Amor infantil e amor maduro: da necessidade ao reconhecimento

"Eu te amo porque preciso de você." O amor infantil é uma armadilha, um afeto que parte da exigência e da necessidade. É nossa responsabilidade moldar um amor maduro, capaz de construir relacionamentos felizes. Neste artigo, explicamos como.
Amor infantil e amor maduro: da necessidade ao reconhecimento
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Todos nós, de alguma forma, enfrentamos (ou deveríamos enfrentar) um caminho de amadurecimento afetivo que nos leva do amor infantil ao amor maduro. É uma transição necessária, fruto de aprendizado, autoconsciência e responsabilidade. No entanto, esta capacidade psicológica não é nada fácil de adquirir, e muitas pessoas se apegam à dimensão da necessidade e caem na armadilha do apego.

Erich Fromm foi o primeiro a falar sobre essas categorias relacionais. Em sua famosa obra A Arte de Amar, ele nos ensina, entre outras coisas, que nada pode ser tão prejudicial quanto amar sem saber amar ou sem compreender os fundamentos dessa arte excepcional. É por isso que muitas pessoas caminham pelo mundo tecendo laços que machucam e que causam feridas que demoram a cicatrizar.

Aquelas pessoas que são movidas por um amor infantil tendem a não compreender os motivos das suas decepções sentimentais. Isso porque para construir um vínculo saudável, maduro e consciente, é necessária uma boa dose de responsabilidade pessoal. Além disso, quem concebe o amor como uma necessidade e como uma estratégia para suprir as próprias carências projeta a culpa no outro porque “ninguém sabe amá-lo como ele merece”.

Amor infantil e amor maduro: quais são as diferenças?

Amor infantil e amor maduro: quais são as diferenças?

Embora o amor seja um sentimento universal, ele não é uma dimensão ao alcance de todos. Por que dizemos isso? Porque apesar de se tratar de uma das realidades mais poderosas e belas que podem ser vividas, seu uso indevido pode causar sérios danos. Até porque ideias ultrapassadas e errôneas continuam a persistir a esse respeito, que em pleno século XXI contribuem para manter vivo o ideal do amor romântico.

Muitas pessoas acumulam decepções amorosas ​​porque ainda não entenderam que, para amar, é preciso primeiro amar a si mesmo. Isso requer humildade, coragem e sabedoria. No entanto, o cérebro nos arrasta quase que instantaneamente para uma deriva neuroquímica na qual somos dominados pela atração, paixão e o desejo ardente de estar com o outro.

Nem sempre há tempo para conhecer as regras do bom amor, aquele que não dói, aquele em que ninguém acaba se tornando uma vítima emocional ou algoz. Vejamos nas próximas linhas as principais diferenças entre o amor infantil e o amor maduro.

Amor infantil: afeto que surge da necessidade

Aqueles que experimentam o amor de maneira infantil não conseguem ser amados como gostariam. Eles se sentem insatisfeitos e desapontados com as constantes decepções, pois ninguém é capaz de compreendê-los ou suprir suas carências.

Em sua mente ressoa sempre o mesmo mantra: “ninguém me ama como eu gostaria que me amassem”. No entanto, em nenhum momento essas pessoas param para pensar que talvez elas não se amem como deveriam.

O amor infantil difere do amor maduro em um aspecto fundamental: ele surge da necessidade da pessoa de ser amada e validada pelo parceiro para encontrar seu lugar no mundo. Sua autoestima e seu autoconceito se alimentam desse reforço externo, e se ele falta, tudo falta.

A pessoa com este perfil adora o parceiro desproporcionalmente, dispondo-se a fazer qualquer coisa por ele. Nessa forma de amar não há limites nem regras; dá-se tudo em troca de nada. É um amor desesperado que tira a liberdade do parceiro, porque ela o quer para si e dele tudo espera.

Esta cegueira afetiva leva a pessoa a viver para o parceiro. Ela é como uma criança possessiva que pode ter uma crise de ciúme e de raiva porque teme não ser amada o suficiente ou ser traída em algum momento.

Por outro lado, é importante destacar que o amor infantil é uma derivação do amor romântico. Em ambos a pessoa procura a outra metade como um personagem de conto de fadas que irá salvá-la de todos os problemas. Uma ideia que traz consigo o risco de decepções, erros e dores profundas.

Amor maduro: o desejo que começa com a autorrealização

Entre o amor infantil e o amor maduro, existe uma jornada pessoal. É uma transição que todos nós precisamos fazer para adquirir mais experiência nessa área. Vai da falta à satisfação. Do sentimento de falta à satisfação. Porque a pessoa que ama de forma madura não precisa encontrar o amor para se sentir satisfeita; ela já se sente realizada.

Ela também não busca e anseia por algo como aquelas que vivem um amor infantil, pois ela já se sente completa. Assim, quando estabelece uma relação afetiva, ela o faz por desejo e nunca por necessidade. Seu objetivo na aventura do amor é encontrar alguém com quem partilhar uma viagem, como duas pessoas livres e realizadas que se escolhem para construir um projeto baseado na felicidade e na cumplicidade

Casal ao amanhecer

Como passar do amor infantil para o amor maduro?

Ninguém passa do amor infantil para o amor maduro automaticamente ou apenas com o passar dos anos. A maturidade emocional não vem com a idade nem com o número de decepções acumuladas no amor. Além disso, há quem passe de decepção em decepção sem perceber que sua forma de amar se baseia na imaturidade.

Então, como é possível viver um amor maduro, consciente e gratificante? A seguir estão alguns aspectos importantes que você deve ter em mente:

  • Cultive em você as qualidades que você espera do parceiro ideal. Se você quer alguém amoroso, seja amoroso consigo mesmo. Se você procura alguém divertido, inteligente, atencioso e confiante, torne-se essa pessoa. Seja independente e transforme-se naquilo que você deseja que os outros sejam com você.
  • Seja a pessoa que você gostaria de ter ao seu lado.
  • Fortaleça sua autoestima. Como disse Erich Fromm, o amor infantil se baseia na ideia“amo porque me amam”. Por outro lado, o amor maduro gira em torno do seguinte pensamento: “Me amam porque sei amar, me amam porque eu me amo”.

Amar a si mesmo, ter uma boa autoestima e deixar de ter medo de ficar sozinho são os pilares sobre os quais se sustentam as relações saudáveis. Os laços afetivos que perduram e que fazem do amor um caminho de crescimento e descoberta afastam as necessidades, os medos e o vazio para criar um refúgio onde a dor não tem lugar.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.