Terapia EMDR e mindfulness: uma combinação que funciona

A terapia EMDR e o mindfulness se consagraram como uma das combinações mais eficazes contra o estresse pós-traumático.
Terapia EMDR e mindfulness: uma combinação que funciona
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Neste artigo falaremos sobre a eficácia da terapia EMDR e do mindfulness, duas intervenções terapêuticas que estão sendo utilizadas em conjunto e que parecem funcionar bem juntas.

A terapia de dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares (EMDR em inglês) é uma prática clínica que começou como um tratamento para traumas, cujo objetivo era reduzir sintomas como a hipervigilância e as memórias intrusivas.

Começou a ser aplicada nos soldados que retornavam da Guerra do Vietnã e em mulheres que haviam sido violentadas sexualmente.

A terapia EMDR é baseada no modelo de processamento adaptativo de informação (AIP). Esse princípio sustenta que a nossa mente possui uma capacidade inata de processar tudo o que acontece conosco, e o faz de maneira saudável.

O problema surge quando uma experiência traumática não é processada de forma efetiva. Nesses casos, as percepções são armazenadas da maneira como foram codificadas inicialmente, e também acompanhadas de pensamentos, sensações e imagens distorcidas.

Muitos terapeutas de prestígio combinam ao sucesso do EMDR a prática da atenção plena, o mindfulness. A atenção plena é definida, em termos gerais, como a observação consciente e sem preconceitos do que acontece na mente, com aceitação, compaixão e curiosidade.

Essas duas técnicas combinadas, a terapia EMDR e o mindfulness, estão se mostrando muito eficazes na recuperação de traumas e na despersonalização dos eventos traumáticos ocorridos.

Mulher tendo crise de ansiedade

EMDR: terapia de dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimento oculares

Francine Shapiro foi a criadora desta técnica, um plano de ação que transformou as terapias iniciais por meio dos movimentos oculares em um paradigma de processamento de informação mais integrativo.

Atualmente, ela é utilizada por inúmeros médicos. Essa técnica procura ir além do mero alívio dos sintomas do trauma, focando em evocar afetos positivos e criar mudanças profundas nas crenças fundamentais. O objetivo final é mudar também os comportamentos associados.

Dessa forma, o EMDR trata o trauma como um transtorno de processamento de informação. Ele faz isso sob o princípio de que a mente tem a capacidade de curar a si mesma se não encontrar algo que a bloqueie.

A metáfora frequentemente utilizada para descrevê-la é a capacidade da pele de curar um corte em pouco mais de uma semana, desde que não haja farpas presas na ferida. Nesse caso, a farpa seria a memória armazenada disfuncionalmente.

Esse tipo de terapia considera o processamento da memória e sua forma de armazenamento patológico mais que o evento traumático em si.

Funciona estimulando o cérebro para que recupere e processe memórias não processadas ou não curadas, e as vincula a redes de memória positiva, para dar lugar a uma restauração natural e adaptativa que diminui a carga emocional.

Como a terapia EMDR e o mindfulness funcionam

Na terapia EMDR, as memórias que foram armazenadas de maneira disfuncional (isoladas, sem forma e presas em sua forma original no sistema límbico) passam a ser processadas no neocórtex na forma de memória semântica.

O formato semântico que damos a essas memórias permite que sejam digeridas emocionalmente e existam em redes de memória com uma narrativa pessoal coerente.

O EMDR, além disso, alivia o sistema nervoso simpático reativo, associado a experiências traumáticas, e reduz consideravelmente a ativação fisiológica.

Isso é o que conecta a terapia EMDR e o mindfulness. O Dr. Laurel Parnell, renomado terapeuta de EMDR, fixou seu interesse na atenção plena em 1972. Especialmente na analogia de observar a própria mente como um laboratório e descobrir, desta maneira, as próprias verdades.

Parnell concluiu sua terapia EMDR com mindfulness após realizar vários retiros de treinamento em atenção plena com pioneiros como Jack Kornfield e Joseph Goldstein.

Muitos monges tibetanos também utilizam a visualização e o poder das imagens para cultivar qualidades tão importantes quanto a compaixão, o poder e a sabedoria.

A atenção plena faz parte do treinamento em ioga, uma tradição que enfatiza a percepção do corpo em um nível muito profundo. A atenção plena nos ajuda a experimentar a informação em vez de julgá-la.

Mulher meditando

Focados no presente

Ambas as técnicas, EMDR e mindfulness, estão focadas no presente. É por isso que ajudam a sentir o que está sendo experimentado e a encarar os acontecimentos traumáticos ou a depressão como eventos transitórios da consciência.

Essa combinação é orientada a desatar os nós dos traumas presos ou despertados excessivamente sob um estado de hipervigilância. Em resumo, ajuda a obter uma resolução adaptativa das memórias estressantes.


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  • Linde, Jason N. (2019). Mindfulness and EMDR Therapy. Pychology Today

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