Teorias da fome: por que comemos?

Teorias da fome: por que comemos?
Francisco Javier Molas López

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Javier Molas López.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Chega o meio-dia e começamos a sentir fome. Os minutos se passam e essa sensação vai se tornando cada vez mais voraz. Precisamos comer agora! Mas estamos muito ocupados e não podemos. O tempo passa, notamos que já são 16h e, de repente, não temos mais fome. Quantas vezes ouvimos frases como “Perdi a fome?” Sem dúvida, as teorias da fome apresentam diferentes respostas para a pergunta inicial: “Por que comemos?”

A resposta pode parecer simples: porque sentimos fome. Mas, será que é isso mesmo? Em parte sim, mas por que muitas vezes perdemos a fome? Por que quando fazemos o nosso prato preferido, comemos mais do que realmente precisamos? “Não estou mais com fome, mas está muito gostoso”. Assim, comemos até ficarmos “cheios” além da conta.

Ao longo deste artigo abordaremos as teorias da fome mais representativas. São aquelas que explicam nosso comportamento alimentar de forma mais precisa e que oferecem respostas para as perguntas anteriores. Vamos nos aprofundar.

Teoria do ponto de ajuste

A teoria do ponto de ajuste atribui a fome à falta de energia. Desta forma, quando comemos restabelecemos nosso nível ótimo energético, o que se conhece como ponto de ajuste energético.

Segundo esta teoria, a pessoa come até que se sente saciada, momento em que para de comer, porque restabeleceu seu ponto de ajuste e a comida cumpriu sua função. Assim, a pessoa não voltaria a repetir esta ação até que seu organismo gastasse energia suficiente para estar novamente abaixo do ponto de ajuste.

Os sistemas de ponto de ajuste são compostos por três mecanismos:

  • Mecanismo de ajuste: Estabelece o ponto de ajuste
  • Mecanismo detector: Identifica os desvios do ponto de ajuste
  • Mecanismo de ação: Atua para eliminar os desvios
Prato de salada

Todos os sistemas de ponto de ajuste (Wenning, 1999) são sistemas de retroalimentação negativa, ou seja, a retroalimentação proveniente das mudanças em um determinado sentido produz efeitos compensatórios no sentido contrário. Estes sistemas costumam ser encontrados em mamíferos e a sua finalidade é manter a homeostase.

Se esta teoria fosse 100% correta, uma vez que alcançássemos nosso ponto de ajuste, deveríamos parar de comer. No entanto, isso nem sempre acontece, não é mesmo? Continuemos nos aprofundando nas outras teorias da mente.

Teoria glucostática

No meio do século passado, diversos pesquisadores acreditavam que a ingestão de alimentos ocorria para manter o ponto de ajuste do nível de glicemia. Trata-se do que se conhece como teoria glucostática. Ou seja, comemos quando nosso nível de glicemia diminui, e paramos de fazê-lo quando restabelecemos os níveis normais.

Teoria lipostática

Outra das teorias que surgiram na mesma época é a teoria lipostática. De acordo com ela, cada pessoa tem um ponto de ajuste de gordura corporal. Assim, a conduta de comer teria como motivação o retorno a este ponto de ajuste.

Limitações das teorias do ponto de ajuste

A primeira limitação que estas teorias encontram é que não levam em conta a influência do sabor do alimento, o aprendizado e os fatores sociais. Aqui entram em jogo nosso prato preferido e as reuniões sociais.

Imaginemos por um momento que temos diante de nós nosso prato favorito e outro que não nos atrai tanto. O que costuma ocorrer? Provavelmente vamos comer pouco do prato de que não gostamos tanto, enquanto comeremos além do ponto de saciedade do prato que adoramos. Ou seja, podemos chegar a comer sem fome. Desta forma, a ingestão de alimentos não é tão controlada pelo desvio dos pontos de ajuste.

Por outro lado, Lowe (1993) afirma que mais de 50% da população americana possui um excesso significativo de depósitos de gordura quando começa a comer. Nem por isso elas deixam de comer. Portanto, este aspecto também evidencia que as teorias do ponto de ajuste são incompletas.

Além disso, se estas teorias fossem incontestáveis, o ser humano não teria sobrevivido até a atualidade. Pinel, Assanand e Lehman (2000) asseguram que “as teorias do ponto de ajuste sobre a fome e a ingestão de alimentos não concordam com as pressões evolutivas básicas relacionadas com esta ingestão da forma como a conhecemos”.

Os autores explicam que nossos antepassados precisavam comer grandes quantidades de alimentos para quando não pudessem encontrá-los. Assim, armazenariam calorias em forma de gordura corporal. Se a teoria do ponto de ajuste fosse rígida, teriam parado de comer uma vez restabelecidos os desvios, já que quando não tivessem nada para comer, não teriam reservas calóricas no corpo.

Mulher comendo sanduíche

Perspectivas do incentivo positivo nas teorias da fome

Segundo a teoria do incentivo positivo, “o que costuma mover os seres humanos e outros animais a comer não é uma carência interna de energia, e sim o fato de que são incitados a comer pelo prazer antecipado da ingestão (Toates, 1981). Isso é conhecido como valor de incentivo positivo.

“Um estômago vazio é um mau conselheiro”.
– Albert Einstein –

Esta teoria diz que a consequência das diferentes pressões que sofremos ao longo da história em relação à falta de alimentos nos levou a desejar a comida. Assim, o que provoca a fome, muito além da falta de energia, é a presença de uma comida apetitosa ou a perspectiva da mesma.

O nível de fome que sentimos dependerá da interação de diferentes fatores:

  • O sabor.
  • O que aprendemos sobre o efeito do alimento.
  • O tempo que se passou desde a última vez em que o experimentamos.
  • O tipo e a quantidade de comida que o intestino tem.
  • O fato de outras pessoas estarem comendo junto conosco ou de estarmos sozinhos.
  • Os níveis de glicose no sangue.

Teorias da fome: nem tudo é o que parece

Com este resumo sobre as principais teorias da fome, foi possível observar que a resposta de por que comemos não é tão simples. Algo tão cotidiano e habitual como o hábito de comer não é tão fácil de explicar, já que não comemos apenas quando sentimos fome. Também podemos comer porque gostamos de um determinado alimento.

Por outro lado, Jaime Silva (2007) destaca que as emoções e os estados de humor também influenciam a ingestão de alimentos. Segundo Silva, “por um lado, os estados emocionais e de humor podem influenciar o comportamento alimentar; por outro lado, a alimentação pode modificar as emoções e o humor”. Deste modo, observamos como as teorias anteriores não incluem todas as explicações para a ingestão de alimentos.

“Na sua fome quem manda é você”.
– Jose Luis Sampedro –

Silva também afirma que “a influência da emoção sobre a alimentação inclui a desinibição ou restrição alimentar, enquanto o alimento tem um efeito de modulação sobre os estados de humor”.

Quantas vezes comemos além da conta para aplacar a ansiedade? Ou quantas vezes não paramos de comer por causa dela? Sem dúvida, ainda são necessárias muitas pesquisas para aumentar a literatura científica sobre as teorias da fome.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.