A culpa que transmitimos aos nossos filhos

A culpa que transmitimos aos nossos filhos

Última atualização: 25 março, 2017

A culpa que transmitimos aos nossos filhos advém, por sua vez, do sentimento de culpa que aprendemos em nossa infância. Deixamos que ele se desenvolvesse em nossa vida adulta sem consciência, até chegarmos a transmiti-lo a nossos filhos, criando assim um ciclo difícil de controlar.

O sentimento de culpa que gera sofrimento e não nos leva a nenhuma solução se constrói, na grande maioria das vezes, através da educação que recebemos, de um conjunto de normas que nos ensinaram e que acatamos com rigidez e, em todas as circunstâncias, da mesma maneira.

A função da culpa em nossas vidas

O que realmente a culpa representa em nossas vidas? Como ela se manifesta? Vamos formando, desde a infância, um código moral que vai sendo construído através das reações dos demais diante de nossos atos. A culpa serve como um sinal que nos indica quando ultrapassamos os limites das normas estabelecidas.

Portanto a culpa, a princípio, se encarrega de fazer com que cumpramos as normas que aprendemos e adquirimos ao longo de nossas vidas, seja de maneira consciente ou não.

Nosso juízo interno se encarrega de nos avisar e, dependendo de sua rigidez, o sentimento de culpa indicará um problema. Isso irá fazer com que nossa culpa aumente, mas se passarmos a ser flexíveis, servirá para nos ajudar a fazer as correções necessárias.

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Como pais, nós estamos imprimindo a culpa em nossos filhos sem nos darmos conta, alimentando um juiz interno rígido que será quem vai atormentá-los na vida adulta. Esse sentimento de culpa é transmitido através de frases como:

  • Você tem que cuidar sempre de seus pais.
  • Preste atenção na autoridade e não questione o que lhe dizem.
  • É necessário que você se comporte bem para ser aceito.
  • Seja responsável, trabalhe, cuide de sua família e sempre esteja disponível a todo momento.
  • Se não está trabalhando nem fazendo nada, você é um vagabundo irresponsável.

São frases que dizem o que eles têm que fazer em todos os momentos, independentemente das circunstâncias, das características pessoais e da motivação de nossos filhos. Além disso, transmitimos de forma implícita que se não cumprirem com esses comandos estarão fazendo as coisas de maneira inadequada e devem se sentir mal por isso.

Essa é a mensagem que chega aos nossos filhos e filhas quando estão em pleno desenvolvimento, aprendendo por meio da observação e através do carinho que recebem.

Educar na responsabilidade, não na culpa

As normais rígidas que vão sendo adquiridas acabam por se tornar obsoletas, não se adaptam às experiências e às vivências que passamos. O juiz interno da culpa se manifesta de forma constante, de modo a fazer com que nos sintamos mal pelo o que poderíamos ter feito e não fizemos, ou pelo o que deveríamos estar fazendo.

Educar na responsabilidade supõe que sejamos conscientes de que não existe aquilo de que alguma coisa vai mal ou vai bem, de que existem consequências para cada ato pelas quais somos responsáveis, fazendo com que nos demos conta de nossa própria experiência, de nossos impulsos, emoções e sentimentos.

Ao nos encarregarmos de nossos atos, nosso juiz interior adquire flexibilidade, adaptando-se assim às nossas necessidades, permitindo que experimentemos para observar e aprender as consequências, sem necessariamente sentirmos culpa quando não estivermos cumprindo com as expectativas dos outros.

“Na vida não há prêmios nem castigos, mas sim consequências.”
-Robert Green Ingersoll-

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Eliminar a nossa culpa para não transmiti-la

Estar atentos para não transmitir culpa aos nossos filhos requer muito esforço, já que de forma inconsciente aprendemos a fazer isso, uma vez que fomos ensinados assim. Por isso, antes de podermos aprender a não imprimir culpa em nossos filhos, temos que parar de nos sentir culpados.

Na idade adulta somos os responsáveis por modificar esse estado no qual nos encontramos alienados pelo sentimento de culpa. Seguimos agindo como as crianças que éramos, buscando o afeto e o carinho através de nossos atos.

Precisamos assumir que já não somos mais crianças e que o afeto, o carinho e o amor não dependem de expectativas, mas sim de nos abrirmos, de maneira honesta, às experiências que surgem devido as decisões que tomamos a cada momento, sendo responsáveis pelas consequências.

Isso implica agirmos com responsabilidade, e não através da culpa. Tudo isso supõe liberdade para decidir, e não exigência e obrigação.

“A mente, por si só, deve libertar-se inteligentemente do desejo de recompensa que gera medo e conformidade. Se tratarmos nossos filhos como uma propriedade pessoal, se nos servirmos deles para dar continuidade a nossos egos mesquinhos e para a realização de nossas ambições, então construiremos um ambiente, uma estrutura social na qual não poderá haver amor, mas apenas a busca de conveniências egoístas.”
-Krishnamurti-


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