Como os problemas de saúde mental afetam o local de trabalho?
O âmbito do trabalho é um dos mais relevantes na vida das pessoas. Aliás, o habitual é dedicar em média oito horas ao trabalho. Ou seja, aproximadamente trabalharemos um terço de nossas vidas.
Os funcionários podem desenvolver problemas psicológicos de saúde como resultado de uma série de eventos (por exemplo, eventos traumáticos, rompimentos de relacionamentos, dificuldades financeiras e outros). Algumas situações permeiam, são transmitidas e têm o potencial de intoxicar áreas importantes da vida, como o trabalho, mas também interpessoal, acadêmica ou familiar.
Um grupo de pesquisadores quis aprofundar esse fato. Como resultado dessa exploração, foi publicado o relatório “People at Work 2022: A global workforce view”.
Podemos pensar que, desde o fim da pandemia do COVID-19, o funcionamento normal do trabalho foi restaurado. No entanto, parece que isso é mais uma expectativa do que uma realidade.
Tanto os trabalhadores quanto os empregadores arcam com as consequências emocionais do evento pandêmico. Além disso, as constantes mudanças no atual cenário econômico agravam a saúde mental dos trabalhadores, já bastante deteriorada.
“O estresse está em níveis críticos, com 67% dos trabalhadores apresentando sintomas pelo menos uma vez por semana”.
-Nela Richardson-
Principais problemas de saúde mental no ambiente de trabalho
Os problemas de saúde mental no local de trabalho variam de transtornos de ansiedade e depressão a transtornos de estresse pós-traumático e vícios. De acordo com uma revisão sistemática da literatura, publicada na revista Occupational Medicine, os transtornos de ansiedade e depressão são os transtornos mentais mais comuns no local de trabalho (Garety et al., 2017).
Os transtornos de ansiedade podem se manifestar em sintomas como palpitações, sudorese e pensamentos obsessivos; enquanto os depressivos causam sentimentos de tristeza, desesperança e falta de energia.
De acordo com um estudo publicado no Journal of Occupational Health Psychology, esses problemas têm um impacto significativo na produtividade e no bem-estar emocional dos funcionários (Ferguson, 2015).
Os vícios também se qualificam como uma condição de saúde mental no local de trabalho. De acordo com uma revisão sistemática publicada em Drug and Alcohol Dependence, é possível que o abuso de substâncias afete a produtividade, a segurança na área e a saúde mental dos funcionários (Frone, 2016).
Estresse
Enquanto uma grande proporção de funcionários é abertamente otimista quando se trata de bem-estar psicológico, outros se encontram em meio a uma luta extraordinária pela saúde. O relatório diz que um em cada três funcionários relata que sua saúde mental se deteriorou muito desde 2020 (Richardson, 2022).
Está em estudo a forma como os problemas psicológicos dos trabalhadores repercutem no local de trabalho. Como consequência direta da pandemia, os funcionários relatam aumento do estresse, que se reflete ano após ano nos relatórios de desempenho. O último está em baixa, produto de uma saúde mental deteriorada.
Por exemplo, quase 40% dos trabalhadores indicam que a pandemia provocou sobrecarga de trabalho, principalmente em tarefas de maior responsabilidade. Enquanto na Europa 7 em cada 10 funcionários frequentemente experimentam estresse no trabalho; nos EUA, o número chega a 8 em cada 10 funcionários.
As empresas apostam nesta vertente, já que, por outro lado, cerca de 70% dos colaboradores sentem o apoio dos seus superiores.
O segmento da população que mais relata estresse é aquele entre 18 e 25 anos (cerca de 60%), estatística que diminui à medida que o trabalhador envelhece. Nesse sentido, as consequências do estresse laboral são muitas, desde transtornos como ansiedade generalizada, até depressão, passando por transtornos somatoformes e até mesmo musculoesqueléticos (dor nas costas, cervicalgia e/ou lombalgia).
“No entanto, a menos que as causas do estresse sejam identificadas e abordadas, o impacto desse apoio bem-intencionado pode ser prejudicado.”
-Nela Richardson-
Dar voz às reivindicações dos trabalhadores
Os fatores geralmente relacionados ao fato de os funcionários se sentirem satisfeitos (como salário ou descanso) estão mudando.
Agora, uma gama mais ampla de elementos que promovem a satisfação no trabalho, bem como a segurança no trabalho, deve ser levada em consideração. Estamos a falar de conseguir um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mas também de dar sentido (e realização) aos valores com os quais uma empresa nasce e se desenvolve (Richardson, 2022).
Está ocorrendo uma transformação na natureza do trabalho, que deve ser levada em consideração pelos empregadores. Os funcionários param de apostar em relacionamentos transacionais (ou seja, uma remuneração específica para um determinado trabalho). E é que eles querem ir mais longe e se sentir “seguros” em seu local de trabalho, além de mais satisfeitos pessoalmente.
Um novo significado do que é “segurança no trabalho”
A pandemia reescreveu os termos de “segurança no emprego”, o que, por sua vez, causa mudanças nas crenças dos funcionários sobre as relações profissionais. Hoje, é mais comum ver pessoas procurando empresas que combinem com seus valores pessoais. Ou seja, a relação teria sido invertida.
Como vimos, em decorrência do impacto dos problemas de saúde mental no ambiente de trabalho (consequência da pandemia), as pessoas buscam “empregos seguros” e os definem como ‘cargos em que, além de proteger a saúde, o bem-estar seja promovido e se criem situações para aproveitar o tempo com a família’.
Os valores das grandes organizações devem ser consistentes com os do trabalhador. Para os colaboradores de hoje, é importante gostar das tarefas que a empresa lhes proporciona.
“Os empregadores precisam fazer as perguntas certas para que possam entender melhor os trabalhadores, incluindo como a mentalidade predominante mudou e considerar ajustar sua abordagem de acordo”.
-Nela Richardson-
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- Ferguson, E. (2015). The effects of depression and anxiety on productivity: An evaluation using the Work Productivity and Activity Impairment questionnaire. Journal of Occupational Health Psychology, 20(2), 204-210.
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- Garety, P. A., Freeman, D., Jolley, S., Dunn, G., Bebbington, P. E., Fowler, D. G., & Kuipers, E. (2017). Reasoning, emotions, and delusional conviction in psychosis. Journal of Abnormal Psychology, 126(1), 87-95.
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