Esquizofrenia e distúrbios vasculares do cérebro

Anormalidades na vascularização em certas áreas do cérebro podem estar por detrás do desenvolvimento da esquizofrenia. Esta é uma nova explicação para esta grave doença mental que vale a pena conhecer e considerar.
Esquizofrenia e distúrbios vasculares do cérebro
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 abril, 2023

Viver com esquizofrenia é como viver em um mundo paralelo que muitas vezes é muito ameaçador e caótico. Os sintomas associados a essa doença mental grave e crônica fazem com que a pessoa não consiga, em muitos casos, terminar os estudos ou trabalhar. Sem contar a complexidade em suas relações interpessoais.

Delírios, alucinações, psicoses, perturbações do pensamento, deterioração das emoções, ideação suicida… Sabemos que cerca de 1% sofre deste quadro clínico e que embora os antipsicóticos tenham os seus benefícios, também é necessário combinar o tratamento com terapias psicossociais. No entanto, atualmente, ainda não conhecemos exatamente os mecanismos por trás da esquizofrenia.

Tradicionalmente, as alterações tanto na função quanto na estrutura do cérebro sempre foram consideradas. Por exemplo, são consideradas certas alterações na produção de dopamina. No entanto, apenas algumas semanas atrás, uma investigação da Universidade Federal do Rio de Janeiro nos contou sobre outra teoria interessante. Uma que tem a ver com a vascularização.

A pesquisa descobriu que os pacientes com esquizofrenia apresentam vasos sanguíneos estreitados em várias áreas do cérebro.

Imagem para representar esquizofrenia e distúrbios vasculares do cérebro
A hipótese de que certas alterações nos vasos sanguíneos do cérebro podem estar por trás de vários transtornos mentais é uma hipótese bem conhecida.

Esquizofrenia e distúrbios vasculares do cérebro: um possível nexo causal

A ideia de que certas anormalidades nas estruturas celulares do cérebro estão por trás da esquizofrenia não é nova. Há anos sabemos da importância da correta formação dos neurônios, suas sinapses e seus processos dendríticos para o funcionamento ideal de infinitos processos psicológicos.

O cérebro é como uma pedra preciosa que, desde o nosso nascimento, deve ser devidamente polida e esculpida para mediar a funcionalidade adequada. Além disso, se a formação correta dos nossos neurônios é decisiva, mais ainda a sua vascularização. Ou seja, o correto desenvolvimento dos vasos sanguíneos no tecido cerebral.

Por exemplo, um funcionamento eficiente do córtex cerebral requer uma construção precisa das redes neurais e vasculares. Tanto que qualquer alteração pode mediar o aparecimento de múltiplos problemas de saúde mental. Isso explica a ligação entre esquizofrenia e distúrbios vasculares, um fator que agora entendemos muito melhor.

O desenvolvimento da esquizofrenia pode ser devido a alterações nos astrócitos, um tipo de células neurais que são decisivas para o bom funcionamento e formação do nosso cérebro.

Astrócitos, possíveis gatilhos para esquizofrenia

O estudo realizado na Universidade do Rio de Janeiro e publicado recentemente na revista científica Molecular Psychiatry é mais um elo para a compreensão das bases neurobiológicas dessa grave doença mental. A origem da esquizofrenia pode estar nos astrócitos, um tipo de célula glial.

O que essas pequenas estruturas fazem é manter as células nervosas no lugar e promover seu desenvolvimento adequado. Seu papel no cérebro é imenso e, até recentemente, eles haviam sido completamente negligenciados na neurociência. Hoje, no entanto, eles são conhecidos como os “construtores de rodovias nervosas”.

  • Eles são fundamentais como suporte metabólico dos neurônios.
  • São essenciais nos processos de regeneração cerebral.
  • Favorecem a formação da barreira hematoencefálica.
  • Eles constroem as vias de transmissão de informações no cérebro.

Os astrócitos são aquelas unidades neurovasculares decisivas que conectam os neurônios com o fluxo sanguíneo local, fornecendo-lhes bases metabólicas corretas. No caso de pessoas com esquizofrenia, uma particularidade marcante foi observada.

Os pacientes com esse transtorno mental têm astrócitos disfuncionais que reduzem o fluxo metabólico para diferentes regiões do cérebro. Essa vascularização defeituosa alteraria uma série de processos mentais básicos.

Inflamação celular e a patogênese da esquizofrenia

A esquizofrenia e os distúrbios vasculares do cérebro têm uma ligação direta que começa nos astrócitos. No entanto, a próxima pergunta que podemos nos fazer é: por que esses “construtores de rodovias nervosas” estão perturbados? Os responsáveis por este estudo detectaram algumas possíveis explicações a esse respeito.

Citocinas inflamatórias e diversas disfunções em suas proteínas foram observadas na composição de astrócitos de pessoas com esquizofrenia. Esses elementos inflamatórios afetariam a vascularização cerebral, reduzindo-a e tornando-a patológica.

Os astrócitos também desempenham um papel crítico na resposta imune. A alteração neste tipo de células está por trás de uma vascularização imatura que afetaria muito o córtex cerebral.

Estágio de desenvolvimento do cérebro fetal de um ser humano
Alterações nas células gliais aparecem em muitas doenças neurológicas. Além disso, embora muitas se manifestem na idade adulta, seu desenvolvimento aparece em uma idade muito precoce.

Novos tratamentos serão projetados para o futuro?

A esquizofrenia manifesta-se na idade adulta jovem, entre os 21 e os 30 anos. No entanto, alterações em astrócitos ou células gliais já aparecem no neurodesenvolvimento fetal. Estas disfunções na vascularização cerebral traduzem-se, pouco a pouco, no amadurecimento de um cérebro com anomalias que, a longo prazo, estarão na base de doenças neurológicas como a esquizofrenia.

Estamos diante de um gatilho genético que orquestraria essa ligação entre a esquizofrenia e os distúrbios vasculares do cérebro. Essa malformação precoce do circuito cerebral tem sérios impactos no futuro. Quais são as perspectivas, portanto, de que amanhã possamos ter um tratamento eficaz para essa condição?

No momento, não há nenhum para que possamos efetivamente prevenir ou tratar a esquizofrenia. Continuará a ser uma doença crónica em que os medicamentos para o seu tratamento serão indubitavelmente melhorados. No entanto, há necessidade de focar grande parte da pesquisa no campo neuronal, nessa origem que desencadeia uma das mais graves e tristes doenças que nos assola.


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