O efeito Romeu e Julieta existe?
Romeu e Julieta é uma obra do conhecido dramaturgo Shakespeare que fala sobre um casal apaixonado que luta contra uma série de problemas que os impedem de ficar juntos. Apesar dos seus esforços, os dois acabam se suicidando. Como vemos, é uma grande tragédia. No entanto, esse ímpeto de ficar juntos apesar de tudo e até escolher a morte antes de se separarem é algo que condiciona muitos casais. Isso é chamado de efeito Romeu e Julieta.
O esforço, as dificuldades e a luta são ingredientes que, em vez de fazerem com que os membros de uma relação tomem a decisão de se separar e assim viver em paz, tornam-se o combustível que utilizam para atiçar o fogo da paixão. Eles precisam desses ingredientes para sentir algo pela outra pessoa. Caso eles estejam ausentes, podem acreditar que não estão mais apaixonados. Embora pareça absurdo, isso tem uma razão de ser.
A dopamina presente no efeito Romeu e Julieta
Sabe-se que os hábitos dos casais cujo relacionamento é condicionado pelo efeito Romeu e Julieta são regidos pela dopamina. Este neurotransmissor, conforme destacado no artigo Dopamina: síntese, liberação de receptores no Sistema Nervoso Central, participa da regulação de certas funções, como emoção e afetividade. Quando ocorre uma situação adversa como a vivida por Romeu e Julieta, a dopamina aumenta.
O fato de a família ser contra a união dos apaixonados, de terem que se casar em segredo e depois se separarem à força, gera uma tensão bioquímica que, de alguma forma, é viciante. Todos esses eventos aumentam a produção de dopamina, o que tem uma série de consequências que alimentam ainda mais a paixão entre os amantes:
- Maior oposição às adversidades: os problemas que surgem e que procuram separar o casal permitem que floresçam novas estratégias para enfrentá-los.
- Apego forte: o apego e o sentimento exagerado de querer estar junto aumentam cada vez mais a cada problema que surge e tenta separar o casal.
“Prefiro morrer agora do que prolongar a minha morte se não tiver o seu amor”.
– Romeu e Julieta –
O desencanto no efeito Romeu e Julieta
É claro que, no caso de Romeu e Julieta, o resultado foi terrível. Mas surge uma pergunta para todos nós: o que teria acontecido se essa história continuasse? Eles provavelmente continuariam a lutar contra as constantes tentativas de suas famílias de separá-los. No entanto, caso os impedimentos não existissem mais, é provável que surgisse o desencanto.
Isso acontece com muitos casais que sofrem do efeito Romeu e Julieta. No momento em que os problemas não prejudicam mais o relacionamento, duas coisas podem acontecer: inventam dificuldades gerando discussões absurdas ou rompem o relacionamento porque começam a ficar entediados.
Antes o casal era tudo, captava toda a atenção, mas quando a dopamina não está mais presente, isso muda, como indica o artigo Neurobiologia do amor, fazendo com que eles comecem a se fixar em outras pessoas com quem possam experimentar, de novo, esse aumento da dopamina.
O vício em dopamina
Muitas pessoas são viciadas em dopamina. Elas são incapazes de estar em um relacionamento se não houver problemas, dificuldades e situações extremas que as façam sentir esse aumento hormonal e excitação. Isso é um grande problema, porque elas tendem a acreditar que o amor é isso, luta e esforço constantes.
Além disso, se há circunstâncias em que terceiros tentam separá-los, muito melhor. No entanto, embora isso inicialmente anime o relacionamento, também pode acabar desgastando-o.
“Então o amor se transformou em dúvida: não sobrou nada além de um adeus, um até sempre inesquecível”.
– Anna Bahena –
É bem possível que nós mesmos tenhamos experimentado o efeito Romeu e Julieta ou que o tenhamos visto em outras pessoas. Seja como for, não é saudável estar em um relacionamento assim.
O que deve mover duas pessoas a ficarem juntas não são os problemas, mas a tranquilidade e o bem-estar de criar uma vida equilibrada juntos. E você, já teve relacionamentos que estiveram sob o efeito Romeu e Julieta?
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