Teste Gestáltico Visomotor de Bender: em que consiste?
O Teste Gestáltico Visomotor de Bender é usado para avaliar o desenvolvimento da inteligência infantil, bem como possíveis deficiências ou distúrbios cerebrais orgânicos. Baseia-se na ideia de que, a partir da função gestáltica visomotora, é possível analisar processos como percepção, motricidade fina, memória, conceitos temporais e espaciais…
Mais de 65 anos se passaram desde que a psiquiatra Lauretta Bender desenvolveu este teste a partir dos princípios teóricos da Gestalt. Assim, embora esta abordagem psicológica seja frequentemente criticada pela sua falta de rigor clínico, cabe ressaltar que neste tipo de teste temos uma interessante exceção.
Estamos diante de um teste confiável e válido que apresenta uma alta correlação com outros testes conhecidos como, por exemplo, o WISC (Escala Wechsler de Inteligência para Crianças). Além disso, estudos como o realizado em 2016 pelo psicólogo César Merino Soto, da Universidade de Lima, demonstram seus altos níveis de confiabilidade.
Neste instrumento, parte-se da ideia de que a percepção visual depende do grau de maturação do sistema nervoso central, bem como da estimulação recebida pela criança. Dessa forma, avaliando essas dimensões, também podemos verificar aspectos tão importantes quanto linguagem, memória, coordenação visomotora e até mesmo possíveis transtornos como o autismo. Veremos mais dados a seguir.
“O corpo sabe tudo. Nós sabemos muito pouco.
A intuição é a inteligência do organismo.”-Fritz Perls-
Teste Gestáltico Visomotor de Bender: para que serve?
O Teste Gestáltico Visomotor de Bender é um instrumento clínico não verbal que consiste basicamente em pedir à criança que copie 9 figuras em uma folha de papel em branco. Apresentam-se alguns cartões de referência e outros em branco, nos quais a criança deve desenhar esses padrões visuais com a maior precisão possível.
- Também se baseia na premissa de que, a partir dos 11 anos, toda criança com desenvolvimento maturacional normal fará uma cópia exata.
- A psicóloga E. M. Koppitz foi uma das pessoas que mais se aprofundaram no Teste Gestáltico Visomotor de Bender. Conforme explica em seus trabalhos, são múltiplos os processos realizados pelas crianças durante este teste. Primeiramente, elas devem integrar o padrão de estimulação visual, para então tentar reproduzi-lo.
- Diante desse objetivo, o cérebro da criança deve realizar múltiplas e precisas tarefas. Estas envolvem a ativação de sistemas sensoriais aferentes e eferentes. Assim, ela deve integrar essa figura, representá-la mentalmente, lembrar-se dela, reproduzi-la com a mão…
- Desta forma, de acordo com a Dra. Koppitz, é possível avaliar até cinco aspectos: maturidade para a aprendizagem, problemas de leitura, dificuldades emocionais, possíveis danos cerebrais e deficiências mentais.
Como se aplica o Teste Gestáltico Visomotor de Bender?
O teste é aplicado a crianças entre 5 e 11 anos e pode levar entre 15 e 30 minutos para a sua conclusão. Assim, no Teste Gestáltico Visomotor de Bender, o psicólogo oferece à criança 9 cartões em branco com um desenho em preto e branco que ela deve copiar com a maior precisão possível.
- A criança geralmente recebe a seguinte instrução: “Este é o primeiro desenho para você copiar. Faça um igual.”
- A criança não pode virar os cartões. Portanto, ela deve copiar o desenho na mesma posição em que o cartão foi entregue.
- O tempo máximo para fazer cada cópia é de 5 minutos.
Como é a avaliação?
A avaliação do Teste Gestáltico Visomotor de Bender é feita de acordo com diretrizes muito específicas determinadas pela psicóloga E. M. Koppitz. São as seguintes.
Categorias de correção
Cada item será pontuado entre zero ou um de acordo com a existência de erros na cópia ou se a reprodução da figura de referência for considerada exata. Para isso, são avaliadas essas quatro categorias.
- Distorção da forma. É observado se há uma desproporção considerável em relação à forma, se uma figura é maior que a outra, se está achatada, deformada, etc.
- Rotação. Há crianças que não conseguem copiar a mesma posição da figura original. Assim, algumas fazem a reprodução com rotações de 45º ou até mais.
- Dificuldades de integração. Nesse caso, pode acontecer que a criança omita figuras, pontos, sequências, etc.
- Perseverança. A partir dos 5 anos, a capacidade de perseverar já está presente no ser humano. Neste caso, no Teste Gestáltico Visomotor de Bender, isso pode ser visto no seu esforço ou preguiça ao copiar figuras em espiral, onde deve haver atenção tanto às rotações quanto aos planos.
Aspectos emocionais e individuais
Neste teste, assim como em qualquer outro destinado a medir o nível de maturação das crianças, observam-se diversos detalhes em termos de execução. O primeiro é que cada criança tem o seu próprio padrão maturacional. Os tempos, os processos e os marcos em que se alcançam uma série de habilidades específicas são diferentes para cada criança.
Isso também é levado em consideração no Teste de Bender. No entanto, Lauretta Bender realizou uma investigação aprofundada a fim de criar uma tabela evolutiva para resumir a capacidade de reproduzir as figuras do teste em cada faixa etária. Assim, estas são as que se utilizam atualmente como referência e que ainda continuam sendo confiáveis.
Por outro lado, e não menos interessante, E. M. Koppitz apontou que também é possível verificar os aspectos emocionais por meio deste teste. Assim, detalhes como observar a forma como algumas crianças optam por substituir desenhos de linhas onduladas por listras ou como optam por desenhar figuras grandes refletiriam uma certa impulsividade ou outros problemas que mereceriam uma avaliação mais completa.
Estamos, portanto, diante de um instrumento que ainda segue atual, que é útil e que também pode nos fornecer dados interessantes.
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- Brannigan, G. G., & Decker, S. L. (2006, January). The Bender-Gestalt II. American Journal of Orthopsychiatry. https://doi.org/10.1037/0002-9432.76.1.10
- Bender, L. (2010). Bender Visual-Motor Gestalt Test. En IB Weiner & WE Craighead (Eds.), La enciclopedia de psicología Corsini (p. 2). John Wiley & Sons. https://doi.org/10.1002/9780470479216.corpsy0124