A crise dos 40 anos em homens e mulheres: sinais, causas e como superá-la

Algumas pessoas de meia-idade passam por um período caracterizado por ansiedade, insatisfação, tristeza e sensação de vazio, que ocorre por diversos motivos. Descubra tudo sobre essa famosa crise.
A crise dos 40 anos em homens e mulheres: sinais, causas e como superá-la
Leticia Martín Enjuto

Revisado e aprovado por o psicólogo Leticia Martín Enjuto.

Escrito por Yamila Papa

Última atualização: 20 julho, 2024

Você pode ter medo de envelhecer ou de deixar de ser jovem, ou ambos ao mesmo tempo. A verdade é que a crise dos 40 é sentida pela grande maioria das mulheres e também por muitos homens. No caso feminino, acrescenta-se o fato de iniciar a menopausa e os sintomas que ela acarreta, tanto físicos quanto psicológicos.

Essa crise não aparece só no dia em que a pessoa apaga as 40 velinhas. Pode desenvolver-se um pouco mais cedo ou mais tarde. Quando ela aparecer, é hora de analisar o que foi feito até agora e as questões pendentes que ainda precisam ser resolvidas.

Neste artigo, aprenderemos, entre outras coisas, como ela se manifesta, como superá-la e se realmente se trata de uma crise sustentada por pesquisas.

O que é a crise da meia-idade?

É um evento psicológico que geralmente acontece com alguns adultos entre 40 e 60 anos. Sua principal característica é a reflexão sobre a existência e a reavaliação de conquistas e metas. Movida pela consciência de sua finitude e pelo desejo de viver uma existência plena, a pessoa se sente pressionada a modificar seus planos para alcançar seus objetivos.

Nesse momento de crise, quem sofre começa a duvidar do rumo que tomou na sua vida e dos propósitos a que se dedicou. Esse questionamento produz ansiedade e gera mudanças drásticas no estilo de vida. Embora seja um processo desorientador, cheio de emoções confusas devido a expectativas não atendidas, oferece uma oportunidade incomparável de crescimento.

Sinais da crise dos 40

A forma como a crise da meia-idade se manifesta pode variar de pessoa para pessoa. Como tal, não existe um conjunto de “sintomas” endossados pela ciência ou por instituições oficiais de saúde mental. Porém, alguns sinais que podem ser percebidos são os seguintes:

  • Ansiedade
  • Nostalgia
  • Irritabilidade
  • Impulsividade
  • Tédio
  • Insatisfação
  • Sensação de vazio
  • Falta de motivação
  • Tristeza (depressão)
  • Comportamentos indulgentes
  • Cansaço diante da rotina habitual
  • Sonhar acordado com outro estilo de vida
  • Pensamentos recorrentes sobre o passado
  • Mudanças drásticas na aparência, relacionamentos, estilo de vida ou comportamento
  • Pensamentos do tipo “E se eu tivesse (escolhido outra carreira, tido filhos, tomado outra decisão)”…

Sem dúvida, um dos sinais mais importantes da crise dos 40 é a necessidade de voltar a ser “jovem”, ou seja, de voltar a ter 20 anos. Isso leva à busca por novas experiências, a fazer coisas que antes não eram possíveis por diversos motivos, vestir-se como um adolescente, frequentar bares ou discotecas, etc.

Essa nova atitude perante a vida pode se tornar um novo despertar maravilhoso, uma motivação que nos tira da rotina e enriquece a nossa vida. Contudo, também pode causar uma grande saudade paralisante, que faz com que comecemos a pensar demais no que foi, esquecendo que ainda temos muito o que fazer.



“Fases” da crise da meia-idade

Vale esclarecer que as seguintes “fases” que iremos expor não são reconhecidas pela comunidade científica. O uso que lhes damos não é oficial e não afirmamos que sejam representativas de todos os casos. A sua utilização é puramente pedagógica, para que possamos ter uma ideia geral da evolução esperada desse fenômeno.

  1. Gatilho: como qualquer crise, começa com um evento desencadeador, embora às vezes não seja muito óbvio. Alguns gatilhos são o divórcio, a morte de um ente querido, o desemprego, uma doença fatal, a insatisfação, a falta de propósito.
  2. Reflexão: a pessoa começa a pensar e avaliar sua vida. Ela revisa seus objetivos e se lembra dos fracassos e dos objetivos que nunca alcançou. Nessa “fase”, surge um questionamento profundo sobre decisões, relacionamentos, profissão, sentido da vida e qualquer outro aspecto ligado ao gatilho.
  3. Crise: é o palco do conflito e da tensão interna. É aqui que surgem emoções como tristeza, arrependimento, raiva, ansiedade, medo do desconhecido, incerteza, etc.
  4. Exploração: movido por suas reflexões e conflitos, o sujeito passa a buscar novas formas de viver e mudar aquela dimensão de sua vida na qual se sente insatisfeito. Por exemplo, pode participar de novas atividades, sair de relacionamentos, iniciar novos relacionamentos, descobrir outras paixões, etc.
  5. Reconstrução: após abordar novos objetivos, mudar estilos de vida e encontrar o que procurava, a pessoa reconstrói a sua existência, toma decisões alinhadas com os seus novos objetivos ou valores e se adapta a eles.

