Por que ter compaixão por si mesmo é importante?
Ter compaixão por si mesmo está longe de ser um ato de egoísmo. Cada um de nós é obrigado a praticar aquele autocuidado que permite, por exemplo, perdoar os erros do passado e do presente, nos dar ânimo nos momentos difíceis ou nos tratar com o respeito que merecemos. Já que ninguém vem a este mundo com esta característica de fábrica, é importante aprender a cultivá-la.
Boccaccio disse em Decameron que nada nos torna mais humanos do que sentir compaixão por nossos semelhantes. De alguma forma, tanto cultural quanto socialmente, fomos instilados com a ideia de que essa dimensão sempre vai de dentro para fora. É verdade que é preciso ter pena de quem sofre e que vivenciar esse sentimento nos torna mais nobres. No entanto, há um detalhe igualmente importante.
A compaixão também deve ser projetada para si mesmo. Fazer isso é saudável, catártico e até mesmo necessário. Há quem a defina como uma espécie de “narcisismo saudável”, mas seja o que for, esta área psicológica vai muito além do amor próprio, porque lhe dá sustentação, impulso e sentido. Vamos mergulhar um pouco mais fundo neste tópico.
Ter compaixão por si mesmo, a chave para o bem-estar psicológico
Uma coisa é gostar de si mesmo e outra é amar a si mesmo. Nem todos os amores são saudáveis, porque abundam egos e autoconceitos excessivos que os colocam num narcisismo nocivo em que só existe uma pessoa e mais ninguém.
Caminhar pelo mundo com uma autoestima desgastada dá lugar às sombras da depressão e outros problemas psicológicos. Por outro lado, homens e mulheres incapazes de controlar uma diálogo interno negativo, acusador e prejudicial estão sempre caindo no sofrimento mental. Eles perdem oportunidades, se envolvem em relacionamentos infelizes e raramente alcançam a realização pessoal.
Ter compaixão por si mesmo não é um ato de fraqueza. Às vezes, é difícil cedermos a esse sentimento porque associamos a compaixão à pena, àquele sentimento muitas vezes vazio, passivo e compreendido entre a tristeza e a ternura por algo ou por alguém.
Nós distorcemos esta dimensão até sentirmos algum desconforto quando a experimentamos. É necessário, portanto, reformulá-la e lhe dar o significado que ela merece.
Por que devemos desenvolver um pouco mais de compaixão por nós mesmos?
Kristin Neff definiu o termo autocompaixão e descreveu sua utilidade para o bem-estar psicológico. Seu trabalho de pesquisa sobre esse construto o equipara à prática da atenção plena, cujos benefícios para a saúde mental são amplamente apoiados pela ciência.
Ter compaixão por si mesmo é, antes de tudo, aceitar a imperfeição do ser humano, é assumir que somos falíveis, que erramos, e saber responder aos erros com ternura e carinho. A necessidade de desenvolver esta competência de bem-estar é múltipla:
- A Universidade de Duke (Estados Unidos) mostrou algo interessante em um estudo: pessoas que aplicam a autocompaixão no dia a dia têm uma boa inteligência emocional e uma maior satisfação com a vida.
- Também foi demonstrado que a autocompaixão está correlacionada com uma menor incidência de depressão e ansiedade. Este último é um fato relevante que vale a pena contemplar.
- Essas pessoas capazes de ser respeitosas e afetuosas consigo mesmas nos momentos difíceis constroem um diálogo interno que não julga, que não critica e que lhes permite se aceitarem como são.
- Da mesma forma, também é interessante notar que as pessoas que praticam a autocompaixão não caem nos labirintos da preocupação excessiva, em reflexões negativas que reduzem o bem-estar psicológico. (Krieger, Altenstein, Baettig, Doerig e Holtforth, 2013).
Componentes da autocompaixão
A literatura e as pesquisas sobre autocompaixão cresceram exponencialmente nos últimos anos. Já sabemos que capacitar pacientes com depressão na autocompaixão melhoraria seu progresso e recuperação progressiva.
Estudos como o realizado na Universidade de Zurique, por exemplo, falam da utilidade de incluí-la na terapia cognitivo-comportamental. Por sua vez, é interessante ter em mente aqueles elementos que dão forma e corpo ao exercício da autocompaixão. São os seguintes:
- Ser capaz de falar com bondade.
- Julgar positivamente.
- Ficar ciente de que os seres humanos não são perfeitos ou invulneráveis.
- Conhecer a si mesmo e as suas necessidades.
- Entender que o sofrimento, o erro e a perda fazem parte da vida.
- Ter compaixão por si mesmo implica saber apreciar e amar a nós mesmos como merecemos.
- A atenção plena ou mindfulness, por sua vez, nos permite desenvolver essa dimensão de forma mais eficaz.
Ter compaixão por si mesmo o impede de depender dos outros
Ter compaixão por si mesmo não é uma questão de nos perceber como fracos ou frágeis. É genuinamente valorizar a nós mesmos porque entendemos o quanto valemos e o quanto merecemos. Por sua vez, significa sermos tolerantes com nossos erros e abraçar as nossas feridas internas para nos encorajar e seguir em frente.
Há também um detalhe igualmente interessante que devemos considerar. A autocompaixão aumenta a independência para validar emoções, necessidades e autoestima. Quando sabemos o que merecemos, não somos mais totalmente dependentes da atenção dos outros e, embora apreciemos isso, não somos mais tão dependentes do nosso ambiente.
Para concluir, devemos nos permitir a imperfeição. Continuar a amar uns aos outros em todas as situações e circunstâncias é um exercício de saúde que vale a pena praticar. Hoje é um bom dia para iniciar este caminho.
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