Como ajudar uma criança a superar um trauma
Como ajudar uma criança a superar um trauma? Antes de tentar lançar alguma luz sobre essa questão, vamos definir o que é um trauma. Segundo McCann e Pearlman (1990), “um evento é traumático, do ponto de vista psicológico, quando envolve uma ameaça ou um ataque que ocorre repentina ou inesperadamente, que excede a capacidade que o indivíduo acredita ter de lidar com ele ou que perturba os referenciais que o indivíduo possui quando se trata de compreender e lidar com o mundo”.
Assim, tanto na infância quanto na idade adulta, os traumas podem ser muito diversos (na idade adulta estão especialmente relacionados com situações de extrema violência, ataques, morte, etc.). Na infância, os traumas dizem respeito sobretudo a situações de bullying ou maus-tratos, morte ou afastamento de uma pessoa amada, medo da rejeição, separação da mãe, ser vítima de uma humilhação, etc.
Neste artigo, vamos abordar o assunto de forma genérica, mas devemos ter em mente que os tipos de trauma e seus efeitos podem variar muito de um caso para outro.
Vamos apresentar aqui algumas ideias que podem ajudar uma criança a superar um trauma. Como veremos, pedir ajuda profissional será o primeiro passo a se considerar, embora tenhamos que avaliar cada caso em questão e, sobretudo, acompanhar a criança nesse processo. Como? Por meio das ideias que vamos propor.
Busque ajuda profissional para ajudar uma criança a superar um trauma
O primeiro passo que aconselhamos você a dar para ajudar uma criança a superar um trauma é buscar ajuda profissional. Um psicólogo infanto-juvenil pode ajudar vocês a se concentrarem no problema e, acima de tudo, pode ajudar seu filho a integrar a experiência traumática vivida.
Portanto, mais do que “superar”, trata-se de processar a experiência para, aos poucos, integrá-la como parte da história vivida. E isso só se consegue com a ajuda de um profissional especializado no assunto, pois, lembre-se, estamos falando de saúde mental, um assunto muito sério.
Por outro lado, dependendo da experiência traumática vivida e, sobretudo, das consequências psicológicas sofridas pela criança, teremos que avaliar se devemos buscar ou não essa ajuda (se o caso for leve, por exemplo). Caso isso não interfira na vida e no bem-estar da criança, podemos acompanhá-la no processo. No entanto, insistimos, será sempre aconselhável procurar um aconselhamento prévio.
Ajude a criança a se expressar
O primeiro passo para ajudar uma criança a superar o trauma é encorajá-la a se expressar. Isso não significa que ela precise se abrir quando nós quisermos e da maneira como nós preferirmos. Significa, na verdade, que você deve proporcionar elementos e estratégias para que ela se sinta livre para expressar os próprios sentimentos. Devemos criar espaços confortáveis para ela, para que ela se sinta segura e tranquila.
Uma boa ferramenta é o desenho. As crianças são capazes de expressar seu mundo interior por meio dele e de uma forma nada intrusiva para elas. Nesse momento será importante que ela expresse não só como se sente, mas também o que viveu através do trauma (ou seja, lembrar do trauma pode ajudar, mas sempre sob a supervisão de um profissional).
O fato de expressar o que foi vivido nos ajudará a compreender como a criança se sente – qual foi o impacto que a situação teve sobre ela -, seja através de palavras, desenhos, filmes, livros, gestos… Podemos ajudar a criança a encontrar uma maneira de se expressar com a qual ela se sinta confortável. Pode ser que o ela expresse seja muito limitado, mas, nesses casos, qualquer informação compartilhada tem um valor extraordinário.
Mantenha a rotina
A rotina pode ajudar a criança a ganhar segurança, a sentir novamente que habita um ambiente controlável e no qual está protegida. Estas são sensações que vão estimular a criança a se expressar.
Assim, os horários e as regras familiares podem ser benéficos para que a criança volte gradativamente ao momento presente sem deixar de processar a experiência vivida (com ajuda profissional quando necessário).
Pratique a respiração com a criança
Os exercícios respiratórios são muito benéficos para reduzir a ansiedade e outros sintomas relacionados à hiperativação do organismo. Após uma experiência traumática, nosso corpo e nossa mente podem sofrer esse tipo de sintoma. Assim, a criança pode se mostrar em um estado de constante alerta (“esperando”, inconscientemente, o próximo perigo), irritada, preocupada, ansiosa…
Nesses casos, praticar a respiração consciente pode ser muito benéfico para ela. Se você puder fazer isso junto com a criança, ela se sentirá acompanhada (embora também possa ser positivo para ela que, com o tempo, consiga fazer isso sozinha).
Empregar esforços
Para ajudar uma criança a superar um trauma é importante que, nesses momentos, ela se sinta mais valorizada e amada do que nunca. Depois de situações traumáticas, muitas pessoas sentem que sua autoestima sofreu uma significativa redução. Por isso, será importante acompanhar o seu filho em seu desenvolvimento, ouvi-lo, estar com ele e, sobretudo, fazer com que ele se sinta amado e mais importante do que nunca.
Portanto, aproveite os momentos em que ele faz as coisas corretamente para reforçar esse comportamento e recompensá-lo, o que não precisa ocorrer por meio de coisas materiais. Um reforço também é um ato de amor, um abraço, um beijo, um “vamos passar a tarde juntos”, etc. Por outro lado, reforçar também significa valorizar suas habilidades, capacidades e esforços (nem sempre a criança precisa fazer algo “bem” para mostrar para ela que está ótimo).
Quando se trata de trabalhar, processar e “superar” um trauma, é importante expressar a experiência vivida e comunicar como ela nos fez sentir. Uma vez que tenhamos feito isso, devemos reelaborar a experiência e integrá-la dentro de nós como parte de nossas vidas. Fazer isso com as crianças nem sempre é fácil. Portanto, será fundamental pedir ajuda quando essa experiência estiver realmente interferindo no bem-estar e no dia a dia dela.
Além de pedir ajuda, aplicar algumas das orientações mencionadas anteriormente pode ajudar o seu filho a processar essa experiência e, aos poucos, voltar à normalidade, retomando o controle de sua vida e melhorando o seu bem-estar. Por outro lado, será importante que a criança consiga expressar suas dúvidas e medos, já que costumam ser muitos depois de ter vivenciado uma experiência desse tipo. Acima de tudo, não deixe que ela se sinta sozinha, fazendo com que aos poucos ela consiga reconquistar a sensação de segurança e proteção.
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