Você sabe o que é o apego evitativo?

O apego evitativo é aquele desenvolvido pelas pessoas que tiveram que reprimir as suas emoções para receber a atenção dos seus cuidadores. Aqui, você poderá aprender quais são as suas implicações.
Você sabe o que é o apego evitativo?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 28 março, 2022

O apego é um vínculo afetivo estreito que se forma com as pessoas que cuidam de nós e nos dão segurança. Sem dúvida, trata-se de algo muito intenso no início de nossas vidas. Durante esses estágios iniciais, dependemos completamente da proteção das pessoas ao nosso redor para sobreviver. Nesse sentido, o apego se forma naturalmente como uma forma de garantir ou assegurar a sobrevivência, mas, ao mesmo tempo, é algo que marca, e muito, o caráter das primeiras relações.

Quando os adultos que cuidam de nós desempenham bem o seu papel, o mais provável é desenvolvermos um tipo de apego seguro, com independência do nosso temperamento. Assim, dependemos do outro, mas isso não leva a nenhum sentimento de ansiedade ou frustração. Enquanto isso, quando somos negligenciados ou rejeitados, o mais provável é desenvolvermos vínculos de apego inseguros. Esta é uma forma de dependência carregada de angústia e ambivalência.

Os inimigos como o ódio e apego carecem de pernas, braços e outros membros, e não têm coragem ou habilidade. Como, então, conseguiram me tornar seu escravo?”.

-Shantideva-

A forma como esses vínculos se formam durante os nossos primeiros anos de vida terá grande influência na maneira como nos relacionamos emocionalmente com os outros, a menos que façamos uma intervenção consciente nesse sentido. Portanto, podemos dizer que tais ligações deixam uma marca muito profunda, quase indelével. Dessa forma, o que podemos observar durante a vida adulta é uma tendência a replicar o estilo de apego que cada pessoa formou na infância: de alguma forma, as primeiras relações de apego já nos disseram o que podemos ou não esperar dos outros, seja isso verdadeiro ou não.

A teoria do apego

John Bowlby, um psicanalista inglês, interessou-se pelo tema do apego e desenvolveu uma teoria sobre o assunto. A partir de suas observações, ele conseguiu estabelecer que temos uma predisposição filogenética para desenvolver vínculos. Estes são especialmente dirigidos a todas as pessoas que nos fornecem proteção e segurança ou, na sua falta, que deveriam fornecê-las.

Mary Ainsworth

Posteriormente, a psicóloga Mary Dinsmore Ainsworth identificou três tipos de apego. São eles: apego seguro, apego ambivalente ou resistente e apego evitativo ou de rejeição. De acordo com a sua pesquisa, a maioria das pessoas desenvolve o primeiro tipo, mas há também um bom número de indivíduos que se enquadram nos outros dois.

O cuidador é a base que cobre as necessidades emocionais básicas do bebê, para que ele possa explorar o mundo e aprender a regular as suas emoções.

O apego seguro permite construir laços afetivos próximos e espontâneos. Enquanto isso, os inseguros (os ambivalentes e os evitativos) dão origem a fortes repressões e dificuldades para a construção de laços íntimos com os outros.

A origem dos tipos de apego

No apego seguro, quando os pais têm uma boa atitude e a disponibilidade adequada para com o filho, formam-se estreitos laços de segurança. Nesse caso, as crianças agem de maneira previsível. Assim, se a mãe se afasta, elas choram e se sentem desconfortáveis durante alguns segundos, para depois passarem a se concentrar no entorno. Então, quando ela retorna, elas ficam felizes e expressam carinho e alegria.

pais com seu bebê

Enquanto isso, se os pais são distantes ou até mesmo demonstram algum sinal de rejeição em relação ao filho ou se, pelo contrário, são excessivamente atenciosos, o mais provável é que o bebê/criança desenvolva um tipo de apego inseguro ou ambivalente. Quando isso acontece, as crianças percebem que as suas necessidades não serão atendidas ou temem que elas fiquem para ser atendidas no futuro; por isso a sua ansiedade ou evitação como uma forma de se proteger diante do abandono ou indiferença antecipada.

Elas podem até mesmo aprender que as demonstrações de afeto incomodam as pessoas que elas mais amam, os seus pais. Os pequenos, então, começam a guardar as suas emoções para si mesmos. Nesses casos, quando a mãe se afasta, a criança mal reage. E, quando ela volta, também permanece distante e absorta em si mesma. Desenvolve-se assim uma falsa independência e um estilo de apego evitativo, que é o assunto do qual estamos tratando aqui.

