Yacouba Sawadogo, o homem que venceu o Saara

No mundo, existem pessoas que nos lembram a luta entre o pequeno Davi e o gigante Golias. Uma dessas pessoas é Yacouba Sawadogo, um homem que se deparou com o Deserto do Saara e o derrotou, graças à sua perseverança e confiança nos conhecimentos ancestrais.
Yacouba Sawadogo, o homem que venceu o Saara
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 04 novembro, 2020

Yacouba Sawadogo não precisou ir para a faculdade, nem ficar atento às notícias, para perceber que o clima estava mudando. Ele mora em Burkina Faso, um país vizinho ao Deserto do Saara, e percebeu que as chuvas eram cada vez mais raras. Além disso, também percebeu que essa situação estava reduzindo gradativamente as colheitas.

Este homem, dotado de um extraordinário senso comum, vive na região conhecida como Sahel. É a região que fica entre o Saara e a savana sudanesa; uma região com condições climáticas instáveis ​​que, em várias ocasiões, desencadearam fomes dramáticas. Uma dessas etapas foi vivida entre 1968 e 1974, e foi justamente em 1974 que a luta de Yacouba Sawadogo começou.

“Espero que a legitimidade proporcionada por este prêmio ajude a inspirar e encorajar muitos outros a regenerar suas terras para o benefício da natureza, das comunidades locais e das gerações futuras”.
– Yacouba Sawadogo –

Yacouba ficou conhecido muito tempo depois, em 2018, quando ganhou o “Nobel Alternativo”, prêmio concedido em Estocolmo àqueles que se destacaram em sua luta para melhorar a humanidade. O mundo soube então do trabalho silencioso e maravilhoso que Yacouba Sawadogo havia realizado por seu povo e por todos nós.

Deserto do Saara

Yacouba Sawadogo e o Saara

Todos nós já ouvimos falar do deserto do Saara, um lugar repleto de lendas que abrangem milhares de anos. O que nem todos sabem é que, tanto ao norte quanto ao sul desta área, os moradores conseguiram criar espaços e ali se instalaram comunidades que vivem em constante luta contra a força do deserto.

No século 20, com o aumento da população na África e a chegada em massa de empresas estrangeiras, principalmente mineradoras extrativistas, os ciclos ecológicos do continente começaram a se alterar. Isso afetou inicialmente os países da área do Sahel, incluindo Burkina Faso, a terra natal de Yacouba Sawadogo.

No final da década de 1960, o deserto começou a ganhar terreno naquele país. As areias estavam engolindo as terras férteis e a fome começou a se tornar um mal geral. A maioria dos afetados só pensava em deixar o local, pois consideravam que a luta estava perdida. Foi então que Yacouba fez a diferença: decidiu ficar e lutar contra o Saara.

O uso de métodos ancestrais

Quando o solo está virando deserto, a solução é fazer um diagnóstico especializado, a partir de uma investigação minuciosa, e depois aplicar o método adequado em larga escala. Mas em Burkina Faso não havia especialistas, nem estudos de alto calibre, muito menos os milhões de dólares que teriam que ser investidos para atingir o objetivo.

Yacouba Sawadogo não ia desistir sem lutar. Por isso, juntamente com Mathieu Ouédraogo, seu amigo e companheiro de luta, ele começou a investigar por si mesmo. Eles estavam lúcidos o suficiente para procurar no único lugar onde poderiam encontrar algumas respostas: as tradições ancestrais. Naquela região, os cultivos datavam de muitos anos, portanto, em suas tradições havia sabedoria suficiente para amenizar os estragos da desertificação.

No final, os dois sonhadores aplicaram duas técnicas antigas para recuperar o solo. A primeira recebe um nome que poderia ser traduzido como “Cordões de pedras”. Consiste em fazer fileiras de seixos, para que, quando chover, a água fique estagnada por alguns minutos e, assim, possa penetrar no solo e diminuir a sua dureza.

A técnica salvadora

A segunda técnica utilizada por Yacouba Sawadogo e seu amigo foi o “Zaï Holes”. Essa técnica consiste em cavar buracos ao lado das sementes semeadas, para que ajudem a reter mais umidade. Yacouba incorporou várias inovações à técnica tradicional, como fazer orifícios ainda maiores.

Ele achou que também era uma boa ideia colocar material orgânico nos buracos, introduzindo um pouco de esterco, matéria orgânica, folhas, pequenos troncos e restos de plantas. Sem saber, mas intuindo, essa decisão foi fundamental para que o seu projeto se concretizasse.

Mas Yacouba Sawadogo não esperava que a introdução de matéria orgânica nos buracos atrairia cupins. Porém, ao contrário do que possa parecer, os cupins começaram a cavar túneis e, graças a eles, o resultado foi ainda mais bem-sucedido. Em outras palavras, os cupins fizeram o trabalho de engenharia que faltava. O resultado foi que o solo amoleceu, se tornou mais úmido e as plantas começaram a crescer.

Terreno fértil

Yacouba Sawadogo: uma vitória sobre o deserto

O mundo levou mais de 40 anos para comprovar que Yacouba Sawadogo havia vencido em sua luta feroz contra o deserto. Até agora, conseguiu recuperar mais de 3 milhões de hectares, que antes eram terras áridas e agora são terrenos férteis.

Yacouba sabia que o sucesso parcial não era suficiente, então, quando percebeu que as suas técnicas antigas funcionavam, ele começou a ensiná-las a qualquer pessoa que quisesse aprendê-las. Ele passou todos esses anos indo de um lado para o outro em sua motocicleta, transmitindo os seus ensinamentos a várias comunidades.

Hoje, com o Nobel Alternativo em seu currículo, ele nos deixa muitas lições. Ele nos ensinou que não devemos desistir sem lutar, por mais difícil que pareça, que as soluções pré-concebidas nem sempre são as melhores e, sobretudo, que o senso comum e a autoconfiança podem nos levar muito longe. Obrigado por nos lembrar disso.


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  • Puig, J. (2019). Sensibilidad por el medio ambiente y cristianismo. Scientia et Fides, 7(1), 73-96.


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