Características e qualidades da relação entre irmãos
Apesar das pesquisas científicas sobre a relação entre irmãos não terem muita popularidade, elas são de grande importância. Os irmão têm um grande papel em nossas vidas e também em nosso desenvolvimento. Ao longo da história eles estiveram presentes em uma infinidade de lendas, contos e narrativas. Exemplos deles são até mesmo a história de amor entre os irmãos Isis e Osiris ou a relação que os irmãos têm na obra Flauta Mágica de Mozart.
Todos sabemos, por experiência própria ou pelo que já vimos em outras famílias, que a relação entre irmãos não só é importante por sua incidência no âmbito social, mas também a nível de desenvolvimento cognitivo. Os pais voltam grande parte de seus esforços na hora de formar e educar seus filhos, mas os irmãos também vão influenciar a educação dos mesmos, seja de forma positiva ou negativa.
Na atualidade, tanto os psicólogos educativos quanto os clínicos são conscientes da influência que a natureza da relação entre irmãos possui. Por essa razão, podemos encontrar muitos estudos e pesquisas sobre esse campo de estudo. No presente artigo, vamos falar mais especificamente sobre duas hipóteses: a hipótese da compensação entre irmãos e a hipótese de hostilidade pelo favoritismo. Ambas as hipóteses estão relacionadas com o tratamento dos pais em relação os filhos, o que pode se dar de forma diferente em muitos casos.
A hipótese da compensação na relação entre irmãos
Antes de mais nada, é relevante dizer que as relações entre irmãos não podem ser estudadas ou pesquisadas de maneira isolada. Ou seja, é importante ter em mente outras variáveis, como o tratamento diferencial dos pais em relação aos irmãos. Aqui nasce a primeira pergunta: o que acontece se os pais mostram um tratamento deficiente em relação a um dos filhos? Os irmãos poderiam compensar esse déficit através da sua relação?
A hipótese de compensação dos irmãos defende que eles podem desenvolver uma relação mais próxima e acolhedora e ajudar-se mutuamente em situações que experimentam uma relativa carência de cuidado materno ou paterno. Ou seja, os irmãos atuariam compensando ou substituindo os pais e conseguindo, dessa maneira, um desenvolvimento normal apesar de um déficit de criação dos pais.
Os estudos sobre essa hipótese mostram resultados a favor dela. Parece que existe uma correlação inversa entre a qualidade da interação pais-filhos e a qualidade da relação entre irmãos. Em um estudo de Bryant e Crockenber em laboratório, os resultados mostraram que a indiferença da mãe em relação aos seus filhos se correlacionava com um maior número de comportamentos pró-sociais do irmão maior em direção ao menor.
Esses estudos nos fazem pensar que os irmãos em idade escolar se apoiam e ensinam mutuamente na ausência de apoio familiar. Mas temos que ter cuidado ao interpretar esses dados, já que os estudos muitas vezes mostram descobertas contraditórias. Isso se deve ao fato de existirem muitos outros fatores além do tratamento materno ou paterno regulando as relações entre os seres humanos.
A hipótese de hostilidade pelo favoritismo dos pais
Anteriormente falamos de como as relações entre irmãos podem se tornar acolhedoras e próximas devido ao tratamento dos pais, mas o comportamento familiar também pode acabar gerando hostilidade entre os irmãos. É aqui que surge a hipótese da hostilidade pelo favoritismo dos pais. Essa hipótese vai falar sobre as percepções que os filhos têm sobre como os pais tratam os diferentes irmãos.
A hipótese de hostilidade pelo favoritismo dos pais diz que os irmãos podem desenvolver relações hostis se algum deles perceber que é tratado de forma pior que o outro. Ou seja, se um filho observa que seus pais mostram um favoritismo pelo seu irmão, aparecerá uma resposta de ciúmes, o que desencadeará comportamentos hostis em relação ao irmão.
Em uma pesquisa, Hetherington encontrou que quando um dos irmãos é tratado com menos acolhimento e afeto, aumenta a probabilidade da interação entre irmãos ser agressiva e também de reinarem os comportamentos de rivalidade. Porém, assim como na hipótese anterior, temos que ter em mente que existem muitos outros fatores que podem modular o tratamento entre irmãos.
Em qualquer dos casos, os diferentes estudos sobre as relações entre irmãos nos mostram a importância que eles têm em nossas vidas e no nosso desenvolvimento. No fim das contas, um irmão, em muitos casos, é a referência de conhecimento e confiança que nos acompanhará na maior parte de nossas vidas.
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Bryant, B. K., & Crockenberg, S. B. (1980). Correlates and dimensions of prosocial behavior: a study of female siblings with their mothers. Child Development. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.1980.tb02575.x