Efeitos do apego evitativo e maneiras de superá-lo

Os efeitos do apego evitativo são levados para a vida adulta. As crianças que cresceram sob esses padrões se tornam adultos praticamente incapazes de expressar as suas emoções. Aliás, não apenas de expressá-las, mas também de senti-las e identificá-las. São pessoas que buscam se distanciar emocionalmente de tudo e de todos. Podem também ser indolentes em relação aos outros, bem como bastante indiferentes aos próprios sentimentos.

São pessoas que tentarão encontrar uma solução para os problemas no mundo exterior, já que a parte interna, de maneira consciente, não importa para elas.

bebê chorando muito

Essa situação se reflete especialmente nos relacionamentos amorosos. Essas pessoas sentem angústia quanto a perder a pessoa amada. Acreditam que, porque não mostram as suas emoções ou as minimizam, elas estarão se protegendo contra eventuais sofrimentos. Elas fogem dos diálogos no mundo real e são subjugadas pelos antecipados. Em vez de expressar o que as incomoda com palavras, fazem birras e criam falsos conflitos. Sofrem muito porque não conseguem amar serenamente, pois amam como se houvesse uma séria ameaça sobre elas; uma ameaça que muitas vezes não conseguem identificar.

Uma pessoa com apego evitativo enfrentará os problemas com pragmatismo, mas, na verdade, estará reprimindo emoções que posteriormente vão afetá-la em nível pessoal e até mesmo psicossomático.

Embora os padrões de apego geralmente se mantenham, sempre é possível moderá-los e aperfeiçoá-los. Às vezes, a experiência da perda de uma dessas figuras amadas leva a reflexões e mudanças nesse sentido. Em algumas ocasiões, isso se consegue através da psicoterapia. Também é possível tomar consciência do fato e trabalhar individualmente para aprender a se relacionar com o mundo de uma forma mais construtiva.

Olhando para dentro

Superar o apego evitativo passa por restabelecer a relação que existe entre a pessoa e o seu interior, em muitos casos para recuperar uma autoestima muito danificada e que causa dores emocionais incômodas e não identificadas. Somente quando se recupera essa relação é que se torna possível que a pessoa considere o interior das pessoas ao seu redor. Dessa forma, somente quando as próprias emoções são consideradas é que nasce a possibilidade da empatia para considerar as dos outros.

Assim, nesse sentido, é muito importante mudar os padrões de comunicação. Torná-los mais abertos, tanto para o bem quanto para o mal, para que possa existir uma expressão controlada das emoções, de tal forma que os outros tenham a oportunidade de aceitá-las, validá-las e, em alguns casos, acompanhá-las.

Dito dessa forma, parece algo muito fácil. Porém, se aprender é difícil, desaprender o que foi aprendido é mais ainda. Pense que o que aprendemos durante a infância, ou muito do que aprendemos, é a base sobre a qual fomos construindo o restante dos conhecimentos e hábitos que nos caracterizam atualmente. Por isso, em muitos casos, é altamente recomendável a ajuda de um profissional. Caso contrário, o desmoronamento que podemos causar movendo uma peça tão importante quanto o estilo de apego pode nos destruir.

Apego evitativo: O que dizem os estudos científicos mais recentes?

Em um estudo realizado por Camps-Pons, Castillo-Garayoa e Cifre em 2014, o estilo de apego e a sintomatologia psicopatológica foram avaliados em um grupo de adolescentes que tinham sofrido abuso familiar. Descobriu-se que dois em cada três deles apresentavam o apego inseguro (67,5%) e que, dentre estes, 37,5% apresentava o apego inseguro evitativo. No entanto, na população sem histórico de abuso familiar, dois em cada três apresentavam o apego seguro.

Assim, os resultados mostraram que o abuso familiar tem relação com o desenvolvimento do apego inseguro evitativo. Conforme apontam os autores: o abuso dentro da família implicaria em um maior risco de dificuldade para estabelecer um autoconceito e uma visão do outro que permitam regular as emoções adequadamente e estabelecer relações de confiança, minimizando assim a vulnerabilidade ao sofrimento de dificuldades psicopatológicas”.


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