Esse processo não ocorre de forma linear como parece. Normalmente, essas “fases” estão sobrepostas e conectadas. O adulto pode ir e voltar de uma instância para outra e vivenciar diversas emoções, reflexões e mudanças durante o processo.

Causas da crise dos 40

Os motivos dessa crise são diversos, mas os mais frequentes são a insegurança, o excesso de responsabilidade ou a rotina. Também figuram como motivos ter parceiros conflitantes, perceber erros do passado, tédio ou falta de objetivos claros. Vejamos outras causas.

Morte de um ente querido

Perder uma pessoa amada (familiar, amigo, companheiro) é uma experiência chocante que, na meia-idade, pode levar ao aparecimento da crise da meia-idade. A morte faz a pessoa pensar na própria finitude e no sentido que está dando à sua vida.

Aposentadoria

Aposentar-se é um evento significativo que envolve uma mudança considerável de identidade e rotina. Algumas pessoas não conseguem se ver além do trabalho, então o afastamento pode deixá-las com uma sensação de vazio e ansiedade quanto ao seu novo papel no mundo.

Divórcio

Essa é outra das causas que pode precipitar a crise da meia-idade: separar-se não implica apenas uma mudança de identidade, mas também a alteração de toda uma estrutura familiar, especialmente se houver filhos. O divórcio leva as pessoas a repensarem a vida sem o companheiro e a se depararem com a condição de solteira, depois de tantos anos convivendo com outra pessoa.

Envelhecimento

A mortalidade e o envelhecimento costumam ser um dos principais gatilhos. À medida que o sujeito se aproxima da meia-idade, ele se torna mais consciente do seu processo de envelhecimento e de que “o tempo está se esgotando”. Consequentemente, ele começa a rever sua vida e a questionar o que conquistou até agora.

Mudanças nas responsabilidades

Ao atingirem a meia-idade, tanto homens como mulheres podem enfrentar o desafio de terem de se adaptar a novos papéis que não estavam nos seus planos. Por exemplo, cuidar de pais doentes, habituar-se a um lar sem filhos (síndrome do ninho vazio) e novas dinâmicas familiares, etc. Essas mudanças podem gerar insatisfação e dúvidas sobre o propósito da vida.

Metas não cumpridas

Chegar aos 40 ou 50 anos sem ainda ter realizado os sonhos que tinha quando era jovem pode ser muito decepcionante para muitos. Metas não alcançadas e expectativas não realizadas são fortes gatilhos para essa crise, o que pode levar as pessoas a repensarem o que estão fazendo e a vida que estão vivendo.



Socialização de gênero e a crise dos 40

A socialização baseada no gênero irá desempenhar um papel fundamental na crise, dependendo do contexto, do machismo e do patriarcado de uma sociedade. Assim, as expectativas colocadas sobre homens e mulheres influenciam a forma como interpretam e sentem as suas vidas.

Por tradição, e especialmente em culturas mais patriarcais, os homens foram socializados para a força, o sucesso, a autonomia e a autossuficiência. Na meia-idade, a pressão para demonstrar sucesso nas suas carreiras e na esfera financeira (um símbolo de poder) pode desencadear uma crise, caso tenham falhado nessa tentativa.

Por seu lado, as mulheres criadas em sociedades e famílias muito patriarcais são educadas com foco no cuidado, na maternidade, no serviço e na abnegação. Nesse contexto, uma mulher que introjeta esse modelo poderá vivenciar tal crise caso chegue aos 40 anos sem família.

No entanto, graças à luta pela igualdade de gênero, essas diferenças evoluíram. Portanto, é normal que as mulheres também tenham suas crises porque não estão tendo sucesso na carreira profissional, porque não são autossuficientes ou independentes, etc. Atualmente, a socialização de gênero não explica completamente a crise como acontecia antes.

Os cidadãos têm agora maior margem para personalizar as suas vidas, tornando mais complicado identificar uma causa comum para a crise. Cada um vivencia isso por seus próprios motivos e experiências de vida, pois cada pessoa é autora de sua própria existência e de seus próprios desconfortos.

Quanto tempo dura essa crise?

Não tem duração padrão, mas varia de caso para caso. Portanto, pode durar de alguns meses ou semanas a alguns anos. Tudo depende da pessoa e de como você lida com ela.

