Como conseguir que o esforço mental seja gratificante

Estudar, nos concentrarmos, refletir profundamente para tomar uma decisão... Qualquer esforço cognitivo pode ser muito exaustivo. Existe uma maneira de tornar esse tipo de situação mais suportável e até gratificante?
Como conseguir que o esforço mental seja gratificante
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 17 novembro, 2022

Se há uma palavra que repetimos para uma criança quando queremos que ela faça a lição de casa, é “concentre-se”. Não é fácil, nem recompensador, concentrar todos os seus recursos cognitivos nessa soma, nesse problema de matemática ou nessa leitura. Desde cedo descobrimos que somos capazes de fazer coisas extraordinárias, mas toda atividade exige um custo de energia.

Dessa forma, qualquer objetivo que estabelecermos para nós mesmos exigirá um esforço mental de nós. Concentração, análise, reflexão, atenção, dedução, memória, criatividade… Todos esses processos de execução de alto nível não apenas nos esgotam, como muitas vezes não são muito atraentes ou nada atraentes. No entanto, ninguém consegue nada nesta vida se não estiver qualificado nesse tipo de habilidades.

Além disso, chamamos de “avarentos cognitivos” aquelas pessoas que não se esforçam para pensar. Há aqueles que mal percebem sua baixa eficiência mental, a forma rudimentar como resolvem problemas ou como se deixam levar por preconceitos. Fazer um esforço, realizar aquele processo neurocognitivo incômodo, mas necessário, reverte em nossa inteligência e bem-estar.

Por isso, e ainda que nos surpreenda, existem mecanismos interessantes que nos permitirão desfrutar muito mais desse esforço psicológico… Vamos descobrir como?

O esforço mental nos beneficia, melhora nossa autoeficácia e até nossa autoestima, descobrindo que graças a ele obtemos resultados interessantes.

Mulher ilumina seu cérebro para fazer um esforço mental
Tocar um novo instrumento ou aprender um idioma são exemplos de esforços mentais recompensadores.

Assim você pode conseguir que o esforço mental seja mais motivador

Segundo um estudo da Universidade Aberta da Holanda, a primeira vez que se definiu esforço mental foi em 1982. Albert Bandura o descreveu como o esforço que uma pessoa faz para processar um tipo de informação. Segundo esse famoso psicólogo especialista em aprendizagem, essa tarefa psicológica depende de dois fatores.

A primeira é sobre o quão complexo é para nós realizar aquela atividade e a segunda tem a ver com a percepção se somos ou não capazes de realizá-la (autoeficácia). Agora, há uma percepção que a psicologia e a economia têm sobre essa dimensão. O esforço mental é algo que os seres humanos tradicionalmente preferem evitar. E isso é algo que vemos com muita frequência.

Pensemos no universo das redes sociais, onde o esforço cognitivo costuma ser mínimo. Em média, a população se apega às manchetes das notícias e nem sempre lê o conteúdo. Tampouco há o hábito de contrastar todas as informações que nos chegam… O esforço para analisar e verificar o que recebemos dos meios digitais é, em média, deficiente.

Ser avarento cognitivo ou aplicar a lei do esforço mental mínimo é contraproducente. Devemos, portanto, maximizar essa habilidade, esse recurso básico e enriquecedor. No entanto, não costumamos fazê-lo porque, de fato, pensar nos cansa e toma nosso tempo. Agora, isso pode mudar se levarmos em conta uma série de dimensões. Nós as analisamos.

O esforço mental não deve se tornar um meio para um fim (eu trabalho duro para conseguir algo), mas um processo que estimula a motivação intrínseca (eu trabalho duro porque sei que é bom para mim).

1. Treine seu cérebro com tarefas cognitivas desafiadoras

Nada seria tão positivo quanto dar ao mundo pessoas críticas, curiosas e que não sejam preguiçosas quanto ao esforço mental. A maneira de conseguir isso seria iniciá-las muito cedo nos desafios cognitivos. De que maneira?

  • Resolver quebra-cabeças, fazer sudoku ou jogar jogos de treinamento cognitivo em qualquer aplicativo é útil.
  • Aprender a tocar um instrumento ou aprender uma língua estrangeira são outros exemplos. É uma forma de habituar o cérebro ao aprendizado, à descoberta e ao prazer que advém de ser competente em vários assuntos.
  • Boas leituras são meios excepcionais para refinar todos os processos cognitivos.
  • Desenvolver a curiosidade e o prazer em descobrir e inovar.

Devemos pensar no cérebro como um músculo. Se o treinarmos para ver o esforço mental como algo cotidiano, como aquele exercício que nos permite ser mais habilidosos e desfrutar do conhecimento, será menos cansativo.

2. Cerque-se de pessoas estimulantes

O ambiente nos condiciona de muitas maneiras; alguns de forma positiva e outros restringindo nosso potencial. Se você quer tornar o esforço mental recompensador, cerque-se de alguém que estimule seu pensamento, sua criatividade e prazer em aprender. Dessa forma, você não achará exaustivo se concentrar em uma tarefa, refletir ou pensar fora da caixa.

Se alguém que faz parte da sua vida te enriquece mentalmente, você deixará de ser um avarento cognitivo para se apaixonar pelo conhecimento.

Amigos conversando no escritório
Cercar-nos de pessoas estimulantes ativa nosso cérebro e torna qualquer esforço mental menos exaustivo.

3. Valorize o esforço cognitivo intrinsecamente, não como um meio para um fim

Há quem use o esforço mental para o básico: passar num exame, resolver um problema, entender uma fatura, decifrar um manual de instruções, documentos legais… Em média, aumentamos o gasto neurocognitivo apenas para conseguir algo, mas nunca por mero prazer.

Não fomos ensinados que exercitar nosso cérebro, colocar esforço mental em algo, pode ser recompensador. Ninguém nos revelou que ao maximizar nossa concentração, raciocínio e análise estamos dando o melhor de nós mesmos. Aprender a valorizar intrinsecamente o esforço mental reverte em autoeficácia e autoestima. É algo positivo, algo que nos permite ser mais competentes e desenvolver nossas capacidades intelectuais.

E mais, que essa concentração profunda pode até ser agradável, já foi demonstrado pelos especialistas. Basta lembrar o que o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi nos deu com sua teoria do fluxo. Quando nos conectamos de forma intensa e significativa com uma atividade, é como se o tempo não passasse. Essa experiência ideal que chamamos de fluxo também faz parte do esforço mental.

A aplicação de uma mentalidade de crescimento nos permitirá valorizar o esforço de forma mais positiva e como esse compromisso com a tarefa sempre afeta nosso bem-estar e nossa autoimagem.

Mindfulness para focar e relaxar a mente

Mindfulness ou atenção plena é uma prática ideal para melhorar a saúde mental e os processos executivos. É verdade que nem todos conseguem se acostumar, mas é um recurso que vale a pena experimentar. Um estudo da Duke University destaca os efeitos positivos de realizá-lo com frequência.

Se nos acostumarmos a dedicar pelo menos meia hora por dia para a prática de mindfulness, isso melhorará nossa atenção, nossa memória, reduziremos o estresse e a reatividade emocional. Trata-se de reduzir o ruído mental e acostumar nosso cérebro a prestar atenção no momento presente.

Dessa forma, o esforço mental deixará de ser um incômodo e algo exaustivo, para vê-lo como um recurso habitual e necessário em nosso dia a dia. Vamos levar em conta esses fatores descritos e tentar, acima de tudo, não nos tornarmos avarentos cognitivos.


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