Carta para a ansiedade

Distinta colega: sinceramente, não gostamos de você. Entendemos que você tenta nos ajudar do seu jeito muito particular. Mudamos muito desde o nosso primeiro encontro e precisamos de um novo lugar para colocá-la.
Carta para a ansiedade
Angela C. Tobias

Escrito e verificado por a psicóloga Angela C. Tobias.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Esta carta para a ansiedade busca descobrir a relação atual que mantemos com esse sintoma. Mudamos muito e pode ser o momento de redefinir a ansiedade e colocá-la em um novo espaço que nos faça sentir mais à vontade e honestos com nós mesmos.

A nossa relação com a ansiedade sempre foi muito complicada, às vezes tortuosa, e muitas vezes também proporcionou o impulso que estávamos perdendo. Esta carta para a ansiedade é sobre saber o quanto dói hoje e, acima de tudo, refazer perguntas que podem ter ficado sem respostas.

Mulher ansiosa roendo as unhas

Carta para a ansiedade

As cartas geralmente começam com algo como “querida ou estimada amiga”, mas esta é uma carta para a ansiedade. É difícil tratar a ansiedade como uma amiga e ainda mais amá-la. As pessoas repetem sem parar que o amor não deve causar sofrimento e, neste caso, a ansiedade tem uma lâmina muito afiada, capaz de atingir o mais profundo do nosso ser.

Portanto, vamos recomeçar a nossa carta para a ansiedade. Talvez, com um “distinta companheira”. Companheira porque ela nos acompanha em momentos diferentes e distintos, porque não há dúvida de que a sua presença é, pelo menos, particular e perceptível entre as diferentes experiências de vida.

Distinta companheira: escrevo esta carta para redescobrir como a coloco internamente neste momento, o quanto dói agora ou o que você tem a ver com o momento presente. Mudei muito e preciso de um novo espaço para pensar.

Nosso primeiro encontro

Nesta carta para a ansiedade, é difícil não incluir uma referência ao nosso primeiro encontro. Se há algo que ela tem em comum com os amores românticos do cinema, é que deixa uma marca profunda em nossa memória. A primeira vez em sua companhia costuma ser tão marcante quanto inesperada.

De repente, sacudiu o nosso corpo de uma forma cruel. Uma sensação de sufocamento, tontura e o coração batendo forte para escapar de uma morte que, de repente, parece iminente. Penetrou em nosso apetite e sono, em dores por todo o corpo… Dizer que perdemos o controle é um eufemismo para o que foi aquilo.

Depois de muito tempo, finalmente alguém lhe deu um nome. Não era o coração, não era uma doença fatal como imaginávamos, cheios de medo… Era ela, a destinatária desta carta. E começaram as perguntas sem respostas e a dor: “Por que isso agora, se estou bem?”, “Como a ansiedade pode fazer tudo isso?” ou “O que preciso fazer para me livrar disso?”

Eu deixei de odiá-la quando realmente a conheci

Muito antes desta carta para a ansiedade, é intenso lembrar como a odiamos e tentamos expulsá-la, gritando com ela mil vezes: “O que você quer de mim?” Razões para odiá-la não nos faltam: dor, cansaço e isolamento. É difícil não odiar quando ela nos separa das pessoas que mais amamos, com o seu implícito voto de silêncio que nos proíbe de dizer o seu nome.

Mas o ódio não é uma emoção que pode durar muito, a sua intensidade nos esgota e já estávamos muito cansados. Na verdade, estávamos exaustos depois de tanta raiva. Mais tarde, aceitamos com grande dificuldade que ela ficaria conosco indefinidamente. Decidimos ouvir e fazer a nós mesmos essas perguntas sem resposta, com toda a paciência que pudéssemos encontrar.

E a ansiedade tende a responder fazendo um eco: “Tem certeza de que estava tudo bem?”, “Por que agora?” Esse eco revelou algo, finalmente pudemos saber algo sobre ela: ela estava aqui para amplificar a nossa voz há muito tempo silenciada. Uma voz sempre interrompida, que decidiu fazer-se ouvir, independentemente da forma. Ainda hoje perguntamos ressentidos: “Era mesmo necessário tudo isso para ser ouvida?”

Cara amiga “Escuta”…

Embora nesta carta à ansiedade, ainda não sejamos capazes de chamar de amiga esta intensa companheira, ganhamos uma boa aliada neste difícil caminho. Essa amiga se chama “Escuta” e é muito versátil. Às vezes, pede uma escuta externa, e às vezes, interna.

Na verdade, a Escuta é uma verdadeira amiga. Ela está presente quando dizem coisas boas que não sabemos valorizar no momento, mas também naquelas situações em que estamos fazendo bobagem e precisamos de uma chamada de atenção. Ela é nossa amiga, mas também é amiga dessa ansiedade conflitiva. Temos que respeitar essa amizade, mesmo que não gostemos dela.

Terminamos esta carta para a ansiedade compartilhando o que pensamos sobre ela neste momento, que é uma das razões por trás deste texto. Agora, falo diretamente para você, ansiedade:

Companheira ansiedade, sinceramente, não gosto de você. Mas, também entendo por que você existe e que veio para ajudar, do seu jeito estranho. Sei que quando me alio à Escuta, você tende a me visitar menos. Apesar disso, se você voltar, vou tentar não ficar muito zangado ou querer expulsá-la antes de entender a sua visita. No entanto, entenda que é difícil. Não lhe prometo nada.

Mulher enfrentando a ansiedade

Escreva uma carta para a ansiedade

Escrever uma carta para a ansiedade significa criar um diálogo interno com esse sintoma e abrir novos caminhos para o autoconhecimento. Além disso, os sintomas, como a ansiedade, costumam ser a ponta de um iceberg submerso na escuridão do inconsciente. Portanto, parte do processo de cura psicoterapêutica consiste em descobrir o conflito psicológico subjacente.

A psicoterapia narrativa, com técnicas como a carta para a ansiedade, pode facilitar o processo de transformar em palavras as sensações subjetivas. Por isso, nós o encorajamos a escrever a sua própria carta para a ansiedade neste momento, tentando definir a relação que você tem atualmente com este sintoma. Como você começaria?


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.