Como começar a vida após o "divórcio grisalho"
Os dados estatísticos nos dizem que os divórcios entre casais com mais de 50 anos têm aumentado, e que esse aumento está ocorrendo em muitos lugares do planeta. No entanto, ao enfrentar o rompimento de uma relação de 20, 30 ou até mesmo 40 anos, os desafios são inúmeros. E também muito particulares.
Começar a vida após o “divórcio grisalho” não é um desafio simples de enfrentar. Tanto assim que muitas pessoas se sentem perdidas. É verdade que há quem o veja como uma nova oportunidade ou como uma segunda juventude. Também como uma merecida oportunidade de moldar uma existência mais feliz, revigorante e cheia de objetivos esperançosos. Por sua vez, também é verdade que nada é tão necessário quanto terminar um relacionamento que, ao invés de nos trazer satisfação, traz infelicidade e dificuldades.
Entretanto, quando duas pessoas compartilham os espaços de vida durante décadas, elas constroem juntas uma grande infraestrutura familiar, emocional, material e até mesmo financeira. Dividir esse legado em dois, como alguém que corta um pedaço de papel ao meio, não é fácil. Quase sempre surgem dificuldades para a distribuição dos bens, além de ser preciso lidar com o luto pelo rompimento e também redefinir até mesmo o próprio sentido da vida.
Muitas pessoas com mais de 50 ou 60 anos não sabem lidar com as emoções associadas ao processo de divórcio e de iniciar a vida sozinhas.
Dicas para começar a vida após o “divórcio grisalho”
O amor às vezes se apaga ou se quebra, ou então é usado de forma inadequada. Seja como for, há quem, em vez de terminar esse vínculo após o desamor, continue a prolongá-lo durante décadas. Isso é algo comum em casais com mais de sessenta anos que foram educados com a ideia de que um casamento ou um parceiro é para sempre. E, diante dessas condições, a única coisa que durava para sempre era o sofrimento.
Felizmente, essa percepção está ficando ultrapassada. O divórcio não é mais visto como um estigma, mas sim como uma ação frequente e mais do que consolidada em nossa sociedade. Se, juntamente com isso, adicionarmos o fato de que uma parte importante das mulheres entre 50 e 60 anos tem a sua independência financeira e seus próprios projetos profissionais, podemos entender melhor o motivo do aumento das separações nesse recorte populacional.
O verdadeiro desafio está em como começar a vida após o “divórcio grisalho”. Porque algo que devemos deixar claro é que esse fenômeno não se explica por meio de fatores como “o ninho vazio”, a “crise da meia-idade” ou a “proximidade da aposentadoria”. Em absoluto. Temos pessoas que não amam mais os seus cônjuges/parceiros e querem começar uma vida sozinhas. Porém, administrar o que vem depois de dar esse passo tão corajoso não é nada fácil.
A necessidade de contar com o apoio de quem está ao redor
Uma pesquisa publicada no The Journals of Gerontology indica dois aspectos interessantes. O primeiro é que a chamada revolução do divórcio grisalho se tornou presente em 1990. Desde então, separações de casais com mais de 50 anos representam 1 em cada 4 divórcios.
O segundo aspecto é que não sabemos exatamente os preditores desse fenômeno, nem suas consequências. No entanto, sabemos que não é um processo simples e que, por causa das suas características, é muito diferente dos divórcios entre parceiros mais jovens.
Portanto, algo que sem dúvida é fundamental nessas situações é que o casal divorciado conte com o apoio de quem estiver ao seu redor. Assim, ter amigos para conversar ou um grupo social que possar atuar como um aliado diário é fundamental para recomeçar a vida após o “divórcio grisalho”. Da mesma forma, também é positivo ter a compreensão e o apoio de outros membros da família.
Enfrentar o divórcio grisalho implica ter que deixar o relacionamento com a família extensa do parceiro, as amizades comuns, abrir mão de determinados sonhos e reformular todo o legado de memórias e experiências em comum.
Reformular a história de vida para orientá-la rumo ao futuro
As pessoas de 55 ou 60 anos que decidem se divorciar podem ter vivido juntas durante 20 a 30 anos ou mais. É verdade que cada caso é único e que, embora existam relacionamentos que foram ruins desde o início, outros experimentaram um declínio na última etapa. Isso implica, na maioria dos casos, ter que reformular a vida quase do zero.
Há quem lide com o arrependimento por tudo que viveu e com o “por que não fiz isso antes”. Outros sofrem por se separar de um parceiro ou parceira de vida que ainda amam e que, por causa de diversas circunstâncias (traições, desentendimentos, etc.), precisam deixar. Haverá quem escape de um longo relacionamento abusivo e há também quem deixe o relacionamento por mútuo acordo, uma vez que não há amor.
Em todas essas circunstâncias, a última coisa que devemos fazer é tentar apagar tudo o que vivemos com aquela pessoa. Essas décadas compartilhadas existiram e fazem parte da nossa história. Elas são parte de quem somos. É preciso aceitar o passado para focar no futuro e isso exige primeiramente passar pelo luto dessa ruptura. Posteriormente, poderemos esclarecer os novos objetivos e propósitos.
A questão financeira, uma fonte de ansiedade
Começar a vida após o “divórcio grisalho” é assustador em muitos casos. Principalmente quando um dos dois membros não contribuiu para a previdência e depende, por exemplo, da aposentadoria do cônjuge. Insistimos que esse fenômeno crescente contempla muitas realidades. Uma delas é a das mulheres que dedicaram as suas vidas ao cuidado e educação de seus filhos.
Em outras situações, o casal terá que enfrentar a divisão de um patrimônio em que nem sempre estarão livres de problemas e litígios. Estas são experiências que causam grande ansiedade e que podem, em certos casos, criar antagonismos entre outros membros da família.
Começar a vida após o “divórcio grisalho”: como isso afeta os filhos adultos?
A maioria dos pais na faixa dos 55 ou 60 anos presume que seus filhos não sentirão um grande impacto pelo divórcio. Eles já são adultos, dizem. Eles têm suas próprias vidas, insistem. No entanto, muitos desses jovens lidam com essa situação em silêncio, sem saber como aceitá-la, compreendê-la e enfrentá-la. Eles experimentam contradição, estranheza, decepção e tristeza.
Por isso, na hora de começar a vida após o “divórcio grisalho”, é conveniente conversar com os filhos adultos e explicar que qualquer emoção que experimentem é válida. Devemos abrir canais de comunicação e não ficar com a ideia de que, por serem adultos, essa realidade familiar não vá afetá-los muito. Porque não é bem assim.
Obviamente, a sua permissão não será necessária para prosseguir com o rompimento e a separação do casal. No entanto, o apoio mútuo entre pais e filhos, além do diálogo empático e sincero, servirá de amortecedor para uma situação que não é confortável nem fácil para ninguém.
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