Há quem passe pela crise muito rapidamente, pessoas que são capazes de resolver o conflito que a gera e criar novos significados, propósitos e rumos com relativa simplicidade. Enquanto, para outros, o processo é mais lento e demorado, além disso, evitam-no e têm dificuldade em enfrentar o desafio que a crise lhes propõe.

A superação também depende de variáveis contextuais. Por exemplo, se a pessoa receber apoio de familiares e amigos, ou se tiver boa saúde física e mental, poderá se recuperar mais rapidamente. Do mesmo modo, a estabilidade econômica e a disponibilidade de recursos desempenham um papel importante na gestão da crise.

O que fazer diante dessa crise?

É essencial manter uma atitude positiva. Não importa se te fazem perceber que você já é “mais velho”, é bom saber que a idade traz experiência, histórias e conhecimento. Você ainda tem muitos anos pela frente, não vale a pena gastá-los sofrendo.

Não se esqueça de aproveitar. A experiência de ter crescido e passado por muitos problemas deixa você ainda mais interessante e preparado para o que vem a seguir. Você terá maior autocontrole e saberá as consequências de suas ações. Lembre-se de que o melhor momento é o aqui e agora. Abaixo, deixamos outras sugestões.

1. Revise seus objetivos

Como você já sabe, essa crise pode ser consequência do não cumprimento de metas. É necessário, então, que você reserve alguns momentos para avaliar seus objetivos e valores. Faça uma lista de seus objetivos e valores atuais e compare-os com os que você tinha antes. Agora, pergunte-se se os que você possui atualmente realmente refletem o que você deseja e o que é importante para você. Caso contrário, é hora de redefini-los.

2. Proteja sua saúde

O nível de estresse, ansiedade, preocupação ou tristeza que você pode sentir durante esse período afeta sua saúde. Por isso, sugerimos que você mude seus hábitos e faça atividades que melhorem sua saúde física e mental. Exercite-se, medite, durma o suficiente, expresse suas emoções, passe tempo com amigos e familiares, faça terapia, etc.

3. Conecte-se com seus hobbies

Arranje tempo para praticar aqueles hobbies que você deixou de lado. Conecte-se com o que você ainda gosta. Se você parou de gostar de atividades que antes gostava, então é hora de explorar outras. Experimente um novo hobby, como passear, dançar, fazer teatro ou esportes, fazer atividades artísticas…

4. Cuide e cultive seus relacionamentos

Relacionamentos significativos com amigos e familiares são uma fonte inestimável de apoio enquanto você navega nessa crise. Busque refúgio neles e passe bons momentos com eles para fortalecer o vínculo. Organize encontros para conversar, desabafar e pedir conselhos. Deixe-se ajudar e cuidar deles também.

5. Aceite a mudança

Abrace o presente e as mudanças que esse novo momento está trazendo para você. Aceite o que acontece, mas não se resigne; pelo contrário, procure uma forma de melhorar. Pratique a gratidão para não focar tanto no que lhe falta. Escreva sobre o que você está vivenciando e como isso pode ajudar você a crescer como pessoa.

Existe realmente uma crise de meia-idade?

Até aqui conceituamos o termo “crise de meia-idade” com base no conhecimento popular que vem sendo divulgado por meio da mídia, séries e filmes. Mas o que a ciência e a pesquisa dizem sobre isso: será que as pessoas realmente passam por uma crise quando chegam à meia-idade?

A verdade é que as pesquisas não apoiam a existência dessa crise nem a reconhecem como um fenômeno universal. Um estudo publicado na revista Motivation and Emotion indica que apenas 26% das pessoas com mais de 40 anos têm esta crise. Além disso, ela não aparece como consequência da idade, mas de acontecimentos significativos.

Especialistas no desenvolvimento da meia-idade reafirmam que a “crise da meia-idade” pode acontecer em qualquer momento da idade adulta, pois seu gatilho não é a idade, e sim eventos independentes dela como perda de emprego, doença, dificuldades econômicas, entre outros.

Essa famosa crise é mais uma construção social, alimentada pela indústria do entretenimento, do que uma experiência normativa. É importante ter isso em mente, porque, como salientou Margie Lachman em 2015, promovê-la pode levar a uma profecia autorrealizável. Além disso, segundo a pesquisadora, pode servir de desculpa para mau comportamento e gerar diagnósticos errôneos.

A crise: um período de reflexão

Neste artigo, aprendemos que, apesar da falta de suporte empírico, a “crise dos 40” é um termo utilizado para falar de um período de profunda introspecção e reflexão, em que a pessoa questiona diferentes aspectos de sua vida. Além disso, não tem duração fixa nem causas universais.

É preciso aproveitar esse momento como uma oportunidade para crescer e redescobrir o que realmente importa. Graças a essa crise, algumas pessoas têm a possibilidade de enriquecer suas vidas e viver com maior sabedoria. Cada crise marca um antes e um depois que torna a nossa existência mais plena. Basta saber tirar vantagem delas.


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