Estresse e sistema imunológico: como se relacionam?

Somente em 1981 ocorreu a formalização da disciplina da psiconeuroimunologia. Graças a Robert Ader e seus experimentos, hoje sabemos até que ponto o estresse e o sistema imunológico estão relacionados.
Estresse e sistema imunológico: como se relacionam?
Paula Villasante

Escrito e verificado por a psicóloga Paula Villasante.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

São muitos os autores que se interessaram pela relação entre estresse e sistema imunológico. Como as situações estressantes afetam as defesas do nosso corpo?

O estresse costuma ser associado a um estado patológico. No entanto, o mesmo alude a uma reação do ser humano diante de situações ameaçadoras ou de demanda excessiva. Assim, podem estar a serviço da sobrevivência do indivíduo e da espécie.

A relação entre estresse e sistema imunológico

As constantes mudanças às quais somos submetidos diariamente podem nos afetar muito. As dificuldades financeiras, exigências profissionais e os acontecimentos negativos da vida podem gerar uma desadaptação inadequada por parte do nosso corpo.

Quando estas reações se prolongam no tempo, ocorre uma sobrecarga no organismo, que pode desencadear problemas de saúde. Isso é conhecido como distress.

Por outro lado, quando um indivíduo gera respostas bem controladas e eficazes que lhe permitem uma boa adaptação, isso é chamado de eustress.

Homem estressado

Como o corpo pode responder diante destas demandas? Já mencionamos previamente como ocorre a resposta do estresse. Nela, intervêm diferentes sistemas, em uma relação complexa.

Esta rede é formada pela interação que implica o psiquismo e os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, como algo diferente da soma dos mesmos.

Neste sentido, Ader (2003) explica:

“Agora está claro que a função imunológica é influenciada pela atividade autônoma do sistema nervoso e pela liberação de substâncias neuroendócrinas da hipófise. Por outro lado, as citocinas e hormônios liberados pelo sistema imunológico influenciam processos do sistema nervoso e endócrino. Os peptídeos reguladores e os receptores, confinados no cérebro, são expressados tanto pelos sistemas imunológicos quanto pelo sistema nervoso, e permitem a cada sistema supervisionar e modular as atividades do outro”.

História da psiconeuroimunologia

Foi em 1981 que o cientista Robert Ader apresentou o termo psiconeuroimunologia pela primeira vez. Ele a definiu como a disciplina científica que estuda a interação entre o comportamento, as funções neurais e endócrinas e os processos imunológicos.

Antes desta definição, a concepção clássica do sistema imunológico o considerava como um sistema autorregulado e autônomo de defesa. Nos anos 20, tiveram início as pesquisas na Rússia sobre o condicionamento clássico das respostas imunológicas.

Um pouco mais tarde, nos anos 50, Rasmussen e seus colaboradores formaram a primeira equipe de pesquisa focada no estresse e em doenças infecciosas.

No entanto, somente nos anos 70 John Hadden intuiu a relação entre estresse e sistema imunológico. Especificamente, ele se referiu à associação entre o sistema nervoso simpático e o sistema imunológico.

Os experimentos de Ader

Em 1981, Robert Ader apresentou o primeiro manual e, com ele, o começo da disciplina da psiconeuroimunologia. Seus experimentos com roedores se centraram na aversão gustativa mediante o condicionamento clássico.

Em seus experimentos, realizou uma fase prévia de treinamento, na qual o grupo de controle foi tratado com placebo e o experimental com ciclofosfamida. No primeiro grupo não foi observada nenhuma resposta hormonal, mas o grupo experimental apresentou náuseas e imunossupressão.

Na segunda fase, o cientista administrou sacarina aos dois grupos. Assim, o grupo de controle continuou sem produzir nenhuma resposta anormal, enquanto o grupo experimental apresentou um condicionamento aversivo gustativo e imunossupressão.

Outros autores, como George Solomon, também se introduziram no mundo da psiconeuroimunologia. Especificamente, Solomon estudou a autoimunidade e o bem-estar psicológico. No entanto, diferentemente de Ader, ele não deu prosseguimento aos seus estudos, o que fez com que suas descobertas não se tornassem famosas.

Besedovsky foi outro dos autores que se interessaram pelas relações do sistema imunológico, considerado por ele como um órgão sensorial.

Sistema imunológico

Conceito atual da psiconeuroimunologia

Atualmente, considera-se que a comunicação entre o sistema imunológico e o cérebro é bidirecional. As alterações provocadas no sistema imunológico são um mecanismo explicativo pelo qual os fatores psicossociais influenciam a saúde e a doença.

A nossa espécie está sob constante ameaça de um grande número de agentes patogênicos. Nesse sentido, as tarefas do sistema imunológico são:

Dessa maneira, diante do estresse, o corpo reage com uma resposta que pode ser adaptativa ou não. Ninguém duvida de que o estresse e o sistema imunológico estejam em contato constante, em uma comunicação da qual depende, em grande medida, a nossa qualidade de vida.


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  • Valdés, M., & De Flores, T. (1985). Psicobiología del estrés. Barcelona: Martínez Roca, 2.
  • Ader, R. (2003), «Conditioned immunomodulation: research needs and directions», Brain, Behavior, and
    Immunity, 1, 51-57
  • Ader, R., & Cohen, N. (1981). The influence of conditioning on immune responses. In Psychoneuroimmunology (pp. 611-646).
  • Penfield, W., & Rasmussen, T. (1950). The cerebral cortex of man; a clinical study of localization of function.
  • Hadden, J. W., Hadden, E. M., & Middleton Jr, E. (1970). Lymphocyte blast transformation: I. Demonstration of adrenergic receptors in human peripheral lymphocytes. Cellular immunology, 1(6), 583-595.

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