O que a neurociência diz sobre a procrastinação?

A procrastinação é um comportamento que quase todo mundo adota em algum momento. No entanto, para alguns, torna-se um problema grave. O que a neurociência diz sobre isso?
O que a neurociência diz sobre a procrastinação?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 09 setembro, 2021

Nos últimos 10 anos, um progresso notável foi feito em relação ao estudo do cérebro. O momento atual é apontado como um dos mais animadores da história da neurociência. Os cientistas começaram a examinar questões que, até agora, não haviam entrado em sua órbita, como a procrastinação.

O que a neurociência diz sobre a procrastinação? Surgiu um importante corpo de dados que nos permite explicar os processos realizados no cérebro e que, aparentemente, determinam a procrastinação. Como se sabe, os comportamentos não podem ser explicados apenas a partir de processos fisiológicos, mas estes também os influenciam.

A procrastinação não é um comportamento comum para todos. Talvez todos tenham incorrido nesses adiamentos indefinidos em algum momento, mas a verdade é que, em algumas pessoas, este é um comportamento crônico. Elas têm uma enorme dificuldade de terminar o que começaram. A pesquisa em questão se concentrou nelas.

“A neurociência, em outras palavras, nos dá permissão para nos darmos um descanso quando estamos verdadeiramente empacados, e é o descanso que nos ajuda a encontrar a solução.”
-Barbara Oakley-

A procrastinação

A procrastinação nomeia as situações em que uma atividade ou problema que deve ser abordado é adiado. Frequentemente, busca-se substituir aquela atividade ou situação por outra mais agradável e, em geral, mais irrelevante. Dessa forma, algo que é importante não é abordado ou concluído e fica “para depois”. Esse “depois” nunca chega.

Tudo isso faz com que o procrastinador comece muitas coisas e não as termine. Chega um ponto em que é muito desagradável, ou até intolerável, começar o que você tem que fazer. Assim, a pessoa procura uma maneira de “ganhar tempo”.

Um exemplo típico de procrastinação seria: uma pessoa precisa organizar um arquivo necessário para o seu trabalho. No entanto, esta é uma tarefa que ela não tem vontade de fazer. Além disso, ela entende que levará tempo e talvez, a curto prazo, não a veja como lucrativa – hoje ela leva menos tempo para localizar um documento do que para organizar o arquivo. Ela sabe que, a longo prazo, vai ganhar tempo, mas nunca encontra o momento… Diz a si mesma que o fará quando tiver um tempo livre, mas esse momento nunca chega.

Mulher descansando

O que a neurociência diz sobre o hábito de procrastinar?

A professora da Oakland University, Dra. Barbara Oakley, coletou informações sobre o que a neurociência diz sobre a procrastinação. A princípio, ela destaca que pesquisas sobre o assunto apontaram que os procrastinadores crônicos apresentavam dificuldades nas regiões neurais associadas ao autocontrole e à regulação emocional.

É possível ajustar a operação dessas zonas. O problema é que isso requer um exercício de autocontrole , o que leva a um círculo vicioso. No entanto, isso não é tudo o que a neurociência diz sobre o assunto.

Outra pesquisa a esse respeito indica que os procrastinadores têm dificuldade em regular seu humor a curto prazo. Sentem desconforto e não resolvem o problema imediatamente. Da mesma forma, há uma espécie de separação entre a percepção do eu presente e do eu futuro.

Simplificando, a procrastinação é uma forma de enfrentamento que aposta nos benefícios obtidos imediatamente.

Cérebro com mecanismos

A dor e a procrastinação

Uma hipótese mais interessante é que algumas pessoas sentem uma “dor” no cérebro ao fazer alguma atividade que seja desagradável para elas. Nesses casos, um mecanismo chamado “rede neural padrão” é ativado para aliviar essa sensação. Essa rede é ativada quando uma pessoa está presa diante de um problema que não pode ser resolvido.

De acordo com esta tese, as pessoas resolvem problemas graças a vias neurais previamente marcadas. Quando uma pessoa fica travada, é porque ela não tem referências. É quando a rede neural padrão entra em ação e a mente começa a divagar.

A partir disso, conclui-se que a pior coisa que uma pessoa pode fazer é insistir em superar esse bloqueio. O indicado é se afastar do foco da dificuldade, ou seja, descansar. Isso ajuda a ativar um foco difuso e o cérebro começa a desenvolver uma nova rota de ação.

Assim, é possível evitar a procrastinação fazendo algo tão simples quanto descansar. Se uma pessoa realizar uma atividade que lhe seja desagradável ou diante da qual esteja bloqueada, é melhor fazer uma pausa sempre que sentir necessidade. Dessa forma, é provável que consiga iniciar ou terminar aquela tarefa que não deseja fazer.


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  • Becerra, L. D. A. (2012). Aproximación a un concepto actualizado de la procrastinación. Revista Iberoamericana de psicología, 5(2), 85-94.


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