A teoria da mente: a chave para a conexão entre as pessoas

A teoria da mente facilita as nossas conexões sociais. Graças a ela, podemos intuir quais intenções, pensamentos ou desejos os outros podem ter e, em seguida, ajustar o nosso comportamento com base nessas previsões.
A teoria da mente: a chave para a conexão entre as pessoas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A teoria da mente é uma habilidade sóciocognitiva que permite se conectar com os outros. Essa competência vai muito além do clássico: “eu acho que você está sentindo ou pensando isso agora”.

Na realidade, essa faculdade nos permite entender que o que os outros sentem e pensam pode ser muito diferente do que experimentamos em um determinado momento.

Esse conceito introduzido pelo psicólogo e antropólogo Gregory Batenson é essencial para entendermos grande parte do nosso comportamento social. De alguma forma, a teoria da mente nos permite perceber que as pessoas ao nosso redor têm pensamentos e crenças diferentes dos nossos.

Os seres humanos, assim como muitos animais, são obrigados a prever comportamentos alheios, a intuir o que os outros podem estar pensando ou sentindo para ajustar o próprio comportamento.

Estamos, portanto, diante de uma série de processos cognitivos muito sofisticados: uma “tecnologia de ponta a nível emocional”.

“Somos o que pensamos. Tudo que somos surge com os nossos pensamentos. Com os nossos pensamentos, construímos o mundo”.
– Buda –

A teoria da mente

A teoria da mente: a habilidade sóciocognitiva mais importante

Costumamos falar de empatia como uma competência essencial capaz de facilitar a conexão humana. Na verdade, poucas realidades psicológicas agem como essa cola social básica para nos ajudar a conectar e levar em conta as perspectivas dos outros.

Agora, não cometeremos nenhum erro se dissermos que a teoria da mente é muito mais importante nos nossos relacionamentos sociais.

A empatia nos ajuda a saber que os outros podem sentir o mesmo que nós. A teoria enunciada por Batenson nos permite entender que a sua realidade e a minha podem ser muito diferentes.

É ela quem me ajuda a perceber, por exemplo, que talvez você esteja mentindo para mim. Também a entender que você pode reagir de maneira diferente com relação a certos estímulos.

Todos esses processos são essenciais em nossas relações sociais, nas quais o cérebro realiza tarefas fabulosas que nos permitem sobreviver, adaptar e conectar de maneira significativa dentro do ambiente.

O cérebro: uma máquina “preditiva”

O cérebro é uma máquina preditiva com um objetivo essencial: reduzir a incerteza do ambiente. Isso explica, como indicado em um estudo realizado na Universidade de Michigan pelo Dr. John Anderson, a grande importância da teoria da mente em nossos ambientes sociais.

As pessoas precisam prever não apenas os comportamentos daqueles que as rodeiam. Também é importante intuir os seus conhecimentos, intenções, crenças e emoções. Dessa maneira, ajustamos o nosso comportamento levando em consideração os fatores que aprendemos a intuir.

Por outro lado, é interessante ter em mente que os animais também têm essa capacidade sofisticada. Estudos interessantes foram realizados para descobrir, por exemplo, que os chimpanzés têm essa capacidade sóciocognitiva através da qual antecipam os comportamentos de certos indivíduos.

Dessa forma, eles podem enganar os rivais em potencial e até facilitar comportamentos proativos em benefício do grupo.

Experimentos com chimpanzés

A teoria da mente: todos nós temos essa faculdade?

Estudos sobre o desenvolvimento humano indicam que as faculdades relacionadas à teoria da mente aparecem em crianças acima de 4 anos de idade. É a partir dessa fase que as crianças começam a ter pensamentos mais abstratos e sofisticados.

Além disso, elas entendem que os outros também têm intenções, vontades, e que as pessoas ao seu redor podem ter pensamentos e opiniões diferentes.

Por outro lado, não podemos esquecer outro aspecto. O pesquisador Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, realizou diversos trabalhos e pesquisas nos quais sugere que as pessoas com transtorno do espectro autista apresentariam sérias deficiências na teoria da mente.

Sabemos, por exemplo, que crianças e adultos com autismo exibem determinados comportamentos empáticos. Eles percebem dor ou preocupação nos outros, mas têm dificuldade em antecipar o comportamento alheio.

Nesses casos, as interações sociais são confusas e difíceis, porque essa capacidade mental de intuir reações falha ao se conectar com os outros. Assim, eles acabam não entendendo que os demais podem pensar, sentir e reagir de maneira diferente deles.

Os pacientes com esquizofrenia também mostram essa mesma realidade metacognitiva. Por isso, é muito difícil conectar e diferenciar os seus próprios estados mentais e os dos outros.

Pessoas com suas mentes conectadas

Conclusão

John Locke dizia que a felicidade humana é uma disposição da mente, e não uma condição das circunstâncias. De alguma forma, temos que admitir que esse universo mental configura um dos cenários mais fascinantes e complexos.

O ser humano, como muitas espécies animais, tem como faculdade principal a capacidade de se conectar para se entender. Com isso, é capaz de se adaptar melhor ao meio ambiente e, por sua vez, facilitar a continuidade da própria vida.

Por último, há um aspecto curioso sobre a teoria da mente. Graças a ela, nos compreendemos melhor e antecipamos comportamentos, necessidades e pensamentos para reagir de acordo. No entanto, o objetivo nem sempre é nobre.

Sabe-se que, graças à teoria da mente, somos capazes de enganar e manipular os outros. Portanto, e para concluir, cabe a nós fazer bom uso dessas maravilhosas capacidades que possuímos. Essas habilidades que, quase sem percebermos, continuam a evoluir.


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