, por exemplo, primeiro pela área responsável pela forma, depois pelo tamanho, depois pela cor, depois pela memória, etc. Ao contrário, cada parte dessa imagem seria processada ao mesmo tempo por diferentes módulos, cada um encarregado de tratar de forma especializada os atributos da informação.

Conceitos básicos da teoria modular dos fundamentos da mente

Tradicionalmente, o funcionamento mental era estudado como um processo unitário que entrava em ação quando confrontado com qualquer tipo de informação. Assim, independentemente da modalidade de informação (perceptual, lógica, social, matemática, etc.), o cérebro seria ativado como um todo que, a partir das informações de entrada, produziria informações de saída já processadas e resolvidas.

Na segunda metade da década de 1980, Jerry Fodor, psicolinguista renomado que hoje é visto como o verdadeiro pai das ciências cognitivas, criou a hipótese de que a mente seria composta por um conjunto de módulos funcionais, de natureza inata, cada um deles focado em uma atividade específica com alta especialização.

“O cérebro não é um copo para encher, mas uma lâmpada para acender.”
-Plutarco-

A mente não seria mais um órgão computacional serial e unitário em seu funcionamento, mas um conjunto integrado e coordenado de funções especializadas que, após oferecer a cada uma delas um resultado específico que acabaria convergindo com os demais resultados, permitiria uma distribuição eficiente e compartimentada de subfunções mentais, o que contribuiria para a otimização processual do cérebro.

Uma maneira de entender essa visão seria através da metáfora das estações de trabalho vs a linha de montagem. Para fazer uma boneca, por exemplo, não haveria operários que passassem a boneca entre si, cada um acrescentando uma peça. Haveria estações de trabalho diferentes, cada uma fazendo uma peça diferente ao mesmo tempo, que, em uma fase final, seria montada com as outras.

Além disso, Fodor conseguiu com seus postulados – que resultaram na teoria modular da mente – gerar uma posição intermediária no processamento mental entre o behaviorismo e o cognitivismo. Sua proposta defende que os módulos da mente são ativados de forma semelhante a um comportamento ou reflexão, mas de forma ‘inferencial’, ou seja, podendo fornecer mais informações e de forma mais flexível do que a especificidade que uma reflexão requer.

Assim, as subfunções mentais estariam ‘encapsuladas’ – como a primeira teoria propunha – mas, ao mesmo tempo, seriam ‘cognitivamente penetráveis’ e seriam suscetíveis a serem afetadas por outras informações e processos mentais, como a última teoria propôs.

Características essenciais dos módulos

Fodor (1983) afirma que qualquer sistema modular deve, total ou parcialmente, atender a certos critérios:

  • Especificidade de domínio: cada módulo é especializado apenas em certos tipos de informações de entrada.
  • Encapsulamento informacional: os módulos não dependem, para a sua ativação, de outros sistemas mentais.
  • Requisito de disparo: se um tipo de informação chega ao sistema cognitivo, o módulo especializado no processamento dessa informação será necessariamente acionado de modo irreversível.
  • Alta velocidade: os módulos operam em alta velocidade, provavelmente graças aos ganhos de eficiência que os dois pontos anteriores oferecem.
  • Superficialidade da informação de saída: o resultado do processamento modular é um tipo de informação muito simples e básico; uma espécie de bloco de construção.
  • Acessibilidade limitada.
  • Ontogênese característica: o desenvolvimento ontogênico dos módulos ocorre de forma mais ou menos regular em cada ser humano.
  • Arquitetura neural predefinida: ela suportaria cada módulo de forma funcional e estrutural.

A chamada ilusão de Müller-Lyer é um fenômeno mental observável e replicável que, como muitos outros, oferece suporte empírico para essa teoria modular da mente. Essa ilusão ocorre quando a pessoa que está percebendo uma visão ilusória, mesmo depois de se dar conta da falsidade da informação visual, não consegue deixar de percebê-la com seus falsos atributos.

Neste exemplo, graças ao encapsulamento e inacessibilidade – por outros processos cognitivos – de cada módulo, o conhecimento da não veracidade da percepção não consegue corrigir o processamento visual da imagem.

Quebra-cabeça da mente

Conclusão

Após as reflexões necessárias da TMM, podemos concluir que a diversidade de módulos mentais corresponde à enorme variedade de necessidades que surgem à medida que o indivíduo se desenvolve cognitivamente em um determinado contexto.

O modelo conexionista amplamente aceito de funcionamento mental, que sustenta que a informação é processada e armazenada em circuitos neurais relativamente diferenciados, suporia o suporte neurofisiológico da teoria modular da mente.

Os agrupamentos neuronais e a disposição dos neurônios em redes seriam, então, os correlatos dos módulos propostos por Fodor.

Por fim, este modelo também acomoda o fenômeno comprovado da plasticidade cerebral; de fato, seria em virtude dessa neuroplasticidade que se daria o desenvolvimento dos módulos mentais, do ponto de vista psicofísico.


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  • Fodor, J. (1986): La modularidad de la mente. Madrid: Morata.
  • Fodor, J. (2003): La mente no funciona así. Madrid: SigloXXI.

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